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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Juçara Marçal- Encarnado [2014]



A relação entre morte e vida é óbvia. Recentemente, Juçara Marçal decidiu-se lançar solo, mas o que realmente surpreende aqui, é que ela traz elementos que eu ainda não havia identificado em sua música. Protegida por uma discografia de destaque ao lado de grandes nomes, o disco novo tem muita força própria e é prévio candidato aos melhores álbuns do ano.

Mas é óbvio que toda essa discografia não se sustentaria sozinha, era preciso arriscar. Para Marçal, interessa demais subverter as regras (?) ou estruturas tão tradicionais da música popular brasileira, e pra isso ela utilizou de certa dose de amor por Patife Band, Arrigo Barnabé, Letícia Garcia. Com antecedentes assim e sua própria história dentro da música, Juçara mais uma vez se reinventa ao apelar para a redução de instrumentos, que mesmo assim não se omitem a cacofonia, ruídos, barulhos, experimentalismos.

Assim, Marçal renasce com sua potencia vocal. É uma obra muito bem elaborada com letras invariavelmente rondando o definhamento, o aniquilamento e a destruição. Em suma, ela não tem medo de pegar melodias já conhecidas, relativamente famosas, e deixá-las ao doce julgamento de sua voz. A questão é que a cantora tem uma personalidade tão forte e interpretações corajosas e audaciosas.

Esta exposição deixa Marçal mais acessível, sem barreiras complexas para comunicação com ouvintes. Há diversas ramificações, cenários e alternativos para as versões incorporadas, que tem um grande apelo popular, embora ainda sob o “estranho” que habita o universo de Juçara. Existe essa acessibilidade que é possível perceber logo no inicio do disco, preparando para o que vem a seguir. A música vaga pelo samba, MPB e, claro, a vanguarda paulista.

Assim, ela está livre para interpretar as canções fora de qualquer acordo prévio, criando melodias são completamente singulares. As músicas revelam Juçara explodindo alucinadamente. Surpreende que tão poucos instrumentos retratem incrivelmente bem a dimensão visceral que Marçal utiliza na fragmentação de harmonias. Mas não se enganem; essa modulação tem todo um efeito cênico dentro do disco.

Podemos perceber instrumentistas bem alinhados, confortáveis com o espaço alheio. Porque Juçara transita entre o acessível e o essencialmente torto, os músicos providenciam o tipo de ambientação que segue essa coerência, e conseguem. Ou seja, um passo muito corajoso para a música nacional, confirmando nossa excelente produção que a todo o momento- seja por que raios for- queremos estar dando como morta.

Baixa o disco gratuitamente clicando aqui.

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