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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Meus 60 discos favoritos de 2015

Foi um ano incrível. Os artistas mais radicais se mantiveram em sua proposta e continuaram fazendo músicas que desafia abissalmente modelos convencionais, eu ouvi pouco emo por motivo de não me identificar mais tanto, a música brasileira continua avançando em seus diversos eixos; improviso, post-rock, noise e vanguarda paulista. Kendrick Lamar revirou praticamente todos os meios especializados lançando um disco complexo que é mais do que muitas pessoas, inclusive fãs, querem reduzir.

Pessoalmente, foi um ano importante, um ano de afirmação e muitos desses discos foram companheiros, verdadeiros amigos. Esperançosamente você goste de algum deles.
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60- Yarn/Wire and Pete Swanson - Eliminated Artist

Se trata, sobretudo, de um delírio em tempos que uma normalidade domina todos os charts de melhores discos do ano.
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59 - Glenn Kotche - Ilimaq

Pode-se encarar Ilimaq como um rito, uma tentativa genuína de aproximação a um discurso que cubra todos os pontos de uma obra, e é justamente na espantosa técnica de Kotche que o disco destoa para um discurso vibrante. Adams exclama categoricamente seu conceito e aproveita do talento de Kotche para fazê-lo. Resultados esperados não é o foco de Adams, ao invés suas abordagens transgridem construções musicais comuns para mirar sempre em uma totalidade, mesmo que abstrata e/ou invisível.
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58 - Various Artists - Diários emocionais vol.4

Mesmo que não seja nossa culpa, o tempo sempre vai deixar algo incompleto. Algum livro que juramos que íamos terminar, mas ficou esquecido em algum canto de nossa velha casa. É um projeto, em sua forma, ambicioso e influenciado por uma das coisas que mudaram a cara do rock independente (a coleção “Emo Diaries”, da Deep Elm). Não há quem não possa reconhecer que houve muita gente disposta a falar sobre o que parecia impossível em 2015.
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57 - Jlin - Dark Energy

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56 - Lupe Fiasco - Tetsuo & Youth

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55 - Kreng - The Summoner

The Summoner pode ser encarado como uma trilha sonora que vai culminar na aceitação- até lá, vamos passar pela negação, raiva, negociação, depressão e evocação. Mas evocar o que? Qual o ponto que converge essas frustrações em uma aceitação? Esse álbum reflete os estágios pós-perda de alguém próximo, em transes melancólicos e silenciosos de alguém que está nitidamente desgastado e parece ter na criação o único meio de expressar uma dor nostálgica que também é solidão e isolamento. O universo de Kreng não visa à redenção nem uma cura, apenas reflete um mundo interno arrasado.
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54 - Amargo - Processo de purificação


Esse álbum do Amargo contém os elementos que ainda me cativam na busca por “música esquisita”. Processo de purificação é o mesmo tempo repetido diversas vezes e tentando violar conceitos como “pecado”, ”condenação”, etc. O Amargo expande sua dissonância para fragmentar e incomodar nossas convenções. E assim é feito.
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53 - Astronauta Marinho Menino - Sereia

Menino Sereia não é um apelo a “técnica” musical, e sim quer comprovar um ponto de vista que encontra alegria na manifestação das coisas (dos sons, no caso). É maravilhoso que isso aconteça porque esse disco exige outras escutadas. Ele consegue radiar sem simples abordagens, ele consegue ser acessível enquanto não é “mais do mesmo”. Uma zona mística entre folclore, senso comum e experimentações sonoras gestadas na observação de um ambiente que simplesmente se desenvolve.
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52 - Bixiga 70 - Bixiga 70

A relevância que essa produção oferece hoje é mais do que clara. E principalmente, é muito importante que as memórias de cada investigação musical que o Bixiga 70 realiza sejam trazidas a tona e celebradas. E eles celebram bastante, lembrando que sua discografia é uma paleta de comemorações.
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51 - The Unthanks - Mount the Air

Para ser claro, Mount the Air tem tudo para ser um disco revisionista monótono, com letras tão insossas que valem uma vomitada. Curiosamente não é. Tem-se aqui a elaboração de uma escuridão que contrapõe todas as expectativas.
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50 -  Cidadão Instigado - Fortaleza

