Thee Silver Mount Zion chega ao pico de expressar suas ideias como
forma de arte, provando ser uma banda totalmente livre. Fuck Off Get Free We Pour Light on Everything marca a maior
conquista do conjunto, no mínimo, nos últimos nove anos.
Logo no início somos apresentados
à intensidade carregada e bem arranjada do Mount
Zion. Seria dificílimo encontrar um gênero para descrevê-los, post-rock é o que chega mais próximo,
por causa do clima carregado e as longas sessões instrumentais. A música dá uma
grande sensação de crueza, pelas partes em que guitarra e violino são
“aranhados”. Os instrumentos dispersos, cacofônicos,
nunca se encontram, criam sua própria distorção em uma bela parede sonora.
Talvez isso seja o porquê da banda ser caracterizada como post-rock. Mas há um vazamento que o grupo ainda não havia
explorado que torna Fuck Off Get Free We
Pour Light On Everything o trabalho mais completo do conjunto.
A construção de Efrum Menuck na guitarra é bastante
singular, e é justamente isso que abre Fuck
Of... A primeira faixa resume bem o resto do disco, violino em constante
desacordo ressonante com a imersão das guitarras. Essa música, ainda assim, vai
por um caminho indefinido, sempre nos surpreendendo. É com certeza a canção
mais “pé na porta” que a banda já fez, terminando em meio tempo e deixando a
sensação de “porra, o que vai ter agora?”... E a resposta é nada mais, nada
menos, que Austerity Blues,
absurdamente selvagem. Uma canção que é oposta do “lugar comum”, via de regra post-rock (aquela especificação de
construção, clímax, outro). É aí que eles mostram onde acertaram, embora a
música tenha em comum a “crueza” que tinha a antecessora, é mais lenta,
equilibrando bem a ordem de escolha. No apogeu dessa cacofonia, a percussão
brilha. Para a banda derrubar, na sessão instrumental, tudo que tinha
construído, reduzindo a arquitetura a pó.
A impressão que Fuck Of deixa, é de assimetria, uma
desproporção abissal entre as faixas que constituem o disco. Temos a primeira
metade mais enérgica e contundente, e a segunda parte bem cadenciada; sem
correspondente vigor. A faixa que encerra a primeira metade, “Take Away These Early Grave Blues”, é a
musicalmente mais variada. Embora a construção não seja tão elaborada quanto às
antecessoras, seus muitos apontamentos abrandam os caminhos. Little Ones Run abre a parte mais
sentimental e bonita do disco. “What
We Loved Was Not Enough,” é o ápice do álbum, um grande hino. Como em uma
peça de teatro, invoca a tragédia enquanto estratégias são repetidas,
circulando ao redor do epicentro da música. Vocais de apoio ficam iterando “E o
dia surgiu onde nós não sentimos mais”. Poucos momentos musicais foram tão
aprimorados.
Fuck Off é o melhor trabalho até agora do Mount Zion. Em cada registro a banda tinha leves falhas para
alcançar a estética proposta, lógico, isso em termos da grandeza que o conjunto
alcançava em alguns momentos. Dessa maneira, há algo arraigado, mais denso, que
está presente em todos os pontos nesse álbum. Fuck Off é uma grande, espetacular, passional experiência, que
implora para ser ouvida.
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