Primeiro Swanton, depois Abrahams trabalha desacompanhado, o primeiro se preocupando com uma linha que não ficaria deslocada em uma gravação do Miles Daves no começo dos anos 70, o segundo explorando texturas que Steve Reich favoreceu em sua primeira gravação para a ECM. Quando Buck vem e eles tocam como um conjunto, sua guitarra figura encontrando um link escondido entre o Reich e o The Feelies. Esse é um chão que dificilmente você esperaria que o The Necks cobririam, o que só torna a peça mais intrigante. Ainda assim, alguém pergunta se sua vontade de bagunçar os sinais da fórmula cresceu ou se eles só estão tirando sarro de quem quer analisá-los logicamente. O piano torto nos lembra, é livre improviso, porra!
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sábado, 31 de agosto de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Masayuki Takayanagi- Eclipse (1975)
A banda faz meandro do seu caminho lentamente através do processo, gerando um conjunto respeitável de sons densos. Percussão ruidosa, sax guindando e gritando, e muito mais submerso em toda superfície! Uma hora de agitação densa, preenchida com emissões tensas de guitarra, saxofone retumbante, e uma sessão rítmica em movimento constante. Alguns podem considerar isso apenas barulho, e em 1975 com certeza foi rotulado dessa maneira. Mas em 1975 ainda estávamos na Ditadura Militar, certo?
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Taj Mahal Travellers- August 1974 [1975]
August 1974 é música ambiente par excellence. Claro, com cada faixa durando em torno de vinte minutos, é um compromisso atravessar todo o caminho, e eu nem sonharia em recomendar isso a alguém quem já não foi introduzido a esse tipo de coisa. Mas que deleite se torna se você é! A música te levará para outros mundos, simultaneamente antigos e futuristas. O mundo sonoro que o Taj Mahal Travellers cria permanece tão profundo, surpreendente e transcendente quase 40 anos depois como quando foi criado, aparentemente de lugar algum. Então faça um favor a si mesmo e pegue uma carona com o Travellers. Não se arrependerá.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Supersilent- 6 [2003]
O lançamento mais acessível e consistente dos reis do avant-garde norueguês!
Em última análise, o maior talento do Supersilent reside na habilidade de criar momentos de beleza intensa, independentemente do fato de ser denso ou esparso. Com lindos ainda enervantes vocais em falsete sem palavras por cima do esparso piano tilintando. 6 é, simplesmente, um lançamento difícil e denso ainda assim consistente de um dos grupos avant-garde com maior visão do futuro que ainda existem. Fãs de jazz, post-rock, electronica e música experimental deveriam ouvir esse álbum mais de uma vez para captar suas texturas intensas, densas e bonitas, e ouvir muitas vezes até descobrir o desdobramento da riqueza que produz algo novo a cada ouvida consecutiva.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Propagandhi- Potemkin City Limits [2005]
Com um vácuo de quatro anos entre
Potemkin City Limits e seu
predecessor Today’s Empires, Tomorrow’s
Ashes, a maioria dos fãs de Propagandhi,
como eu, está acostumada a esperar longo período entre os lançamentos dos
álbuns. Mas como qualquer fã também sabe, o Propagandhi
é uma daquelas bandas que é qualidade instantânea em qualquer lançamento.
Muitas poucas bandas conseguem se reinventar durante suas carreiras; Propagandhi faz isso a cada álbum! Do punk melódico dos álbuns de 1993 e 1996
para a obra-prima thrash/punk Todays Empires, e em 2005 com Potemkin City Limits, Propagandhi continua a impressionar com
seu som diverso, técnica fantástica, e letras puramente geniais.