A narração inteira desse disco é sobre as tentativas de reconhecimentos; em vagabundos, em músicas antigas. Na tentativa vã de se controlar enquanto queremos nos libertar.
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49  - Olivia Block - Aberration of Light

É um contexto em que o crescimento gradual do volume implica em uma oscilação no ponto principal. Com sua infiltração e “transferência” de eixo-central, a dificuldade de “Aberration Of Light” reside justamente na resistência de Olivia em não repetir procedimentos.
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48 - Disasterpeace - It Follows

Problemas mais profundos que um “horror superficial” emerge; identidade, localização, reconhecimento. Ouçam em um quarto escuro, para que todos os signos sejam mais “essenciais” e mesmo em seu inferno, mais belos.
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47 - Odradek - Homúnculo Vol. 3

O Odradek tem a moral de não “repetir” mesmos seus instantes áureos porque sabe que a construção que eles optaram é sempre de uma novidade surpreendente. Homúnculo traz acima de tudo uma tensão e tudo que pode envolver ambientes tensos- a guitarra fritando, o cinismo de alguma das letras, as jams que progridem e transmutam de forma implacável, as viradas loucas da bateria. Tocando o que esses rapazes tocam, eles podiam cair no limbo do mero “exibicionismo”, mas a construção desse EP implica em um não ostracismo evidente. Falei da tensão, mas a tensão de Homúnculo é aquele de que “sempre algo vai acontecer” e isso devido ao mérito da banda adicionar mudanças constantes em uma dinâmica estrutural que surge sempre algo “novo”. Novidade que nem sempre é tão aceita num mundo que todos ouvem “apenas o que gostam”, mas é um desafio que merece ser encarado.
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46 - WarHorse - As Heaven Turns to Ash... [reissue]

Os membros seguiram para outras bandas, mas é inegável que As Heaven Turns To Ash merecia mais atenção dos fãs de música extrema, porque tem todas as características que nos aprisionam em estéticas tão radicais, adicionando certa dose de fascínio em temas totalmente pessimistas, ainda assim descobrindo encantamento nessas questões. Encantamento indicado nas faixas de menor duração, que exibem que o Warhorse não é só “morte”, mas que também há escapismos. E o processo que o paraíso se transforma em cinzas é maravilhoso.
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45 - Kamasi Washington - The Epic

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44 - Duda Brack - É


Pela pouca idade, muitas pessoas certamente pré-julgariam alguma “ingenuidade” no comportamento de Duda. O que, obviamente, não ocorre. Brack busca uma voz própria a despeito de todas as contrariedades do mundo, que são colocadas na música. É uma cantora de desafios. Mas ela se entrega tanto a cada canção, que o estímulo se confunde com uma vontade absoluta de provocar tanto o ouvinte como o próprio instrumental, que caracteriza Duda como uma líder de banda nata. Essa essência de puxar limites é a sensação que “É” enquadra. Não serão meras apropriações de composições de outrem, mas esforços pesados em uma direção para além do que aponta o senso comum. Tudo isso, vale lembrar, num álbum de estreia.
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43 - Timbre - Sun & Moon

Todo o percurso de uma hora e vinte desse disco é na verdade uma rotação em torno do mesmo lugar. É um álbum de insistência e paciência. Mas Timbre recorre a um método que pulveriza qualquer chance de monotonia- ela entrega há esses mesmos ciclos diários uma contemplação composta por devoção e incertezas. Esse aglutinado de sensações carrega imagens tão necessárias para evitar qualquer repressão, em um mundo onde oposições tão radicais têm de coexistir. E se a existência já carrega contradições angustiantes e pesadas, como também não se maravilhar pela simples possibilidade de tais disparidades estarem dispostas?
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42 - Siba - De baile solto

A “diversidade” da população pernambucana não é celebrada apenas por sua vastidão. Siba se debruça e produz cenas precisas e através delas (ou seja, da própria experiência) comemora tais fenômenos. Por tudo isso, falar sobre “investigação” seria reduzir o que Siba vem construindo com sua obra há anos. Essa que vem se desenvolvendo em um corpo sonoro que comanda os “mergulhos” que o compositor crava pra afirmar não só a si mesmo, mas também uma população que não pode ser expressa senão por tamanha significância.
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41 - Kammarheit - The Nest

