Que a programação da música clássica
não é mais é a mesma temos testemunhado ano após ano na realização do “faça
você mesmo” nesse tipo de composição. Em seus últimos trabalhos, é notório o
exame do compositor Adams nos intrincados padrões que conectam os organismos e
os ambientes em que vivem. Além desses micros padrões, Adams busca por uma
totalidade desses padrões e os macros sistemas que essa soma forma. Em busca de
uma totalidade que fosse registrada de forma minimalista, Kotche é encarregado
de todo o trabalho percussivo em Ilimaq.
Em Become Ocean, Adams criou uma
peça que representava uma sobreposição de ondas, e nessa tentativa de imersão
ecológica que ele foi além de uma romantização da natureza para expor um
desastre de ordem natural. Esse ponto de vista ecológico desconsidera conceitos
humanos como aquecimento global para refletir a grande indiferença da natureza
perante todas nossas preocupações mundanas. Become Ocean foi muito premiada e
se tornou uma linha divisória na abordagem ecológica que Adams criava sua
música até então. A evocação de imagens que representava a correnteza marítima
é a tentativa de totalizar o oceano explicando seus micros sistemas. A
experimentação de Kotche no terreno da música clássica se baseou em sua
carreira na manipulação eletrônica, sem uma abordagem tão “conceitual” quanto a
de Adams. Isso além dos trabalhos colaborativos de Glenn, que além de ser
membro de Wilco sempre trabalha com compositores importantes em terrenos
radicais e que frequentemente apelam para o livre improviso.
Adam considera o ecossistema como
uma rede de sistemas, uma multiplicidade complexa de elementos que funcionam
juntos como um todo. Para ele, a essência da música não reside em padrões
simples de harmonia, melodia, ritmo e timbre. É a totalidade sonora que
configura a plenitude da música. Por ser extremamente conceitual e Kotche
pautado muito na intuição, que Ilimaq é um momento de quebra de barreiras para
ambos os artistas.
O título do disco se refere a uma
jornada espiritual mas, conhecendo parte do trabalho teórico de Adams, acredito
que o mais justo seja chamar de jornada ecológica. São múltiplos elementos que
tentam se integrar em micro sistemas para formar uma totalidade- as gravações
de campo, as manipulações eletrônicas, a percussão. É somente essa sobrecarga
sonora que pode sintetizar uma unidade. Mais do que a estrutura calma visível,
Adams compôs algo que confronta suas obras anteriores e tem numa espécie de
“minimalismo totalista” a catarse para suas revindicações entre a suposta
aproximação de música/ecologia.
Os movimentos que compõe Ilimaq
se baseiam em vários níveis de velocidade e desaceleração- pode-se dizer que a
ideia de integração de Adams é justamente nessa dissonância de velocidades. As
oscilações de Kotche mostram-se importantíssimas para as ambições de Adams
então; não há possibilidade de totalidade sem os imprevistos. Esse ambiente é
frequentemente contaminado por interrupções eletrônicas e gravações naturais. A
totalidade é imprevisível. Mesmo assim essas seções indeterminadas e esses
encontros não catalogados constroem uma totalidade desinforme, onde o trabalho
gradual de Kotche ao mesmo tempo, desestabiliza e constrói esse panorama.
Tantos elementos que se encontram; é filtrada essa aproximação máxima à
ecologia que Adams defende em seus ensaios.
Pode-se encarar Ilimaq como um
rito, uma tentativa genuína de aproximação a um discurso que cubra todos os
pontos de uma obra, e é justamente na espantosa técnica de Kotche que o disco
destoa para um discurso vibrante. Adams exclama categoricamente seu conceito e
aproveita do talento de Kotche para fazê-lo. Resultados esperados não é o foco
de Adams, ao invés suas abordagens transgridem construções musicais comuns para
mirar sempre em uma totalidade, mesmo que abstrata e/ou invisível.
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