Os sussurros de Andrea encontram uma guitarra vibrante de
plano de fundo. A combinação instrumental do Banana oferece essa áurea
psicodélica que projeta estados intermediários, entre sonho e realidade. O pop
do Banana consegue invocar tantas
coisas e passar por tantos terrenos musicalmente que se pode ver que são músicos
extremamente preocupados com os arranjos e resgatar certo tipo de música ao
mesmo tempo em que exibem procedimentos de gravação extremamente modernos. Tudo
soa vasto e ambicioso nesse disco, enquanto o contraponto intimista torna cada
audição importante. Importante porque a música do Banana é célebre; ela tem uma
variação impressionante ao mesmo tempo em que mantém certa ordem (criativa). A
faixa título poderia facilmente estar na trilha sonora de Twin Peaks, e ela
introduz o tema da viagem que Nepomuceno (o disco tem quatro revisitações do
compositor) compôs com Galeno.
Se Voo me fez diagnosticar a validade no que já passou, a
imersão que Giostra provoca leva o ouvinte às introspecções que transbordam
questionamentos. As canções poetizam momentos de aguardo, de pensamentos sobre
o “que vai acontecer” e o que já “aconteceu”. As histórias presentes em Giostra
flagram um mundo de desejos simples, porém extremamente importantes para a
psique da narradora que reflete constantemente sobre os espaços, tanto
psicológicos quanto físicos, que ela percorreu. Eu não sei o que de fato levou
os integrantes do Banana a homenagear a obra de Nepomuceno e suas parcerias,
mas a banda conseguiu sonorizar as constantes indagações que o compositor
realizou ao lado de escritores como Galeno. Como todo disco que respeita o
ouvinte, Giostra é aberto o suficiente para que as impressões do ouvinte possam
ser injetadas em sua vasta paisagem sonora.
Acolhimento. Maneira de receber ou ser acolhido; recepção,
consideração. É possível encontrar tudo isso nesse disco, mas não da maneira
mais “usual”. As canções revelam choro, decepções, reflexões melancólicas e são
capazes de espelhar sensações semelhantes que o ouvinte possa ter. Os
andamentos lentos, os sonhos que nos tomam de assalto em uma caminhada
matutina; há mil possibilidades que enchem a cabeça e mostram que a calma não
necessariamente é preenchida com paz. A sonoridade da gravação é extremamente
límpida e essa produção lapidada se contrapõe à inquietação interna que a
narradora enfrenta durante as seis canções que compõem o disco, marcando
principalmente o belo andamento dos instrumentos de sopro que pintam a paisagem
sonora. Os vocais de Andrea mostram-se límpidos nos momentos cruciais; é como
se ela emergisse desse ambiente para finalizar a poética das músicas.
A sensação pop que percorre o álbum evitam o imediatismo; é
preciso ter paciência para ouvir Giostra porque suas construções são lentas,
calmas. Apesar da ambientação em que distorção e sintetizadores constroem uma
ambiente onírico, a profundidade estética do Banana se baseia no todo (tanto
como na arte do disco, que evidencia um ambiente rico em cores mas minimalista,
solitário). O discurso do Banana, que resgata obras tão importantes pára a arte
brasileira, é de que esse resgate não é usual; há uma semelhança poderosa entre
os temas das canções e as releituras instrumentais/vocais que a banda realizou;
um cenário íntimo onde as folhas que deitam na terra enchem “todo o ser” da
narradora. Não há caminhos fáceis para o andamento instrumental de Giostra e as
bifurcações sonoras erguidas aqui revelam um ambiente rico ainda assim, em
esfera pessoal, sempre há a sensação triste de que “falta algo”.
Todas essas variações se unem para elaborar o principal
atributo de Giostra, o intimismo que precede todas as técnicas. O ambiente é
frequentemente tomado por grandes divagações instrumentais (os instrumentos de
sopro, os sintetizadores, as guitarradas), estas que em nenhum momento suprem o
intimismo que é o ponto maior do disco (a arte do álbum revela uma espécie de “intimismo-desolado”)-
pelo contrário, elas o tornam muito mais respeitável. Com repetidas audições,
parece que a narradora vai derrubando sua “máscara” de artista e se tornando
abissalmente humana. Isso que passamos pelos mesmos estados, isso porque a
poesia de Giostra é um firmamento do isolamento, da reflexão e das saudades que
a vida invariavelmente nos causa. Giostra abraça a calma para revelar as
inquietações em terrenos sonoros vastos, que não conseguem excluir (ao invés
disso otimizam) a sensação de distância e, ao mesmo tempo, deixam-na tão
querida.
Emocionante! É o mínimo que possa falar sobre esse disco. Sou fã de heavy metal e essa, não é minha área. Entretanto os climas, as hormonias e melodias remetem a uma variedade tão grande de sensações que não pude deixar de ser afetado. Excelente trabalho!
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