The Voids We All Long For, disco antecessor do Lost Salt Blood Purges , encontrava uma espécie de sintonia
própria. Musicalmente, levando em conta todos os elementos incorporados, é
realmente incrível como aquele disco soa “estável”. Claramente longe de soar
repetitivo, o Purges encontrou uma
cativante mistura de drone, noise, Field recording e até de glitch.
Aqui temos o projeto novamente apostando na sua “sujeira”, mas Only the Youngest Grave tem vida
própria; a transição das faixas está mais natural, os vocais foram reduzidos e os
elementos perturbadores estão acalmados (embora não percam sua agressão) em
função do plano de fundo- o piano que sempre está lá, não importa o que
aconteça.
Em menos de um ano surgir com
outro projeto que exige atenção e que vai soar longo (o disco tem mais de cem
minutos) para a maioria dos ouvintes requer muita coragem. O Purgens ainda está, essencialmente, no
mesmo conceito enquanto opera com os elementos anteriores ampliando alguns
aspectos e reduzindo outros. O projeto descreve um calmo lugar que é
obscurecido por aparições repentinas. A sensação é de obscurecimento em todas
as faixas e embora algumas soem intencionalmente antigas, muitos dos ruídos
estão ligados com a influência pós-industrial do Purges. É uma afirmação clara da busca por tradições diferentes do
senso comum, o que fazem o projeto utilizar desde elementos explícitos de harsh noise, violão acústico dedilhado
até gravações de tribos nativas e trens que se movimentam praticamente tudo no
mesmo instante, em justaposição. E toda essa formulação é divida em duas
partes- Oneiric e Lethean, respectivamente. São músicas que
provam que elementos tão estranhos (tanto na forma de soar quanto na forma de
produção) podem sim convergir para o mesmo conceito. Isso é provado em vários
momentos do disco; flautas, sons mecânicos e variações que lembram o jazz livre
contemporâneo, coexistindo de forma obscura, quase palpável embora seu clima
fúnebre. Deve-se acreditar nessas sonoridades porque o disco, uma vez explorado
e se deixado levar por essa ambição, realmente nos conduz para coisas
maravilhosas. Algumas outras coisas, no entanto, soam não apenas repetitivas
(não tenho nenhum problema com isso), mas estáticas, e não tem nem o efeito intransponível
de algumas das saturações, nem a capacidade de alguma modificação. Felizmente,
isso acontece bem pouco e é relativamente normal para um lançamento tão longo.
Esse lançamento do Purges soa como uma trilha sonora distante
que é capaz de evocar uma sensação fria durante toda a audição. A maneira que
seu criador elabora planos detalhadíssimos sem cair em dramas fáceis pode
dificultar um pouco o acesso para quem não gosta muito desses subgêneros. Como o
disco passado, se trata de uma experiência sobre a solidão e a contemplação.
Então, se você tem certa inclinação a esses estados, não deixe que toda a “dureza”
inicial do álbum exclua a possibilidade de você ouvir tudo. Only the Youngest Grave foi elaborado
muito cuidadosamente para primeiras impressões tão imediatistas renegarem tudo
o que o álbum lentamente constrói. De alguma forma, eu acho muito difícil as
pessoas não conseguirem sentir-se conectadas com nenhuma de suas facetas.
Enquanto o desconhecido pode nos tomar,as maravilhas das incertezas e das
fragilidades vão sendo construídas.
A composição paciente de Only the Youngest Grave lembra o seu
ótimo antecessor, mas em sua última faixa temos uma espécie de reconexão com o
mundo real que não havia em The Voids.
Um processo árduo, acima de tudo (tanto para ouvinte quanto para compositor)
que vai moldando formas e nos dando liberdade o suficiente para compartilharmos
nossas experiências e memórias. Tudo que flutua em nossa mente e que
constantemente nos esquecemos.