“Depois dos setenta a
vida se transforma numa interminável corrida de obstáculos”,
FernandaTorres.
É certamente mais fácil entrar em
alguns artistas do que em outros. Por exemplo, as pessoas ouvem James Vicent por causa do seu visual?
Refazendo a pergunta; a maioria das criaturas gosta do músico em função de sua
estética? Mas por seu talento, o cantor já provou ser capaz de exceder gêneros
e harmonias simplistas comerciais em prol da música.
Porque ele tem algo a dizer. Falando
de bandas com a mesma “movimentação”, como Of
Monsters and Men e The Head and the
Heart, que começam as músicas em tom bem minimalista, para depois explodir
adicionando instrumentos “excêntricos”. A “ruptura” entre McMorrow ocorre justamente por ele trilhar seu próprio caminho. Post Tropical arrisca ao tentar se
mostrar despido de pré-formulas. O que James
Vicent fez: cortou tudo que lhe soava excessivo; sobraram as mínimas notas
ambientes e uma voz lúdica, com poucos outros adicionais.
Seu tom alto dá impressão de um
sonho em ambientes obscuros. Em “Cavalier”,
primeiro single do disco, há fortes
imagens desérticas que relembram o eu lírico de seu “primeiro amor” (sic).
Embora a voz possa soar doce e sutil, as entregas e insistências deixam a coisa
toda dolorosa. O investimento em tormentas pessoais também afastam Vicent de outras bandas, sua voz deixa
passar tudo o que lhe corrói a mente. A raiva e dor também são bonitas, por
isso combinam com o vocal de McMorrow.
Claramente, a finalidade de McMorrow foi reformular seu estilo. O
álbum é uma reviravolta do conceito de bandas como Volcano Choir e The Welcome
Wagon. Embora ainda haja muito o clichê de “cantor folk”, ele tenta se afastar ao máximo disso. Evidentemente ele tem
muito dessa música em sua raiz, mas encontrou também outras formas de se
expressar. Somado a isso, há também no disco a ação eletrônica, que vez e outra
provem base na música.
À medida que o disco avança, descobrimos
um James Vicent desestabilizado
emocionalmente, cheio de incertezas. Não que isso seja nada novo, estamos
cansados de saber de vários artistas que tocam nesses temas; mas McMorrow faz tudo com uma beleza
melancólica realmente tocante. James
Vicent sempre confessou ser fã de hip
hop, e ele homenageia o estilo à sua maneira, mantendo a crueza brutal nas
letras. O minimalismo eletrônico é facilmente comparado com Mount Kimbie, até o maravilhoso agudo de
McMorrow voltar a ser o epicentro da
música. O que gera uma mistura bem inusitada de Holy Other com Inc.
Essa redução ao mínimo confere à
voz de James Vicent todo destaque que
merece. Embora ele sempre tivesse isso, às vezes sua locução cobria tudo e
soava apenas como virtuose. As variações dos instrumentos são muito bem realizadas,
provendo ânimos diferentes ao longo do álbum. E eles às vezes aparecem
desconexos, até os sons dos vocais- por meio de letras diretas ou expressões-
reagrupar tudo, certificando a unidade.
Ao contrário de se encaixar nesse
gênero de “contadores de histórias”, com apenas letras íntimas e vocais
destacados, McMorrow aproxima esse
estereótipo folkista das bases
eletrônicas. Onde elementos programados de música eletrônica unem-se ao doce
violão acústico. Vale notar como seu instrumento de cordas- outras vezes
guitarra elétrica- acompanha as alterações no tom do cantor. Somado com outros
elementos que só aparecem de vez em quando, mostrando o quão livre foi a
criação. Isso intercala o que a música de James
Vicent foi e o que aparentemente pretende ser.
Talvez não seja um disco com o
mesmo impacto que o Early In The Morning
teve na cena “folk alternativa”. Mas aqui,
o álbum é mais variado e McMorrow
sente-se mais à vontade para experimentações. Em um tempo que muitos músicos do
mesmo gênero ficam confusos sem saber como agregar suas raízes simplistas à
novidade tecnológica, James Vicent
mostra que está mais por dentro do que nunca da música de qualidade que pode
ser feita atualmente.
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