“Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência”, Fernando
Pessoa.
“A união do São Paulo Underground
com o Starlicker”. Isso já dispensaria quaisquer comentários, mas como gosto de
escrever sobre as músicas que amo, eu vou tentar. Em Skull Sessions, Mazurek ressuscita parcerias recentes de amigos
para formar um grupo forte! Tanta amizade e camaradagem garante a fluência entre
temas e improvisos livres, nas flautas berrando de Nicole Mitchell ou as
melodias claramente brasileiras, abordando o ritmo latino e ruídos
distintíssimos.
E nessa mais de uma hora podem-se
perceber as várias nuances que esse supergrupo de instrumentistas é capaz de
apresentar, como o improviso livre, a fusão de Frank Zappa, ou qualquer elo entre temas livres e improvisados- e
aí se chama ao gramado a nata dos vanguardistas e da música livre; Coltrane, Mingus, Miles Davis- além de,
como citado acima, ritmos latinos e grandes nomes da música instrumental
brasileira; o Quarteto Novo, a psicodelia do Brazilian Octopus e o Sambrasa Trio.
Significa citar tudo isso para
localizar o possível ouvinte dentro da tradição rica que o grupo trabalha; como
músicos de vanguarda (obviamente) descobrir meios de dialogar com essa
história, abusando de sonoridades possíveis. O próprio esforço do conjunto
aponta em direções modernas e extravagâncias improvisadas já esboçadas e
materializadas em outras direções no São Paulo Underground e big bands como o Peter Evans Quintet ou as ambições orquestrais do Fire!, e há aí um contraste que Rob elabora
muito bem; o “minimalismo” entre a primeira e as explosões das outras duas. Os
arranjos têm que se precisamente calculados para fazer essas transições e ainda
reverberar tradições jazzísticas, para depois um ritmo desvirtuado tomar conta
e o caos rolar solto, não podemos nos esquecer das transições lendárias de Pharoah Sanders, que vem se tornando
característica de Rob. Os volumes diferem, aumentam, abaixam; um interlúdio
onírico do vibrafone a qualquer
momento vai ser interrompido por ruídos eletrônicos.
Originalmente adotando tantas
referências na forma de pura liberdade, dialogando com a tradição ainda assim
inovando para caminhos mais radicais, a união de diversos ramos que nos faz lembrar
a mesma árvore matiz. Os membros são amigos, tocam com graça e leveza até certo
ponto, onde parece que profanar determinado tema se torna objetivo para cada
instrumento. É uma equação muito difícil de traçar, mas o importante para o
conjunto de Rob não é lógica, não! São amigos fazendo músicas que gostam e
acreditam.
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