Ye Olde resgata sonoridades que já foram resgatadas; é um
disco de colagens múltiplas que surgem como uma invocação; é um ciclo que a
banda de Garchik não cessa de repetir e repetir, são voltas e voltas em uma
sequência errática, trêmula, esquisita (na primeira audição). A imprevisível distorção de guitarra que
fecha a primeira música abrindo para a “esquisitice” Tom Waits que a segunda
faixa inaugura. São apropriações que transgridem seus próprios limites e que
eclodem em pontos impensáveis. O resumo que Garchik realiza de seus gêneros
musicais favoritos totaliza as irrealidades (místicas!) que ele corporifica em
Ye Olde; ele vê uma espécie de unidade atrás de cada elemento dispare de sua
composição e não hesita em combinar essa ligação invisível que os instrumentos
compartilham. Por se tratar de um disco que dialoga fortemente com movimentos
passados, pode-se dizer que a saudade une tudo.
Mas o que poderia Garchick fazer para não ficar em uma
idealização do que aconteceu ou reduzir as ótimas possibilidades desse disco
para saudosistas em um discurso elitista? Ele chamou três dos guitarristas mais
aclamados pela nova safra do jazz livre (Mary Halvorson, Brandon Seabrook, e
Jonathan Goldberger). O ultramodernismo que essa obra pode aparentar com suas
dissonâncias e seus temas barrocos invocados pelo saxofone se debatem com a
memória afetiva de Garchik em que referências explícitas ao rock progressivo
dos anos 70 são feitas. A variação de Garchik com seu trombone mostra o
compositor em uma expressão estética totalmente livre; não fosse o limite de
sua nostalgia. Limites pontuados pela bateria de Sperrazza.
Cada faixa em Ye Olde constrói um pequeno pedaço da história que Garchik nos propõe. São músicas com a duração pequena se comparado
com o que se faz hoje em dia no jazz livre, e elas encontram seu ponto de clímax
rapidamente ao mesmo tempo em que essa explosão é realmente curta. As guitarras
sincopadas muitas vezes iniciam o trabalho como se realmente tivéssemos na década
de 70, até que partes de improvisação dos três guitarristas retomam o sentido
mais abstrato que toda a obra de Garchik tem abraçado. A realeza é palpável com
a incrível marcha clássica (que só não é propriamente erudita pelas divagações
elétricas) na última faixa. É um verdadeiro coroamento de tudo o que o disco propôs.
Para quem acompanha um pouco mais o jazz livre
contemporâneo, os três parágrafos anteriores são realmente desnecessários; o
time que Garchik monta aqui praticamente entra como o Barcelona tem entrado em
campo. Esse disco continua construindo a carreira de Garchik como um excelente
compositor e dos mais promissores na música contemporânea. Ele não só fez esse
time jogar bem, mas o usou para jogar muito bonito.
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