O projeto musical Yarn/Wire se trata da bilateralidade (são
dois pianos e duas percussões) e das simetrias e cortes que essa junção pode
causar. Os frutos disso são construções que soam inaugurais e só por isso o
conjunto já merece o louvor. Vol. 3 representa, obviamente, a terceira série no
trabalho Currents que o grupo vem apresentando há alguns anos e exibe um
“médium” inicial, cinco oscilações consecutivas, e a peça final que é a
integração desses elementos. É um desempenho ao vivo que mantém o legado do
conjunto na tentativa contínua de transitar entre terrenos novos, se
aproveitando da injeção de elementos exteriores e teoricamente “estranhos” ao
quarteto.
O grupo absorve essas teóricas excentricidades e as
transformam em uma continuidade surpreendentemente estável e com firmeza conduzem as
peças para os pontos mais macro que elas, inicialmente, não pareciam ter
resistência para.
Os elementos eletrônicos interagem com um piano desatado em
curiosos movimentos de conforto/retaliação. É uma convivência muito engraçada.
Ao mesmo tempo em que a combinação dessas execuções vai crescendo, os cortes
também vão soando mais severos e mais pontuais. Essas combinações que eu nunca
tinha ouvido são só possíveis ao ligar elementos teoricamente mais tradicionais
(piano e percussão) à tecnologia MIDI e uma investigação inventiva de quais
caminhos isso pode tomar. O piano realiza, em paralelo, os ataques mais
“delirantes” e também é responsável por trazer uma espécie de serenidade em
alguns momentos. Currents Vol. 3 se trata, sobretudo, de um delírio em tempos
que uma normalidade domina todos os charts de melhores discos do ano.
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