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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Lost Salt Blood Purges - Only the Youngest Grave

The Voids We All Long For, disco antecessor do Lost Salt Blood Purges , encontrava uma espécie de sintonia própria. Musicalmente, levando em conta todos os elementos incorporados, é realmente incrível como aquele disco soa “estável”. Claramente longe de soar repetitivo, o Purges encontrou uma cativante mistura de drone, noise, Field recording e até de glitch. Aqui temos o projeto novamente apostando na sua “sujeira”, mas Only the Youngest Grave tem vida própria; a transição das faixas está mais natural, os vocais foram reduzidos e os elementos perturbadores estão acalmados (embora não percam sua agressão) em função do plano de fundo- o piano que sempre está lá, não importa o que aconteça.

Em menos de um ano surgir com outro projeto que exige atenção e que vai soar longo (o disco tem mais de cem minutos) para a maioria dos ouvintes requer muita coragem. O Purgens ainda está, essencialmente, no mesmo conceito enquanto opera com os elementos anteriores ampliando alguns aspectos e reduzindo outros. O projeto descreve um calmo lugar que é obscurecido por aparições repentinas. A sensação é de obscurecimento em todas as faixas e embora algumas soem intencionalmente antigas, muitos dos ruídos estão ligados com a influência pós-industrial do Purges. É uma afirmação clara da busca por tradições diferentes do senso comum, o que fazem o projeto utilizar desde elementos explícitos de harsh noise, violão acústico dedilhado até gravações de tribos nativas e trens que se movimentam praticamente tudo no mesmo instante, em justaposição. E toda essa formulação é divida em duas partes- Oneiric e Lethean, respectivamente. São músicas que provam que elementos tão estranhos (tanto na forma de soar quanto na forma de produção) podem sim convergir para o mesmo conceito. Isso é provado em vários momentos do disco; flautas, sons mecânicos e variações que lembram o jazz livre contemporâneo, coexistindo de forma obscura, quase palpável embora seu clima fúnebre. Deve-se acreditar nessas sonoridades porque o disco, uma vez explorado e se deixado levar por essa ambição, realmente nos conduz para coisas maravilhosas. Algumas outras coisas, no entanto, soam não apenas repetitivas (não tenho nenhum problema com isso), mas estáticas, e não tem nem o efeito intransponível de algumas das saturações, nem a capacidade de alguma modificação. Felizmente, isso acontece bem pouco e é relativamente normal para um lançamento tão longo.

Esse lançamento do Purges soa como uma trilha sonora distante que é capaz de evocar uma sensação fria durante toda a audição. A maneira que seu criador elabora planos detalhadíssimos sem cair em dramas fáceis pode dificultar um pouco o acesso para quem não gosta muito desses subgêneros. Como o disco passado, se trata de uma experiência sobre a solidão e a contemplação. Então, se você tem certa inclinação a esses estados, não deixe que toda a “dureza” inicial do álbum exclua a possibilidade de você ouvir tudo. Only the Youngest Grave foi elaborado muito cuidadosamente para primeiras impressões tão imediatistas renegarem tudo o que o álbum lentamente constrói. De alguma forma, eu acho muito difícil as pessoas não conseguirem sentir-se conectadas com nenhuma de suas facetas. Enquanto o desconhecido pode nos tomar,as maravilhas das incertezas e das fragilidades vão sendo construídas.


A composição paciente de Only the Youngest Grave lembra o seu ótimo antecessor, mas em sua última faixa temos uma espécie de reconexão com o mundo real que não havia em The Voids. Um processo árduo, acima de tudo (tanto para ouvinte quanto para compositor) que vai moldando formas e nos dando liberdade o suficiente para compartilharmos nossas experiências e memórias. Tudo que flutua em nossa mente e que constantemente nos esquecemos.