Se você não tem consciência
disso, Propagandhi é claramente uma
banda de esquerda, anarquista, anticapitalista, pro-gay, pro-vegan,pró
feminista,pró direito dos animais, etc... Acho que deu pra ver a figura. Se
você é sensível quando o assunto é política, ou acredita por um segundo nas
histórias que a mídia nos fornece, ou acredita no Presidente, ou é patriota,
você vai achar o Propagandhi a banda
mais ofensiva que já ouviu. É uma coisa muito mais profunda do que as boas
intenções de um RATM ou System Of A Down, para propósitos comparativos. Esses
loucos têm suas opiniões bem claras, e não tem medo de musicá-las com o som
mais único que existe por aí.
Potemkin combina as quebradas thrash/progressivas
e as estruturas abstratas das canções do TETA com um som hardcore punk mais franco que é reminiscente do trabalho da banda
em meados da década de 90. Embora não seja tão furioso e direto e a guitarra
menos pesada do que em TETA, as canções do PCL são longas (em termos punks),
envolventes, e complexas, combinando tempos de quebrar a nuca com jams livres, trabalho de guitarra,
incríveis linhas de baixo, bateria inspiradora, e, em geral, musicalidade
sublime. Eu sei que pode soar exagero, mas você provavelmente não vai ouvir
bandas thrash/punk que tocam tão bem
como o Propagandhi. O fato de que
Chris toca inversões/progressões rítmicas tão difíceis ENQUANTO canta suas
polêmicas com uma voz triste e nervosa com longas notas é realmente uma
façanha!
No álbum, Potemkin apresenta seu negócio logo na primeira faixa, furiosa, tão
intensa quanto o inferno, completada com riffs
de revolta que não devem nada para um Tom
Morello, riffs que dirigem a um curto-circuito! A banda não perde a mão em
alinhar estruturas gramaticais carregadas e complexas enquanto abusam de
xingamentos dedicados à meio mundo com vários “fuck”.
Outra faixa interessante de tirar
o chapéu para o caminho típico do Propagandhi
é a orientada por groove, progressiva, cantada por Todd (cantada e não berrada
como ele fazia até então) é Cut Into The
Earth. Quase falada às vezes, Todd prova ser um cantor tão capaz quanto
Chris, e com muito mais frequência do que no TETA, se intensifica como frontman em outras faixas como Bringer Of Greater Things, um punk meio
tempo com riffs extremamente
cativantes e ritmo sublime, assim como Life
At Disconnect. Suas linhas de baixo melhoraram tremendamente, que já eram
ótimas em Empires. As faixas que
seguem o mesmo rumo do Empires- “Impending
Halfhead" e"Superbowl Patriot XXXVI"- permanecem aqui, e é o
que mais lembra o obra-prima de 2001 do Propagandhi.
A maioria do álbum em geral é mais lenta e experimental- o que é um testamento
de sua versatilidade, como as canções meio tempo são excepcionalmente criadas!
Dissecando todo o movimento PunkVoter/Rock Against Bush assim como a
Vans Warped
Tour e suas práticas de negócios, Chris habilmente chama atenção ao aperto de
mãos entre Fat Mike com John Kerry
(retratado acima da letra no livreto que acompanha o lançamento físico em LP ou
CD) como um ponto vocal para bater contra o sua vontade de eleger o “menor dos
dois males” substituindo Bush por um democrata que na realidade não era muito
diferente, se não igual, ao Bush assassino exterminador do Oriente Médio e da
América Central!
A linha hipócrita de Fat Mike “When Did Punk Rock Become so Safe?”
do The War On Errorism, fica
emprestada aqui com um comentário pungente e fulminante diretamente no seu
chefe (a gravadora do Fat Mike lançou
os três primeiros discos do Propagandhi):
“Bem, você vai me desculpar se eu rir na sua face enquanto eu relaciono suas
receitas/ e faço uma planilha dos seus balanços”. E que a verdade seja dita, é
muito difícil não aceitar a influência do NOFX tanto em produção de bandas que
viriam a se tornar grandes hits quanto sua participação em festivais como o
asqueroso Warped Tour.