Muitos tentam, mas poucos realmente conseguem evidenciar o que está “oculto”, submerso. Kammarheit trata dos elementos sombrios como eles merecem; fascínio, dúvidas e com um respeito fenomenológico. Pode parecer muito sombrio e até triste ouvir “The Nest”, mas o que Boström constrói é uma ode ao deslumbramento com o desconhecido. Ou seja, pode-se celebrar que nem tudo ao nosso redor é limitado e preso em manifestações pré-concebidas.
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40 - Nonsemble - Go Seigen vs. Fujisawa Kuranosuke

Embora o disco se baseie em um jogo japonês, não espere uma música influenciada pelo oriente. Até onde eu sei, todas as noções de composição utilizadas por Chris dialogam claramente com o ocidente. Parece que cada ideia nesse álbum nasceu pequena e foi trabalhada exaustivamente até poder ser apresentada de fato como estética, em que todo o clímax pode ser experimentado como consequência natural.
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39 - This Lonely Crowd - Meraki

“Meraki” é, ao mesmo tempo, um contraponto e uma continuação de “Möbius And The Healing Process”. Os vocais foram excluídos, mas não é como se tivéssemos mais peso instrumental; há uma combinação que evidencia a transformação do conjunto. Meraki, a palavra, é um verbo sem tradução pro português, que define algo como “fazer ou aprender com paixão, com amor”. A This Lonely Crowd aprendeu seu ofício com o tempo. A arte, mais uma vez, está impecável e torna-se necessária à medida que compreendemos e ouvimos mais o disco; um bioma carregado de dualidades essenciais.
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38- Heather Leigh - I Abused Animal

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37 - Passo Torto & Ná Ozzetti - Thiago França

A voz de Ná Ozzetti esculpe um plano, à primeira vista, confuso quando equilibrada com os acordes do Passo Torto. Mas esse desequilíbrio é apenas aparente. Fiquemos tranquilos, a música brasileira – em toda sua abrangência – está ainda desbravando novos caminhos, descobrindo novas saídas.
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36 - Metá Metá - Metá Metá

O terreno do Metá Metá é expansivo e ofensivo por natureza, é como se toda a agressividade (as duas primeiras músicas do EP são como um legítimo soco na cara) abusasse das (des)conexões entre guitarra e sopro, sob as evocações de Juçara, rumo a um legítimo desencontro em que o “resultado” é sempre indefinido. A escolha de uma música das Mercenárias, “Me Perco Nesse Tempo” (do “Cadê As Armas?”, de 1987), reflete essa postura mais incisiva do conjunto.
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35 - Michel Banabila / Oene van Geel - Music for Viola and Electronics II

Passando por toda a obra Banabila (onde Spherics talvez seja a mudança completa de rumo) temos contrariedades inerentes à visão complexa que um artista tem da música. Onde as expectativas possíveis se equivocam a cada lançamento. Mas repito, é um corpo sonoro poderoso.
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34 - Cadu Tenório & Eduardo Manso - Casebre

Talvez o charme principal de Casebre seja essa mistura entre realidade (a respiração prolongada da faixa-título) e imagéticas que os sons propõem. Mais do que “construir um clima de terror”, a dupla consegue verdadeiramente causar certa aversão nos ouvintes. A questão do horror não se trata apenas da violência sonora, mas sim como não há nenhuma possibilidade de “progresso” nesse lançamento, são sentimentos conflituosos que esses sons transmitem! É estranho porque depois da audição de Casebre, eu senti muitas coisas esquecidas. É uma espécie de sensação que só esse disco dá acesso completo. Lógico, cada obra é “única” por si, mas uma falta clara de adjetivos para esse registro revela todo conflito ao qual me referi. Só ouvindo coisas como o final hipertenso da faixa-título que temos acesso para o estado de Casebre, principalmente com fones de ouvido; há uma saturação de microelementos e é justamente nesse ponto que sentimos uma profunda inconstância.
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33 - Satanique Samba Trio - Mó Bad

Não é só o modelo de música que o Satanique apresenta que causa estranhamento, mas sim a coerência com os últimos lançamentos e com a contínua evolução do conjunto enquanto desconstrutor de formas estabelecidas.
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32 - Max Corbacho - Splendid Labyrinths

