Title Fight é uma das minhas bandas favoritas. Sério, fica difícil imaginar como seriam meus últimos cinco anos sem a música desses rapazes estourando meus ouvidos. Abaixo, uma pequena análise da carreira da banda e de como eles evoluiram, absurdamente, nos últimos quatro, cinco anos.
The Last Thing You Forget [2009]
Pop punk sem a parte chata do negócio.
“I'm not
hiding out, I'm far away.”
Title Fight é uma banda rara. Esse álbum é a prova disso. O
conjunto não carrega o ritmo otimista tão comum das bandas do gênero.
Ultimamente, a tendência tem sido coros empolgantes, som mais limpo. O que
acarreta em um punhado de bandas parecidas. Canções com letras chicletes, condução
hardcore melódico e pausas para o
vocal cantar sozinho e tá tudo certo. Title
Fight deu o primeiro passo para fugir da obviedade nessa compilação. Todas
as canções fluem sem parecerem com aquelas fórmulas pré-estabelecidas e, coisa
difícil no pop punk, não tem aqueles “breakdowns”
irritantes no meio. Pegue a honestidade brutal emocional do Lifetime, e o Brand New nas situações limítrofes que propõe, temos o Title Fight.
The Last Thing You Forget é uma compilação entre um EP do Title Fight e um Split. Há também algumas músicas novas. Todas as canções dispostas
de forma que não vão te entediar. Symmetry
abre o jogo, e já introduz rapidamente o som geral da banda. Dois vocais
alternados- um mais berrado; outro mais limpo- punk rock acelerado. Embora isso
seja o que marque todo o álbum, os caras são grandes músicos e criativos
letristas. O que fatalmente vai te deixar querendo mais ao término do disco.
Angústia adolescente desabafada da forma mais honesta possível. A simples ideia
de solidão é o que assusta o eu lírico. Algo que obviamente faz o ouvinte se
relacionar diretamente.
The Last Thing You Forget é uma bela estreia! Mal posso acreditar
que verei essa banda ao vivo. Cria uma conexão muito forte, dessas de berrar as
músicas mentalmente enquanto está entediado num trabalho chato. Você vai querer ouvir mais Title
Fight.
“I'm burning down all of these memories
Throw the ashes out to sea”
Shed (2011)
O Title Fight melhorou muito e avançou para direções digamos, hum,mais
adultas. A banda mereceu uma nova chance mesmo para os que não gostaram dos
lançamentos anteriores, pois a fase hardcore/pop-punk
aos poucos era deixada como mais uma ferramenta sonora. No primeiro álbum cheio, o conjunto decidiu
por canções mais arrastadas, volumosas, impressionando de fato desde a primeira
ouvida.
A banda acertou em cheio ao somar
influências punk rock de bandas como The
Draft, o emo do The Casket Lottery e a melodia do Make Do and Mend. Na verdade, se
pegarmos os álbuns dessas três bandas, e fizermos uma seleção de melhores
momentos, teremos o Shed. O acerto
foi aí, saber fazer a transferência do som mais acelerado e melódico para as
guitarras e vocais dilacerantes.
Lógico, não podemos esquecer-nos
de citar “27”, que é uma das músicas mais comoventes que ouvi na vida. A
variação entre as canções no Shed
atinge certa constância, o que é um grande mérito para uma estreia, a ordem das
músicas torna tudo mais legal, com meio-tempo, canções arrastadas e as mais
aceleradas.
Title Fight acertou em cheio ao se juntar com a gravadora SideOneDummy,
que já vinha lançando algumas bandas promissoras. O que vale uns parabéns para
a gravadora, também, por enxergar numa banda ainda em fase inicial um potencial
que talvez seus lançamentos antecessores não demonstrassem. Uma das maiores
surpresas musicais, com certeza! Para fãs do que se convencionou chamar “post-hardcore” se debruçarem e berrar em
plenos pulmões (enquanto mosham!).
Floral Green [2012]
Se em Shed é constatada a fase da mudança, da transição para uma suposta
vida adulta, em Floral Green nos é mostrado o espanto em se perceber paralisado
no mesmo lugar.
Os anos 90 desfilam entre as
músicas, passando por nomes mais “discretos” como Christie Front Drive e Lifetime, ou os ruídos do Mudhoney e Sebadoh. A banda funde essas influências externas com sua própria
proposta para novamente lançar um álbum que se destaca dos outros. As
composições e estrutura musical atingem o topo em comparação ao que haviam feito
e experimentado; arrastando, explodindo.
As letras falam de incertezas, fracassos
pessoais, como em Numb, Nut I Still Feel It: “I held my breath through every
title/ I wish I could get over this feeling of slipping under/ I never get that
far”. Vale notar a maneira que Ned
Russin cresceu liricamente e como vocalista. Pode-se conferir exatamente a mesma sensação de
fracasso em Leaf: “Pull down the shades/ Rather stay inside all day/ My own
thoughts are in my way/ Rather sleep than have to stay”.
