“Lembro-me de outros caminhos,/ logo perdidos/ na metamorfose da madrugada.// Nunca estou onde estou,/ fogem-me abraços,/ harmonias e desalinhos. (A cidade sonhada)”, Alexandre Marino.
Espero que você tenha algum tempo
disponível para apreciar esse disco. E não me refiro a mera uma hora, pois isso
é ¼ do tempo que você vai precisar para ouvir November completo, um clássico protominimalista escrito pelo
lendário Dennis Johson, que jogava no
mesmo time de compositores como Pandit
Pran Nath, John Cale e Tim Parkinson.
Até a gravação épica completa do
pianista R. Andrew Lee, o mundo nunca
tinha sido brindado com uma versão inteira da obra, que aparentemente só foi
executada pelo seu criador algumas vezes, e que foi de grande influência para o
pianista La Monte Young.
Kyle Gann (crítico e compositor nova-iorquino) ficou obcecado com
essa música quando escrevia a biografia de Young, este lhe deu uma demonstração
em fita cassete contendo mais de 100 minutos do trabalho de Johnson, e assim
que foi possível digitalizar esse cassete, Gann
o fez.
O próprio Johson enviou a Kyle um
manuscrito autorizado da composição, mas como ele estava com problemas de saúde
não pode concluir toda a música, Kyle
então decidiu presumir a partir da fita cassete e do manuscrito enviado por
Dennis.
As anotações sobre composição da
peça variam a ponto de parte ser escrita na década de 70 e outra em meados dos
anos 80. Gann tinha ouvido que a
ideia inicial de Johnson era November
ter cerca de seis horas, o que foi fundamental para Kyle elaborar variações a partir do manuscrito original, pois tal
obra comporta inúmeras estruturas, mesmo que mínimas.
Ele estreou com sua amiga
pianista, Sarah Cahill, uma
apresentação da peça, onde ambos se revezavam no piano a cada hora. R. Andrew Lee era uma das dezenove
pessoas da audiência, ficou extremamente tocado com a música e decidiu que ela
precisaria de uma gravação à altura, para ressaltar toda técnica minimalista
criativa dessa obra já antiga.
O épico então estava prestes a
tomar a proporção do corpo que se tem ao ouvir a gravação. O que totaliza quase
cinco horas de ecos silenciosos e como o mudo se desloca enquanto som ao ser
marcado por um piano melancólico, como se cada nota tocada por Lee e criada por
Johnson finalizasse um vazio insuportável.
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