Inspiração incondicional.
Incrivelmente, o punk rock
reproduz o discurso patriarcado machista que estamos tão acostumados em nossa
rotina, é obviamente inegável a importância de Laura Jane Grace ao assumir sua transexualidade.
Transgender Dysphoria Blues vale toda
a antecipação, até porque se sabe de todas as variações do Against Me! durante a
carreira da banda, inevitavelmente pensamos “mas o que vem depois?”.
Transgender Dysphoria Blues contém letras cruéis, escancaradamente
diretas. A crise de identidade
com o gênero ao mesmo tempo em que a aceitação surge: “You've got no cunt in
your strut/ You've got no hips to shake/ And you know it's obvious/ But we
can't choose how we're made”. Análogo as canções que tem sim instrumental bem
otimista, as letras sempre voltam a temática transexual, Laura reagiu forte e
provavelmente descontou as besteiras que ouviu em letras vorazes: “I don't have
the heart to match/ The one pricked into your finger/ All things made to be
destroyed/ All moments meant to pass”.
Embora a fase pré e pós-operação
tenham uma enorme influência em Laura, suas letras e seu estilo de cantar, é inegável
a mesma no som. À medida que ainda como Tom, ele soava muito sem vida e
arrastado em White Crosses – e me
atrevo a falar que nos últimos dez anos- como Laura a energia é claramente mais
voluptuosa, o que inevitavelmente decai também sobre o instrumental. Refletindo
no curto tempo do álbum- nem meia hora-, com Laura feroz, soltando a voz. Eles
adquiriram o que vinham tentando depois de As
the Eternal Cowboy, ou seja, uma mistura entre Southside Johnny e seu vocal “caipira” com o punk rock energético, fonte
que a banda sempre bebeu inclusive politicamente.
Embora Transgender Dysphoria Blues aborde temas muito íntimos e obscuros,
a estética produzida é de alguém em fase de superação. Alguém tentando deixar
claro para todos que não precisa provar nada para ninguém. Enfrentando de
frente os preconceitos judaico-cristãos, deixando claro que as pessoas deveriam
fazer outras coisas ao invés de se comportar como homofóbicos, praticar
transfobia, ou qualquer mesquinhez do tipo. É como se Laura Jane Grace não
acreditasse que em pleno 2014, esses temas têm que ser desenvolvidos. Transgender Dysphoria Blues não é um
álbum atual apenas em sua produção, mas evidencia o potencial interno de
libertação de amarras sociais.
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