Jamie Rhoden opta por seus vocais mais baixos, embora permaneçam
certeiros e passando certa sensação de cansaço do eu lírico. Rhoden divide os trabalhos de guitarra
com Moran, e estas muitas vezes se
difundem pelo disco, caóticas; afogando-nos numa poderosa imersão sonora. As
letras cabem perfeitamente nos vocais mais lentos, bem feitas para serem
cantadas junto. Veja bem, o formato Title
Fight é muito mais punk rock do que hardcore
nesse disco, certas canções contem simplicidade e profundidade tremendas.
As transições são dissonantes,
ruidosas; o que tem muita a ver com a forte influencia de bandas da Dischord. Essas partes mais arrastadas e
angustiadas resumem-se perfeitamente em Head
In The Ceiling Fan, onde a letra abstrata casa com o clima delongado.
Competente também são as partes em que Rhoden
e Russin dividem os vocais, em
canções viscerais, bem rock’n’roll. O
interessante é como os estilos e tons se diferem, embora a temática seja sempre
introvertida, essa oscilação ajuda o álbum a não cair na monotonia.
A parte “experimental” da banda é
mais bem aproveitada em Lefty, aonde
uma bateria torta conduz a música, enquanto Rhoden
não hesita em desafinar propositalmente. Com certeza uma influencia de bandas
como Hole, nos componentes elétricos
mais lentos.
Floral Green é um álbum que
precisa ser ouvido diversas vezes para ser “digerido”. Com certeza não tem o
impacto inicial de Shed, mas em
contrapartida, é repleto de detalhes e não soa enjoativo. O desenvolvimento
desses garotos eclodiu em uma verdadeira ode às guitarras, com letras
introspectivas.
Spring Songs [2013]
Embora o cenário punk em Kingston
seja cheio de nomes locais realmente poderosos, requer muito trabalho para uma
banda, além de tentar romper com preconceitos sonoros dentro do gênero, se
tornar um sucesso internacional. É claro que você precisa de canções
brilhantes, e isso o Title Fight
tinha um punhado. O problema é que, mesmo Floral Green rompendo a com as
tradições musicais da banda, as canções ali tinham mais ou menos o mesmo
esquema. A banda é produtiva, respeita suas referências Straigh Edges, fazem turnês com bandas menores da cena. Eles não
largam tempo, como exemplo inusitado, a conta da banda no twitter tem milhares de seguidores, enquanto o conjunto não segue ninguém.
Muita gente que não acompanhava a
banda chamou esse EP de “ambicioso”, deixando claro que não conhecia a música.
Para mim, fica claro a invasão de suas influências como Kid Dynamite, Jets To Brazil e The
Get Up Kids no tão chamado indie rock.
Vale chamar atenção para que o Title
Fight acabou de ultrapassar a adolescência. E como nos últimos lançamentos
da banda tinham progredido muito qualitativamente entre um e outro, podia se
esperar muito desse EP. Spring Songs
reveste, novamente, o som do conjunto, mostra quão ambiciosos são.
São quatro canções, duas cantadas
por Ned Russin e duas por Jamie Rhoden. Alguns vocais são ouvidos
na base da produção analógica, outros maravilhosamente hiperproduzidos em cima
de várias texturas de guitarra. Isso só mostra as pequenas mudanças que eles
realizam para se renovar e atingir uma nova estética. Em “Be A Toy”, Rhoden conduz a música que pega influencias claras de Lifetime e o Superchunk no início de 90. Essa é uma música que o vocal cuidadoso
de Jamie, meio desleixado, arrastado, contrasta com a música mais “animada”. Já
Rhoden, o baixista, canta com pura
explosão, algo entre Mudhoney e o
punk rock melódico que emergiu em 94.
Pode-se afirmar que esse é o
lançamento menos “característico” do Title
Fight. Pelo tamanho das músicas –elas seriam as mais longas se estivessem
nos últimos dois álbuns- e pela falta de estrutura punk na sonoridade. O que as
letras não perdem são o foco direto. Os tópicos continuam tendo letras
“focadas”, ao mesmo tempo em que vagas o suficiente para relacionar o ouvinte.
Com muito comedimento nas letras, Russin
entrega a quem escuta toda a parte dramática das canções no vocal, fica tudo
subentendido. Os temas, aliás, são muito parecidos e até recorrentes de Floral
Green. Talvez o único pecado de Spring
Songs seja esse, como a banda é muito ansiosa a respeito de novos
lançamentos, os assuntos acabam reaparecendo com certa recorrência.
Com certeza Spring Songs é outro passo importante e distinto para a banda, que
deixa na cabeça de muita gente a seguinte pergunta “como será o próximo
lançamento deles?”. Muito legal ver que TiItle
Fight embora faça um som decididamente mais abrangente, ainda tem uma
postura muito “faça você mesmo”. Uma coisa que tenho comentado com amigos
recentemente é como é estranho ver a dificuldade da galera que gosta mais de
rock de guitarra anos 90, demorar e até ter uma resistência a bandas como Title Fight, que ainda é ligada ao hardcore punk muito mais pela postura e
pela sua base de fãs do que o som em si. Com certeza, se pedimos para eles
ouvirem sem essa pré-rotulação que às vezes beira a idiotice, vão ver o real Title Fight: uma banda tão nova quanto
ambiciosa.
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