Não se engane com a foto acima, embora represente realmente o espírito "faça você mesmo", trazendo nas costas a ética provavelmente mais importante do punk rock, o American Memories não canta sobre bebedeiras fodidas ou atritos na rua (pelo menos não por enquanto).
O vazio e sua tristeza proveniente é o que embala as temáticas da banda. Letras depressivas sobre lares despedaçados, estar sozinho, dão o tom. Esse lado muito pouco glamouroso da vida, que nos faz ficar à espreita e torcer por um futuro hipotético menos dolorido.
AS influências ficam evidentes desde as primeiras notas de Free Big D, do EP deles lançado ano passado (disponível para download gratuito no bandcamp abaixo). As famosas dedilhadas na guitarra, tão recorrentes no que se convencionou chamar de midwest emo, contrastam com um vocal que, embora melódico, é gritado a plenas gargantas.
No fim, a sensação é de que o American Memories lida com fantasmas. Memórias como fantasmas, fantasmas da tradição imputada de uma juventude dolorosa. Mas nem tudo está perdido, afinal, como na entrevista abaixo, há uísque e Breaking Bad.
----------------------------------------------------------------------------------------------
Vocês estudam ou algo do tipo? E
isso tem algum impacto na sua música?
Rich: Bem, nós não realmente
estudamos; ambos não vamos à faculdade e acho que você poderia dizer que ambos
estudamos cinema que é outra área em que estamos interessados. Para mim, estudar
filme impacta na minha música, mais no passado do que no presente. Eu costumava
escrever muitas canções baseadas em emoções de filmes ou emoções que eu sentia
quando os atravessava, mas hoje em dia eu meio que escrevo as canções baseadas
no que experimentei ou como eu reagiria em situações hipotéticas.
Trey: Não, eu não estudo, se eu
tivesse que dizer algo seria as pessoas, eu estudo as reações das pessoas em
certas situações onde coisas acontecem. Eu sempre tive um pouco de interesse em
psicologia, não um grande interesse, só me fascina ver como as pessoas agem e
pensam. Eu também estudo outros músicos em outros shows, eu acho que assisto
intensamente. Enquanto as pessoas estão correndo por aí e moshando e se
divertindo, eu fico no canto observando os músicos e tentando descobrir como
eles fazem certas coisas, e quais equipamentos eles usam.
O que vocês fazem para sobreviver
na sua cidade?
Rich: Eu trabalho no cinema local e às vezes filmo vídeos pequenos
para negócios ou casamentos.
Trey: Eu trabalho em uma loja de comida saudável numa cidade
próxima, e também faço alguns trabalhos de fotografias/vídeos paralelamente.
Eu sou do Brasil e encontrei sua
música na internet. É claro, isso seria impossível se estivéssemos na Era pré
internet. Quais são as coisas boas do Bandcamp
e todo o negócio de download? Que bandas vocês encontram recentemente por causa
disso?
Rich: Eu acho o bandcamp e todo o negócio de downloads
de graça na internet fantásticos, isso realmente ajuda e bandas novatas ficam
mais fáceis de serem encontradas. Especialmente o bandcamp cujo qual sou um grande apoiador por causa de suas tags, eu sempre estou encontrando bandas
lá que depois me apaixono, eu meio que tenho uma rotina semanal de pesquisar as
tags:
screamo, emo e post-rock. Recentemente
encontrei Sadie Hawkins, Running Shoes,
e Flowers Taped to Pens (com quem nós
vamos gravar um split muito em
breve).
Trey: Eu amo demais o bandcamp, e eu amo música grátis. Metade
do meu ipod está cheio de música que
baixei do bandcamp, o Jovem Rich disse praticamente tudo que eu
teria dito. Algumas bandas que encontrei recentemente são Pet symmetry,
Greyscale, Marseille, Troubled Minds.