Isso não é música ambiente pra “relaxar”, as possibilidades criadas pro Corbacho exigem enfrentamentos, atravessamento; é como uma semente que só pode brotar de quem habita a dúvida e o incerto. É um campo de tensão em que tudo se contorce e tudo volta. As paisagens sonoras criadas por Max reconhecem a incapacidade de uma perfeição, enquanto trabalham pra uma produção imagética sempre viva e fluída, todas as representações em “Splendid Labyrinths” transpiram perguntas, é um álbum denso que aprisiona o ouvinte em suas movimentações.
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31 - Ava Rocha - Ava Patrya Yndia Yracema

Todo o transe em AVA PATRYA YNDIA YRACEMA evoca um gosto pelos limites da vida, em que se pensar nos sentimentos doces canaliza lembranças que se convergem para uma expressão tão abrangente do presente. Mas Ava fornece esse aspecto a partir da sua intimidade, que se mostra profunda. E se tal análise se expressa por uma voz tão contundente como a dela, que nunca se debruça sobre a monotonia, melhor ainda.
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30 - Saturndust  -Saturndust

Esses 45 minutos que o Saturndust nos entrega parece muito mais. Parece a dissolução- entre toda a sonoridade decididamente suja- em um universo cuja poeira é a principal matéria. Matéria que nos faz vivo e vai continuar depois de nossa morte, inevitavelmente.
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29 - Jacob Garchik - Ye Olde

Cada faixa em Ye Olde constrói um pequeno pedaço da história que Garchik nos propõe. São músicas com a duração pequena se comparado com o que se faz hoje em dia no jazz livre, e elas encontram seu ponto de clímax rapidamente ao mesmo tempo em que essa explosão é realmente curta. As guitarras sincopadas muitas vezes iniciam o trabalho como se realmente tivéssemos na década de 70, até que partes de improvisação dos três guitarristas retomam o sentido mais abstrato que toda a obra de Garchik tem abraçado. A realeza é palpável com a incrível marcha clássica (que só não é propriamente erudita pelas divagações elétricas) na última faixa. É um verdadeiro coroamento de tudo o que o disco propôs.
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28 - Mz.412 - Hekatomb

Um trabalho como Hekatomb denuncia também uma movimentação poderosa de “música subterrânea”, nesse caso em particular, ligada ao pós-industrial sueco. Como se representasse o pior na descida dolorosa de Dante ao inferno, onde decididamente não há caminho verdadeiro, em uma selva tenebrosa, numa sinistra floresta onde nos deparamos com tristeza, solidão e desânimo. Lembro-me da movimentação interessante que ocorre no Brasil de deslocamentos parecidos e acho muito importante que as pessoas tomem nota desse registro. Registro de um local extremo e claustrofóbico, que existe com uma força derradeira.
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27 - Better Leave Town - Better Leave Town

O Better Leave Town opta por expressar as visões e a partir daí (dessas microssituações sempre específicas) discorrer sobre os temas diários que pesam sobre nossos ombros. Mais do que um extravaso, são reflexões sobre essa coisa estranha que chama passado e essa entidade estranha que por acaso tem um corpo. São determinações densas profundamente pessoais, no atrito constante entre o ritmo enérgico mais “cativante” e uma espécie de sobriedade introspectiva, onde os riffs altos soam exatamente essa ambiguidade. Tenho muita convicção de que se você costuma gostar das bandas voltadas ao “emo” que posto nesse blog, você vai sentir um compartilhamento com o BLT. Cada música gera um campo de análise e são analises empíricas, atravessadas e que se expressam na música para poder garantir uma existência, também. Se não captamos quem éramos anteriormente, então mudamos um pouco e o mundo girou. E é com a honestidade e crueza que encontramos nesse disco que podemos ter certeza que as coisas estão mudando. Para onde, não se sabe.
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26 - Theoria - Vamos desistir do Brasil