As guitarras caem quase
inaudíveis sobre a batida punk, levando a um riff/verso de som épico! Cheio de movimentos diferentes e seções de
“ponte”, bem como uma sonoridade verdadeiramente grandiosa (compara-se com o
solo obrigatório de Purina Hall Of Fame)
que inaugura um novo clássico para bandas do tipo.
Resumindo, Potemkin City Limits expande o som já diverso do Propagandhi com faixas mais meio tempo e
experimentais. Todd realmente intensificou sua presença na banda, atingindo a
importância do Chris e do Jordan para realmente completar o derradeiro time de
vocais/composição no punk rock. Propagandhi
obteve êxito onde o TETA vacilou ligeiramente- no ano de lançamento, se
caracterizou como álbum mais forte do Propagandhi
em termos de musicalidade, juntando o som da velha escola com as novas
tendências metais progressivas do Propa.
A cada cinco anos, uma obra-prima. Coisa pra poucos.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
The Verve- The Verve EP [1992]
Prévio ao disco cheio de estreia, A Storm in Heaven,os pops alternativos psicodélicos do The Verve publicaram um EP autointitulado. Nenhuma dessas canções apareceria em qualquer um dos álbuns deles (apesar da versão ao vivo prolongada de "Gravity Grave," que pode ser encontrada na compilação No Come Down) e eles mostraram que a banda era capaz de grandeza em sua fase de formação. Embora o rock não seja tão "pesado" quanto os outros lançamentos seriam (como o excelente A Northern Soul, de 1995), o The Verve EP obteve êxito com um pop etéreo e desarmado, que é frequentemente obcecado e bonito! Vale a pena para qualquer fã do Verve, não importa de qual fase.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
BT- This Binary Universe [2006]
Talvez esse crítico tem dado, ao This Binary Universe, e em última análise ao BT em si, crédito demais. Talvez isso não seja tão inovador e revolucionário como eu tenho pensado. Afinal das contas, o neo-clássico/eletrônico já foi feito antes, com um sucesso muito maior que este. No entanto, isso não é um simples músico tocando para seus fãs, nem é um homem tentando tão desesperadoramente provar algo, mais do que isso, esse é o som do artista tocando para si mesmo. Esse é o BT mais profundo, algo nunca visto antes, e algo provavelmente que nunca será visto novamente! Talvez isso foi uma faísca, um fogo de inspiração que deu nascimento ao This Binary Universe. Independente do que tenha sido, é um álbum para quem abraça sua ideia sonhadora, envolvente paisagem sonora, e que nunca será esquecido por adeptos de música eletrônica.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Wilco- Being There [1996]
Wilco não fez nada de errado na
obra-prima que é esse disco duplo.
Uncle Tupelo era uma baita banda, mas na época que o Wilco fez o Being There, a nova banda de Jeff Tweedy realmente não tinha muita coisa
em comum com a velha. Comparado com Being
There, uma obra-prima de 77 minutos que persiste em segurar a coroa como o
melhor trabalho do Wilco até hoje, o simples alt-country do Uncle Tupelo
parece uma mistura muito velha. Poxa, até o trabalho anterior do Wilco, o leve A.M,
parece entediante quando comparado a isso; é seguro dizer que Being There marca a completa transição
do Wilco para os compositores de primeira linha. Misturando elementos
psicodélicos e adicionando uma ligeira inclinação experimental nas canções, Being There é um épico vasto que vale a
pena sua mais de uma hora de duração.
Being There é sempre excelente de ouvir, certamente não se submete
a um gênero musical específico: músicas variam de épico turbulento barulhento
para country agradável ou rock otimista. E é tudo bom! Alguns opositores diriam
que tanta variedade resultaria em uma bagunça confusa, mas não acontece com Being There; a sensação de tudo estar
compacto e a justaposição da localização de algumas canções fazem Being There mais interessante e imprevisível.