O EP de vocês do ano passado é
tão poderoso e frenético. A produção crua, grandes letras pessoais e gritos
poderosos com certeza marcam o ouvinte. Como foi o processo de gravação?
Rich: Primeiramente, obrigado
pelas palavras elogiosas, eu acho que vou começar do inicio. Um longo tempo
atrás Trey e eu iniciamos uma banda chamada South End Projects. Nós estávamos
com muito tédio então escrevíamos e gravávamos em loco. Então ele se mudou para
Seatle e eu permaneci na California, mas nós sempre planejamos começar uma
banda quando ele voltasse, então quando ele voltou nós iniciamos o American
Memories e eventualmente nosso amigo Mark se juntou para tocar baixo e fazer
alguns vocais e foi mais ou menos assim que começamos. Para mim, que toco
guitarra e escrevo as letras, criar as composições foi difícil, quero dizer, as
letras são todas secretas em alguns pontos, mas no final elas revelam como eu
me sentia no momento, eu penso nas canções desse EP quase como um jornal de
2012 para mim, muitas vezes escrevi músicas no trabalho quando atravessava o
ponto mais baixo da minha vida, outras vezes escrevi pensando muito introspectivamente
na minha vida e as coisas que eu relembrava e como me sentia em relação à elas.
Empty Houses e Bridges são as maiores para mim pessoalmente. As letras saíram
muito mais pessoais no álbum do que eu desejaria escrever.
Trey: Basicamente o Rich escreve
todas as letras, eu sou um saco para escrever letras, quando escrevo algo
normalmente acabo jogando fora. Então eu me foco mais no instrumental e na
bateria. O EP que lançamos ano passado foi uma experiência incrível, trabalhar
com Rich e gravar é tipo a coisa mais divertida de todas. Eu amo gravar. Eu
gravei todo nosso EP e também todo o pequeno EP Past Mistakes. Eu tenho gravado
e trabalhado com engenharia de som desde os 16 anos, eu trabalhava em um
estúdio em Seattle chamado Mirror sound Studios, Washignton, foi onde eu
aprendi principalmente como gravar. Tudo que gravávamos normalmente fica na
primeira tomada, raramente voltamos atrás e consertamos. Nós queremos que seja
tão cru e real quanto possível. Nós queremos fazer soar quase tão perto quanto
soa quando estamos ao vivo. Nós podemos escorregar aqui ou ali, mas é isso
mesmo. Eu tenho um grando problema inconsciente com bandas que são polidas nos
álbuns, e quando tocam não soam nada como nas gravações.
Vocês se apresentam com alguma
frequência? Nesse exato momento, qual o melhor lugar dos EUA para se estar com
uma banda independente?
Rich: Eu queria me apresentar
mais, tristemente as bandas na nossa área fazem parte da cena que copiam o
Killers, country, ou metalcore, então é muito difícil fazer apresentações. Há
algumas cidades de distância há uma cena punk mais movimentada então nós
estamos tentando entrar em contato com ela. Mas eu acho que para uma banda com
nosso estilo, a Filadélfia é o local para estar, isso ou o Reino Unido. Muito talento
e bandas fantásticas que eu amo são dessas áreas e parecem que estão indo muito
bem e que há uma cena que aceitou e se adaptou a esse tipo de música.
Trey: Nós não nos apresentamos em
merda nenhuma. Não por falta de tentativas, assim como o Rich disse, ou você
tem uma merda de banda de reggae, banda de country, uma cópia do The
killers.Nossa área, Costa Central, está tão morta, que só podemos tocar em
bares, ou locais que te cobram pra tocar.Eu diria que Los Angeles é o melhor
lugar para música, mas não é, ao menos que você seja o Bieber ou o estúpido skrillex.
A maior parte das bandas que nós ouvimos e o estilo que tocamos se encontra na
Costa Leste, e no Reino Unido está a nata da cena? É o que me falaram.
O que vocês têm ouvido
ultimamente?