Por sua própria natureza, é difícil fazer uma resenha de Vamos Desistir Do Brasil, porém para mim ficou um pouco inevitável uma vez que eu me peguei ouvindo muito o disco, que é um registro que anuncia a produção significativa de músicas do tipo no Brasil e que é um álbum capaz de estimular. É uma atmosfera opressiva contaminada em grandes doses de humor que também revelam um precipício que atingimos e que talvez tudo isso não tenha volta. Tanto que é árduo “entrar” no disco e suportar suas diversas dissonâncias. Não se trata de um “teatro” de agressividade, é mais complexo que isso. Estamos miseráveis em vários aspectos e o que vamos fazer? Nesse instante, a dor que o Theoria inflige parece ser a necessária para qualquer despertar. Um compadecimento que vamos ter que suportar, porque acordar nem sempre é agradável.
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25 - Jair Naves - Trovões a me atingir

É sem um itinerário fixo que avança a obra de Jair Naves. Acompanhamos imagens que são formadas por angústia, sofrimento, amor, expectativas... Tornou-se rotina pra mim, desde que comecei com esse negócio de gostar muito de música, ter suas canções como abrigo para os diversos momentos. É que eu acredito em testemunhos tão entregues e tão intensos. As fraquezas versadas e expostas pressionam porque não queremos frustrar ninguém, não queremos produzir a dor. É desse ponto que Jair discursa e faz sua arte, do ponto de uma incerteza absoluta (pessoalmente, não esteticamente) em um mundo que parece nos bloquear a todo instante. É tudo tão repentino e não podermos prever os trovões que vão nos atingir. Mas se há receptáculo, há vida. E isso é o suficiente.
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24 - Juçara Marçal & Cadu Tenório - Anganga

A junção entre duas figuras importantíssimas da música subterrânea brasileira é um resgate, mas também um pronunciamento da sensibilidade estética de cada um. Anganga é um disco que vai permanecer como ícone quando futuras gerações pesquisarem o que aconteceu de relevante musicalmente em 2015.
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23 - Merzbow, Mats Gustafsson, Balázs Pándi & Thurston Moore - Cuts of Guilt, Cuts Deeper 

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22 - Joshua Abrams - Magnetoception

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21 - Ricardo Donoso - Machine to Machine

Tenho sensações dúbias em relação a esse álbum, mas fiquei uma semana sem escutar e depois que ouvi, pensei, "tem que estar entre os melhores do ano". Outro de Donoso, que tem aparição dupla nessa lista.
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20 - Bell Witch - Four Phantoms

Por mais estranho que possa parecer, “Four Phantoms” é um disco de desintoxicação. Quando o “doom metal” para de estetizar a agonia pra mostrar porque ela pode ser utilizada pra afirmar a vida.
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19 - Viet Cong - Viet Cong

Eu penso nesse álbum existindo com os grandes nomes do começo dos anos 1980, mas também o interpreto como algum absolutamente contemporâneo, na briga constante entre “simples retrô” e uma articulação própria que inaugura elementos como caos, catarse, morte. Talvez a “música orientada pela guitarra” não tenha mais um por que, mesmo. Mas quanto a mim e principalmente a galera do Viet Cong- estamos pouco cagando.
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18 - Magma - Šlaǧ Tanz

É uma música cuja natureza continua desafiadora e eu não recomendo isso para quem não esteja disposto. É um surto harmônico, cantando em um dialeto incompreensível com represálias à raça humana. Sim! Em um mundo onde a saturação das mídias especializadas apontam muitas variantes comercias de “esquisito”, o Magma é sempre uma boa referência para justificar o termo em seu mais glorioso ímpeto. Encontramos agressividade sônica muito diferente do “noise pop” que circula nos charts mais populares- nós encontramos o termo “bizarro” ampliado e definido musicalmente. E se alguém insistir na boba pergunta, “o que eles estão dizendo?”, revertemos a pergunta: “o que nossa música tradicional tem dito, mesmo?”.
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17 - Matana Roberts - Coin Coin Chapter Three: River Run Thee

Matana rompe fronteiras musicais para estender e continuar na esteira de grandes nomes da vanguarda musical. No momento, é difícil achar música mais relevante sendo feita em algum outro lugar do mundo que não na cabeça de Roberts.
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16 - Boogarins - Manual, ou guia livre de dissolução dos sonhos