Entretanto, considere
“imprevisível” levemente: você não vai encontrar ruídos de 17 minutos ou Jeff Tweedy cantando rap em Being There. Mas esse álbum aponta o
Wilco tentando verdadeiramente coisas novas pela primeira vez. As canções
transitam entre a introdução chocante bêbada e triste em um piano aos fins
barulhentos quase psicodélicos, onde Tweedy
canta/grita “Eu gostaria de agradecer a vocês todos/ Por nada/ Realmente nada”;
lutando para ser ouvido acima do barulho; acredite, nesse momento seu cabelo
vai ficar de pé.
Algumas canções, com refrão
irresistível, evitam a harmonia com finais dinamicamente monstruosos. De novo,
entretanto, considere “monstruoso” levemente; o que não implica em afirmar que Being There é melhor que 99% das músicas
que entopem as rádios. O comprimento e alcance de Being There são positivos; há tanta coisa boa aqui que ouvidas
repetidas ficam encorajadas e possivelmente essenciais para desfrutar
plenamente de tal monstruosidade! Cada vez que você ouvir Being There encontrará algo de novo para mastigar; desenterrando um
novo momento favorito.
Wilco sempre esteve em seu melhor
quando puxa as cordas do seu coração e enfatiza seus problemas, e isto é
verdade em Being There ! A voz de Tweedy racha em emoção quando o coro do
refrão entra.
Felizmente, Being There não é só coração partido e tempos lentos. Essas
canções são para cantar junto e são melhores apreciadas quando se está
completamente embriagado, e as guitarras desleixadas tocando e o vocal
irreverente sugere que os músicos ficaram bêbados para gravar toda a festa! Com
riffs que caberia tranquilamente em Exile on Main Street, e as letras de Tweedy, se preocupando com vagabundos
petrificados e perdedores cansados, poderiam facilmente ter saído da caneta do
Jagger.
Não é roqueiro no sentido
tradicional, principalmente devido à ausência de riffs massivos ou qualquer instrumento elétrico. Com certeza você
vai sentir alguma fadiga fantasma quando os 77 minutos de Being There finalmente passarem, principalmente devido à alta
qualidade do material e a forma rápida que você é atingindo com ele, em uma
cadeira de balanço despreocupado (fumando charuto e tomando uísque), algo para
você relaxar, a maneira perfeita de aliviar a tensão fatigada!
Yankee Hotel Foxtrot é frequentemente (e erroneamente) citado como
o principal trabalho do Wilco, uma obra-prima experimental de alturas tão grandes
que nunca poderá ser refeita. Being There
não é nem de perto tão inovador quanto aquele álbum, na verdade, não é de forma
alguma inovador; pode-se até se dizer que o álbum com marca experimental de
country alternativo é banalmente comparado com as coisas posteriores da banda,
o que pode vir a ser totalmente verdade. No entanto, deixando pra lá o quão “inovador”
Being There é ou deixa de ser, não há
como negar que as canções são malditas de boas. Por 77 minutos, Wilco apenas
bota para fora ótima canção após canção, fazendo absolutamente nada de errado
em 19 faixas; se são canções perfeitas que fazem de um álbum perfeito, Being There está cheio delas. Esteja preparado
para se apaixonar pelo rock and roll
novamente!
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
American Football- American Football EP [1998]
O EP de estreia do American Football é curto e cheio de
guitarras brilhantes e letras pungentes.
O som que vem dos amplificadores
do American Football é tão bom quanto
limpo. O jeito de tocar é técnico, mas de uma maneira muito sutil; tudo flui
como um líquido. A voz e as letras do vocalista Mike Kinsella estão como costumam ser; sutilmente brilhantes.
Primeiramente, sua voz soa como um instrumento, as letras são quase um adendo,
que são entregues de uma maneira que você realmente tem que prestar muita
atenção para compreender todas as linhas. Ele canta em um tom que dá arrepios
na coluna vertebral!