Rich: Bomb the Music Industry, The Whoopass
GIrls, Flowers Taped to Pens, e Head .
Trey: Into it, Over it, Brave bird, This Town
Needs guns, The World Is A Beautiful Place & I Am No Longer Afraid To Die,
I Kill Giants.
Quais são suas maiores
influências?
Rich: As minhas são Bruce Springsteen, Old
Gray, Taking Back Sunday, Dads, Into It. Over It., e Dad Punchers.
Trey: Há muita coisa pra listar,
mas eu diria que primeiramente meus pais e minha avó, eles sempre apoiaram que
eu tocasse música. No tocante à bateria, John bradley do Dads, o baterista
original do "Norma jean" Daniel
Davison e uma bagunça completa de bateristas, e musicalmente eu diria The
Beatles, Bruce Springsteen, Daft punk, Snowing, johnny Cash, Norma Jean, At The
Gates, Mewithoutyou, The Misfits.
Se vocês pudessem escolher
qualquer música para fazer um cover (por aspectos afetivos), qual seria?
Rich: Provavelmente canções
populares, eu costumava tocá-las muito e é muito divertido.
Trey: Eu diria que qualquer
canção popular, ou hit das rádios dos anos 90, eu sou uma criança dos anos 90
então eu amo música de baixa qualidade dos anos 90. Talvez um cover punk de uma
canção do Roy Orbison, ou cover de uma canção de um gangsta rapper batendo em
alguém?
As letras como as de Bridges são
muito tristes. A tristeza é a força matiz para criá-las?
Rich: Eu creio que sim,
especialmente com Bridges. Eu acho que devo começar dizendo que as letras em
todo EP (excluindo Free Big D porque Mark escreveu a letra) são todas sobre
tentar seguir em frente com sua vida. Mas com Bridges especialmente. Eu acho que se pode dizer que a canção é
mais ou menos o que eu sinto sobre o lugar que eu cresci, há muitos velhos
amigos que eu me sinto alienado por não vê-los mais, e quando nos vemos é
sempre muito embaraçoso por nós todos nos tornamos pessoas diferentes, metade
isso e metade sobre como é difícil encontrar alguém no sentido romântico;
especialmente as poucas mulheres por quem eu tive algum sentimento são
realmente grandes amigas e nada, além disso, daria certo, então é essa a parte
onde “morrer aqui, morrer sozinho aqui” se encaixa. A segunda canção pessoal
baseada em tristeza completa é “Empty
Houses”, porque essa canção diz muito sobre a relação com meus pais e como
isso me afetou, e como seguir em frente com a minha vida quando todos já tinham
feito isso.
Qual é a sua canção favorita da
sua própria banda?
Rich: Merda, essa é difícil, eu
realmente amo tocar nossas novas canções; especialmente “Our Past, My Life”,
mas eu acho que minha favorita absoluta é “Empty Houses” que é a porra de uma
explosão quando tocada e toda vez que a gente toca, as letras significam muito
mais para mim. É realmente uma canção muito pessoal sobre meus amigos, meus
pais e meu futuro.
Trey: “"Driving all night"”, porque
Rich odeia tocar essa. “Empty Houses” também é foda.
Digam qualquer coisa, é a última
questão. Façam piadas, salvem o mundo, etc. Realmente agradecido.
Rich: Lana Del Rey está com tudo,
Breakin Bad está acabando em breve então isso é um saco, mas é incrível. Vinho
e cerveja são bons, mas o rei de tudo é do Uisque. Ser triste não é apenas uma
mania tumblr e apoiem sua cena local.
Trey: Emo é uma família, garotas
são um saco, no entanto me arrumem uma namorada. Coma quanto queijo puder; bata
nos atletas da escola; fiquem espertos para algum possível LP do American Memories, e também há um split que virá em breve com outras
bandas. Também urinem nas calças, todas as crianças legais fazem isso.