Até as repetições podem ser distorcidas, podem ser revisitadas e mostram que o passado se repete (em outras músicas) que o Boogarins lança seu segundo disco. É difícil mesmo de deixar uma impressão que não seja confusa sobre o último disco da banda. Ao mesmo tempo em que temos um disco muito parecido com o primeiro, é impossível negar o talento dos rapazes com os reverbs. Pode-se esperar que eles acrescentassem mais elementos em sua sonoridade nos futuros trabalhos, e que a recorrência da “estética psicodélica” seja outro bom escape deles e não apenas o único e principal. Seja o que for, “Manual[...]” ainda expõe uma banda que realiza sons instigantes em sua zona de conforto.
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15 - Mobile Suit Belial - Kokoro

Com Kokoro, o Mobile realiza o que muitos detratores apontariam o dedo sem pensar duas vezes. Curiosamente, suas armas são os que estes mais repudiam. Não há tempo para recuar e pensar duas vezes. As remixes vulgares estão ai para ofender quem tem que ficar ofendido, mas Kokoro transcende a mera usurpação e escava um buraco ele próprio. E escavar buracos é o que entendo como arte, pelo menos a arte necessária, aquela aberta e sem defesas.
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14 - Cássio Figueiredo - Diário

emos um período, mas estranhamente, a música não trabalha para esse bloco de tempo. Ela revela outra coisa. Que tudo pode acontecer agora e que exatamente nada vai acontecer. Há a continuidade dos dias, mas uma inércia que justifica alterações abruptas e rompem esse conceito de linearidade. O anúncio de uma melodia pode morrer antes mesmo dela ganhar vida.
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13 - Ricardo Donoso - Saravá Exu

Penso em Saravá Exu com um disco de retaliação. Um álbum que tem seus ambientes cuidadosamente estruturados para serem esmagados depois. Reduzidos em pó. Penso em cada renascimento e cada rompimento como poesia, como a aniquilação da estagnação. Nasce a beleza e o perverso absurdo. Uma histeria tensa que é produto de uma enorme inquietação por parte de Donoso, onde se especula ciclos que convivem com as pluralidades disformes que caracteriza a sonoridade.
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12 - Lê Almeida - Paraleloplasmos

Espero, de verdade, que as pessoas se reconheçam nesse álbum. Que elas virem amigas do artista dissipado que reside nesse disco. Precisamos de companheiros de travessia; qualquer forma, ser viva ou inanimada, que nos ajude. Porque, como em Paraleloplasmos, viver é um exercício de retornos frustrantes, partidas tristes- passar por um local sozinho em que você costumava ir com determinada pessoa. De repente, a ausência se torna pesadíssima. De repente, você se grudou tanto a outro que não reconhece sua carne, suas feridas, as marcas na sua pele. Eis o motivo de precisarmos de ajuda.
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11 - Björk - Vulnicura

Vulnicura é um imenso corpo sonoro, cujas fraquezas emocionais são contrárias da edificação instrumental. As intricadas texturas colocam toda pressão sobre uma desorientada Bjork, em um deserto que parece interminável. Isso explica sua exaustão, seu longo período- temos um terreno em que as combinações abafam o sujeito em medo, desconhecimento. Enfim, morte. Vulnicura não apresenta nada “essencialmente” novo para quem acompanhava a carreira de Bjork. Mas é a maior exploração do sofrimento que a cantora já fez. E isso já é muito, muito pesado.
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10 - Kovtun - Androginóforo

Androginóforo é um experimento do Kovtun, mas também uma afirmação. Sem objetivo aparente, ele se ergue e exterioriza que há uma música significativa sendo realizada no Brasil que não é demonstrada em charts, na Wire ou qualquer outro veículo. Mas que ela existe e é substancial. Que ela não hesita e que ela não se explica- ela só pode atravessar e ser atravessada. Espero que essas irrupções aconteçam com quer ouvir o disco. Comigo aconteceu.
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09 - Yuri Gagarin - At the Center of All Infinity

Todo o peso do conjunto tem um alvo claro, é óbvio o trabalho duro pra construção de cada música. Mas é a introdução dos sintetizadores que transformam “At The Center Of All Infinity” em uma jornada que o ouvinte precisa voltar mais vezes. A exploração técnica das guitarras seriam (apesar de muitíssimo complexas) elementos limitantes e estagnariam uma banda com tanto potencial. Uma pena que eles ainda exploram tão pouco elementos como caos e destruição. O que faz com que fiquemos com poucas dúvidas em relação ao disco. E, ao mesmo tempo em que exijo discos que ergam mais questões do que respostas, não dá para negar que a afirmação do Yuri Gagarin seja óbvia e evidente.
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08 - Hateyourmusic- tenha bons sonhos.