American Football fica fora da zona de conforto, depois de um tempo
tudo se mistura de uma maneira muito relaxante, e você se encontra apreciando a
música cada vez mais. Mas, se conhece empiricamente as palavras do Kinsella (como, sem modéstia, é meu
caso!); você descobre realmente o quão brilhante e mordaz o American Fotball foi. Esse EP é
realmente curto, três faixas em menos de 12 minutos, mas vale muito a pena.
Essas canções não são iguais, mas elas facilmente se encaixariam no mesmo
disco. E que disco seria.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Muddy Waters- His Best: 1947 to 1955 [1997]
A primeira peça essencial na construção da coleção do Muddy Waters. Com vinte boas canções abordo em seu primeiro período de criatividade. Um som radicalmente diferente de tudo na época, com a maneira aparentemente desleixada que não deixa de ser cuidadosa ao, por exemplo, incluir um som de harpa, coisas que o Grande Waters complementava com seus solos extra-sensitivos, mas com os vocais sendo mais intensos que tudo! Essa coleção (parte de uma retrospectiva de dois volumes, a segunda cobrindo os anos de 1956 à 1964) apresenta um som muito superior e para quem tem a versão física (como o bobo que vos digita), uma excelente encarte.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Nickel Creek- Nickel Creek [2000]
Poucos artistas oferecerão a história de um farol, cantada na primeira pessoa, mas o Nickel Creek tem um dom para o inusitado. Produzido por Alison Krauss, apresenta uma coleção eclética de material, original e emprestado. O grupo e o álbum, ambos emocionam!
domingo, 18 de agosto de 2013
Pedro Almodóvar- Os Amantes Passageiros [2013]
Desde que a vida em si pode ser vista como um voo para lugar nenhum
terminando com uma colisão, a nova comédia de Pedro Almodóvar "Os Amantes
Passageiros"- cuja qual a equipe e passageiros de um voo comercial
aprendem, logo após sair de Madrid, quando o avião enfrenta um potencial
desastre- peça para grandes tomadas metafóricas, e que, na maioria do tempo,
cumpre o desafio. O filme- ou, melhor, Almodóvar- borbulha ideias, começando
com a cena de abertura, estrelando as duas grandes estrelas, Penélope Cruz e Antônio
Bandeiras, numa sequência hilária diegética
com os clichês cômicos modernos, que surpreendentemente, terá um impacto substancial
nos eventos que ocorrerão no ar.
O filme é rico de simbolismo e vitalidade cômica centrado no trio de aeromoças,
homens gays quem contrastam com a postura sóbria do piloto e copiloto, com quem
dois deles estão tendo um caso. Para começar, a diversão toma lugar na frente
do avião- a cabine de controle e a classe executiva- porque os passageiros da
classe econômica foram "forçados" a dormir para próprio conforto. E
quando as palavras saem causando confusão na classe executiva- incluindo uma dominatrix famosa, um banqueiro falido,
um agente de segurança misterioso, uma clarividente virgem, e um ator famoso- a
proximidade da morte (mais drogas com coquetel) atua como a sirene da verdade,
despejando um raio de segredos e desejos.
Almodóvar claramente tem muito em mente, e preenche isso com claridade e
vigor. A troca de passageiros da classe econômica que dormem enquanto a classe
executiva sugere caridosamente que sexo é um luxo crucial, um dos maiores
provedores de dinheiro e poder. Seu cinismo hedonístico
de olhos abertos é sublime, como a desconstrução da prostituição como um
serviço inquestionável e crucial para homens poderosos e ricos; em uma
contemplação pessoal que a dominatrix
encontra sua profissão B; na ironia de um aeroporto vazio, feito de
investimentos de um financiador dúbio; no álcool e drogas e o mal maior
distante crescente surgindo de sua repressão.
