“ Minha descoberta não
veio de estalo, na aurora da vida, só a percebo agora,depois da morte dela”,
Fernanda Torres.
Quando decidia largar meu
emprego, foi decididamente para não matar meu coração. Sério, aquilo me matava.
Ter que conviver com pessoas covardes, que usam o puder como desculpa para seu
comportamento mesquinho, era uma tortura a cada dia. Eu tinha sede de outras
coisas, de me divertir em shows, tomar cerveja com amigos, porque existe sim
amor em SP, você só precisa saber onde encontrá-lo e com quem compartilhá-lo.
Estranhava o fato de a vida não ser sempre boa, comecei a duvidar: “por que não
tenho o direito de me divertir em tudo o que faço?”. Afinal, quem inventou essa
merda de chavão: “a vida não é só diversão”?
Porque eu estava cansado da angústia diária da rotina sufocante, não
valia a pena matar os poucos dias que eu tenho na Terra em troca de dinheiro.
Eu nunca fui normal, eu nunca precisei ser normal para ser feliz.
Que somos tão vivos, tão novos,
tão cheios do que é bom.
E nessa estrada efêmera
não podemos perder mais nada.
É clichê, mas é verdade: é vida é
absurdamente curta. Por que deixar sempre para amanhã? Por que futuros
possíveis paraísos e justificar nosso sofrimento terreno nisso? Ou em uma
futura carreira? Por que sempre a bosta de uma projeção para um futuro
hipotético? Não vale a pena chorar por esses chefes, essas pessoas covardes que
tentam toda hora dizer que nosso jeito de viver está errado. Já pararam para
reparar que não há nada no olhar dessa gente? Meus olhos brilham e chegam a
lacrimejar quando sou tocado por uma música, um livro, filme e lembranças de
amigos. Gosto disso e amo estar com essas pessoas. Faz tão bem. Para se
transformar o mundo não precisa muito, pelo menos é o que tenho confirmado para
mim. É só dizer não a toda convenção institucionalizada que se tornou universal
por processos históricos superquestionáveis. É muito mais fácil dizer não do
que parece; não ao trabalho fixo que mata todo dia, não ao planejamento de
carreira que materializa a felicidade em objetos. Eu fiz isso, disse não. Juro
que não sei o que vou fazer daqui para frente, como serão as coisas, como vou
viver, ganhar dinheiro, etc. Mas sabem de uma coisa, melhor me foder sabendo
que apostei tudo em sonhos de criança do que prosperar em uma dita vida adulta
de merda- sendo esculachado por gente covarde- que se sente poderosa por causa
de um cargo corporativo.
O que está por trás de meu olhar,
não consigo responder.
Meu coração não pensa!
O fogo que arde os meus ossos,
não consigo esconder.
Meu coração me entrega
e me diz que não acaba aqui.
Fato é que chegamos aqui. De
alguma maneira misteriosa, minha vida é formada mais de rabiscos do que linhas;
é como se tudo que passou fosse uma fantasia. Mas há histórias boas para se
contar. De como eu virei as costas para esse mundo idiota, e quando eu comecei
a dizer não para tudo que me massacrava, mais possibilidades boas foram
surgindo. Mais gente com quem eu queria me relacionar de verdade. A vida fica
muito mais interessante quando você se cerca de gente interessante. As noites
passaram a ser melhor. E cada dia parecia uma novidade. Uma incerteza. Viver
com certeza é assassinar a maravilha do desconhecido. Demorou muito para eu me
reencontrar. Reencontrar-me com aquele garoto, que ficava sozinho, ouvindo rock’n’roll no quarto, e que crescia
com medo de terminar abandonado. Hoje posso abraçar a criança que fui e dizer
que embora tudo esteja ainda tão confuso e há tanta angústia, que estar sozinho
não era ruim, que aquele garoto iria viver coisas fantásticas.
Não chores, oh meu anjo,
vem dançar e cuspir
nesse mundo.
Não chores, oh meu
anjo,
que essa gente
é o excremento dessa vida.
Importante
falar um pouco no som do Dance Of Days
também, não? Na realidade, não sei se é necessário. DOD é uma dessas bandas que
transcendem pelas palavras, cada berro só pode ser explicado verdadeiramente
quando se está num show do conjunto. ‘Não Maltrates Teu Coração’ é a banda
em seu melhor, alterando entre o punk rock e o hardcore melódico, com letras incríveis que abordam temas que
precisamos sim pensar todo dia para não cair na armadilha do mundo corrompido; autoconfiança,
solidão, não se render à tendências mercadológicas e resistência.
"Protesto é quando digo
que isso tudo não me desce.
Resistência é quando asseguro
que isso não mais acontece.
Protesto é quando me recuso
a seguir além com isso.
Resistência é quando asseguro
que todos virão comigo."
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