Nós queremos morrer, nós queremos viver e é justamente essa diversidade (que muitas vezes nos esgota) que cava sentimentos mais profundos e sinceros. O hateyourmusic amplia seu espaço (o espaço “negativo”, o campo da “escuridão”) para valorizar as coisas que ficam retidas. Para evidenciar o massacre da realidade e se maravilhar com o vazio.
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07 - Elza - A mulher do fim do mundo

Elza quer cantar. O mundo ainda não tem fim porque ela pode cantar, o resto não importa muito. E quando ela diz “me deixem cantar até o fim”, ela não pede permissão. Ela simplesmente avisa o que vai fazer. E em A mulher do fim do mundo ela faz demais, ela homenageia nossa modernidade decadente. A sonoridade do álbum é difícil de catalogar, e quem não está por dentro das novas vertentes brasileiras pode sair um pouco perdido. Elza chega para entregar o tipo de samba que ainda pode ter alguma relevância, ela surge para mostrar a tremenda importância que um disco desafiador pode ter. Ela atira pra cima de nós, sem nenhum arrependimento, a constatação de música provocante e intricada, como uma água quente impossível de desviar.
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06 - Julia Holter - Have You in My Wilderness

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05 - Lil Ugly Mane - Third Side of Tape

A combinação esparsa desse disco, curiosamente, destoa com as seis faixas anunciadas. Alguém não informado sobre a quantidade de música certamente chutaria muito mais. Mas com Lil nada é “óbvio”, e as diversas naturezas de Third Side of Tape certamente anunciam mais que um artista incomodado com a produção da música contemporânea. Elas revelam um homem trabalhando muito para construir uma assinatura autêntica. Não se trata, portanto, de localização temporal e exibicionismo de conhecimento. Para Lil, o tempo é outra invenção e todas as invenções tem uma origem em comum- a capacidade humana de distorções a realidade em forma de música. É como estar em um túnel onde nunca se esteve antes, e as únicas armas que temos para enfrentar essa incerteza são nossas próprias experiências e nossas memórias. O caminho já está perdido de qualquer forma. Third Side of Tape é o melhor trabalho de Lil porque além do todos os elementos anteriores que já deixavam sua música muito atrativa, evidenciam que Mane tem um legado muito poderoso, que vai lentamente se concretizando em cada lançamento
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04 - Kendrick Lamar - To Pimp a Butterfly

Kendrick Lamar não age como idiota e mira muito alto. TPAB é com certeza símbolo da complexidade que Kendrick estetiza; a fama, as tentações, as raízes, a indústria musical, ídolos, as revoltas da população negra nos EUA.Com um fechamento brilhante, Kendrick assume um legado e mostra que pode enfrentar as responsabilidades; transformando em música todas as dúvidas que isso gera.
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03 - J.-P. Caron - Breviário

É a enunciação do impronunciável, justamente a soma de passos em um corredor de uma casa deserta, com a aflição do poeta que bate desesperadamente em sua máquina de escrever pra exaurir algo realmente verdadeiro em suas palavras, com dias que tudo está um saco e só resta amaldiçoar tudo. É isso que “Breviário” me representa.
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02 - Mount Eerie - Sauna

Se o pensamento nasce com o sujeito, Elverum está mais interessado no que precede esses conceitos. Ele não apresenta a futilidade de um mundo sem sentido e absurdo, mas a maravilha do vazio, onde as coisas podem se manifestar e, por sorte, podemos testemunhá-las.
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01- The Wonder Years - No Closer to Heaven

Talvez NCTH seja um disco compreensível apenas para os fãs da banda, mas aqui acompanhamos lado a lado as batalhas do eu-lírico. Se nos outros discos tínhamos elementos como ataques de pânico, a cidade natal e a perda da estabilidade, NCTH é uma visita constante ao tema da morte de pessoas próximas ou ídolos e o que podemos aprender com tudo isso.