Acima de tudo, a maneira que ele retrata as três aeromoças masculinas,
com seus pulsos batendo e maneirismos teatrais, afirma que há alguma coisa como
uma cultura gay, uma estética que surge da (mas que não é reduzida à)
homossexualidade- e que essa cultura é absolutamente central para nossa ideia
de cultura como tal e um solvente universal de liberação sexual (e, por conseguinte,
a libertação como tal). Os três comissários de bordo não são em si ricos ou
poderosos, mas eles são coadjuvantes constantes e cruciais da cena de poder. Ao
vincular sexo e poder, é como se Almodóvar estivesse revestindo causa e efeito-
sugerindo que o espírito do excesso é também o espírito do empreendimento, que
caminha para prazer, sucesso, e poder são unidos inextricavelmente.
É apto falar de Os Amantes Passageiros em uma época crucial de
transformação dos valores, em que fundamentalistas religiosos reacionários
insistem na profusão de seus estereótipos pré-concebidos em um estado
oficialmente laico. Sexo não é mais privilégio de poder político no Brasil;
aqui, os altos cargos estão sob o domínio principalmente de fiéis monogâmicos.
Nações Europeias ainda tendem a deixar as vidas privadas de figuras públicas
fora da equação (e fora do noticiário), e talvez seja o porquê de Almodóvar-
mesmo que ele enfatize vidas luxuriosas e prazeres privilegiados- também chamar
a atenção para a trilha que as vítimas deixam no chão após alçar voo.
Ele faz na sequência mais bela e surpreendente do filme, localizada em
Madrid, que é construída de uma conversa telefone entre o ator famoso e sua
mulher desiludida, quem está em uma situação desesperada que é muito suculenta
para eu contar o que ocorre e estragar, e que resulta em uma coincidência
incrível que faz um dos momentos mais inspirados de todos os filmes nesse ano.
A sequência é tão clara em seu pathos,
pois é efervescente na sua comédia, escurecendo a busca do prazer com a sombra
da tragédia, e culmina na viúva cautelosa o arrebatamento paralelamente oposto
ao prazer insaciado dos passageiros. É que os passageiros já estão despidos das
preocupações mundanas enquanto na terra as pessoas ainda vivem seus problemas
demasiadamente concretos e objetivos (ou simplesmente inventados e encarados
como problemas)!
Primeiramente, eu suspeitei que Almodóvar estivesse tão envolto nas
ideias do filme que não havia restado muita energia- ou não sentiu a
necessidade de se devotar muito- à filmagem. Para toda a exibição do filme do
grande gesto romântico na face do desastre iminente, sua filmagem raramente se
sentia imediata, dando a sensação de um teste de atuação ante a um diretor que
planeja realizar uma obra pertinente. O filme oferece, de passagem, alguns
momentos estilizados cheios de alegria- como a coreografia sincronizada (diegética com os clichês de comédia
modernos) dos comissários de bordo durante as demonstrações de segurança, o
fascínio da tela da cabine de controle e luzes da pista, o brilho de uma
fuselagem, e vários exuberantes ângulos inclinados- mas eles são todos
demasiadamente breves e subdesenvolvidos, como decorações alinhadas que parecem
incidentais para a ação. Não é que o filme seja demasiadamente estilizado, sua
estilização é insuficiente.
Em meio à sessão, eu me encontrei sentindo falta do cinismo simbólico do
Claude Chabrol em A Comédia do Poder, outra história sobre poder e sexo, muito
menos do que os filmes de Rainer Werner Fassbinder, com seu entendimento cruel
de sexo enquanto poder. Mas, em última análise, Almodóvar é um cineasta muito
mais moralista (não na concepção fundamentalista) do que qualquer um destes; se
Fassbinder e Chabrol oferecem estilos de cinema unificados, radicais e
aperfeiçoados, é, em parte, em função que o seu sentido de dor e prazer é
totalmente separado do seu senso de justiça. Almodóvar não deixar seu cinismo
ir muito longe (ele ainda acredita numa espécie de transcendência dos
prazeres), seus filmes exaltam o calor e a civilidade mundana, mas para pegar emprestada
uma frase de Jean Cocteau em Orfeu, ele sabe o quão longe ir muito longe. Em A
Pele Que Habito, a abrangência do seu tema parece escapar, para depois
recuperar o controle no tiro final do filme, ele deixa a protagonista escapar
da prisão, da enfermidade. Aqui, ele permanece no controle e fica do lado de
uma decência humanista defensiva, o que é admirável para a república, mas
frequentemente contrasta com estéticas, as quais arrancam teorias extremas de
experiência e possibilidade (i)moral.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Heidegger E o Nazismo
Martin Heidegger (1889-1976) permanece como um dos filósofos mais
influentes do século XX,inspirando Jean Paul Sartre e Jacques Derrida, junto
com muitos outros. Heidegger também foi membro durante muito tempo do Partido
Nazista.
Depois da segunda guerra mundial, Heidegger equiparou o assassinato de
seis milhões de Judeus com a crueldade do holocausto que destruiu seres humanos
confinados em condições miseráveis.
O filósofo também comparou o Holocausto realizado por humanos com desastres
naturais (como os que têm ocorrido constantemente na China que matam milhões),
negando o potencial destrutivo antrópico das famosas bombas de gás:
“A agricultura agora é uma indústria de comida motorizada-
essencialmente, ocorre o mesmo com a manufatura de cadáveres em câmaras de gás
e campos de exterminação, o mesmo com nações miseráveis em que pessoas passam
fome...”.
Heidegger foi correto ao citar o sofrimento esquecido dos cidadãos
alemães depois de ambas as guerras mundiais. Após a Primeira Guerra Mundial, os
aliados vitoriosos e rancorosos bloquearam a Alemanha.
O bloqueio naval causou fome em grande escala e morte até que a nação
dos derrotados concordou com os termos humilhantes do Tratado de Versailles
(1919) que impôs condições econômicas desastrosas que ajudaram a trazer Adolf
Hitler ao poder.
Por três anos consecutivos após a Primeira Guerra Mundial, o povo alemão
foi sustentado com rações próximas da miséria pelos aliados Ocidentais. Em 1948
e 1949, a União Soviética tentou destruir a Berlim Ocidental fechando e
bloqueando todas as entradas da Alemanha Ocidental.
Não foi preciso que outras pessoas condenassem Heidegger por sua
colaboração intelectual no Partido Nazista. Suas próprias palavras revelam que
este era muito mais do que um mero "Maria vai com as outras do
Nazismo".
Heidegger se juntou ao Partido Nazista em maio de 1933, cinco meses após
Hitler ter ascendido ao poder. No livro Hitler's
Philosophers (sem tradução para português), Yvonne Sherratt nota que similar ao que história significa para o Reino
Unido e a lei para os Estados Unidos, filosofia é para Alemanha, um tópico de
debate e interesse popular, não de domínio exclusivo dos acadêmicos.
O Fuehrer patrocinou filósofos
eminentes como Heidegger e teóricos raciais como Alfred Rosenberg, quem foi
preso em Nuremberg em 1946 por crimes de guerra.
Mas mesmo os filósofos dúbios como Rosenberg acharam os escritos de Heidegger
intelectualmente cômicos. Hoje, os filósofos da corrente principal concedem que
o trabalho de Heidegger seja "notoriamente difícil", e o filósofo
concordaria uma vez que escreveu, "Fazer a si mesmo inteligível é suicídio
para a filosofia".
Possivelmente sua afirmação pública menos famosa durante o Terceiro
Reich reflete a constatação de seus trabalhos como incompreensível ou cômico-
em um sentido que desafia o mais ridículo humor negro.
Durante uma palestra em 1935, na Universidade de Freiburg onde ele
serviu como reitor, Heidegger falou do “ser verdadeiro e grandioso"
do Nazismo, “nomeando, o confronto da tecnologia planetária e a humanidade
moderna". Hein? Durante outra palestra em Freiburg em 1942, ele disse que
o Nazismo representava o ápice intelectual da Grécia Antiga, Sócrates,
Platão... E Alfred Rosenberg.
O contexto de Heidegger pode explicar porque ele abraçou a ideologia
Nazi reacionária. Seu pai, membro severo da Igreja Católica, apoiou a doutrina
papal de 1880 que alienou Católicos moderados na Alemanha e mais outros lugares
para estender o catolicismo ultraconservador.
Como Hitler, Heidegger se beneficiou do patriarcado e caridade dos
Judeus. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, na época que Hitler vivia em Viena
como um vagabundo desabrigado, ele frequentemente encontrava abrigo em casas
apoiadas por Judeus filantropos. Heidegger deve sua carreira a um colega judeu.
Edmund Husserl, um professor Judeu-Alemão de filosofia em Freiburg,
ficou entusiasmado com o trabalho de Heidegger no começo de 1917. Depois que
Husserl se aposentou, ele recomendou seu protegido para substituí-lo como
reitor em Freiburg.
No começo de Abril de 1933, todos profissionais Judeus, incluindo
professores de universidades, foram demitidos. Os acadêmicos Judeus
aposentados, incluindo Husserl, perderam suas pensões. Numa mostra sem piedade
que se tornaria letal, o Regime Nazista negou o acesso de Husserl à biblioteca
na Universidade de Freiburg depois que este se aposentou.
Apesar de tudo, no fim de Abril, Heidegger se tornou reitor de Freiburg.
Ele não defendeu seu mentor humilhado, alegando depois da guerra que eles
tinham grandes discordâncias a cerca de assuntos filosóficos.
Antes de se tornar um político com expediente, Heidegger não havia dado
impressões antissemitas. Duas de suas amantes e estudantes, Hannah Arendt e
Elisabeth Blochmann, foram judias.
Ele ajudou Bloachmann a escapar da
Alemanha Nazista!
Arendt escapou sem a ajuda de Heidegger, mas se tornou uma de suas
maiores apologistas, com exceção do veredito sobre o tratamento do seu ex-amante
quanto ao professor Husserl.
Ela acreditava que Husserl havia sido assassinado por causa das
afirmações de Heidegger embora Husserl morresse de causas naturais em 1938 com
79 anos de idade, miraculosamente evitando ser um dos 500 mil Judeus deportados
da Alemanha.
Depois da operação pós-guerra de "denazisificação" de Heidegger, resultou em uma suspensão de
seis anos do ensino. Arendt testemunhou sobre o comportamento de Heidegger,
argumentando que seus escritos pró-nazismos foram nada mais que "erros
pessoais".
Dois de outros estudantes judeus protegidos por Heidegger, Emmanuel Levinas, e Karl Löwith, discordaram de apologistas como Arendt. Eles acreditaram
que a teoria da promoção Nazista de seu professor refletiu na falência de sua
escrita apocalíptica.
Depois de se encontrarem em 1936, em Roma, Löwith escreveu que Heidegger expressou "sua fé em
Hitler" e que a ideologia Nazista e sua própria filosofia eram
compatíveis.
Quando não estava salvando uma ex-amante
das mãos Gestapo, Heidegger conseguia ser impiedosamente cruel. Durante a mesma
reunião em Roma, em 1936, Löwith
reportou que seu mentor originário usava uma suástica Nazista na ponta de seu
lápis.
Levinas, quem passou a guerra em um campo de concentração Alemão, jamais
conseguira perdoar Heidegger. Durante uma palestra pós-guerra sobre a natureza
curativa do perdão, Levinas descobriu
sem impossível aplicar aquela crença em alguns casos:
"Alguém pode esquecer muitos Alemães, mas há alguns Alemães
impossível de se perdoar". Levinas
não estava se referindo a monstros óbvios como Hitler e Himmler, mas seu velho professor em Freiburg.
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