“Este descampado (ermo
sem fundo) onde não há ermida ou
alpendre: tudo é deserto
e as vozes dos deuses
se confundem nas sarças.”, Adriana Lisboa.
sem fundo) onde não há ermida ou
alpendre: tudo é deserto
e as vozes dos deuses
se confundem nas sarças.”, Adriana Lisboa.
Do jeito que você esperava!
Não podia não resenhar o meu
álbum favorito de 2013, e logo depois de oito anos de espera (bem, nada que um
fã convicto não suporte). São oito anos que provavelmente qualquer um que goste
do duo escocês pôde se debruçar sobre três discos incríveis; The Campfire Headphase (2005), Geogaddi
(2002) e Music Has the Right to Children (1998). Três discos certeiros que
catapultaram o BoC para um status
altíssimo na cena eletrônica ambiente. Toda essa espera, obviamente, reúne
ansiedade para que os lançamentos não sejam apenas a sombra do trabalho
anterior. Felizmente, o duo nos brinda com um lançamento à altura de suas
realizações!
Mas por razões óbvias (os discos
são sempre hiperproduzidos), a ansiedade se justifica mais porque querer ouvir
algo novo do que desconfiança da dupla. A consistência do BoC permite que qualquer anúncio prévio- como o duo publicou no
site- deixe os fãs demasiadamente eufóricos,
embora não seja muito provável que obras-primas como Geogaddi ou Music Has the Right to Children sejam repetidas.
Os irmãos têm como método de
gravação buscar equipamentos muito velhos, estudá-los com afinco, para depois
juntar os restos e construir uma música a partir daí. Eles passam, então, o
barulho original de um equipamento, digamos um aparelho VHS, para uma melodia harmônica
superproduzida. Por isso tantos anos entre seus lançamentos, um preciosismo e
apoteose criativa relacionada à produção estética que assusta qualquer criador
de música a partir de fórmulas pré-estabelecidas e relativamente simples.
Como um todo, o álbum explora um
retorno/avanço a uma época de sons primitivos e originais. Esse retorno/avanço
é concluído pelo fato de muita pouca voz via samples (o que sempre foi sempre muito utilizado pela dupla).
Apesar de todos os sintetizadores e texturas, Tomorrow's Harvest é com certeza a trilha sonora para a solidão, em
um ambiente onde a humanidade é deixada de lado.
Mas, mesmo nos isolando em
cacofonias com samples desconexos, o BoC ainda reutiliza elementos dramáticos
de sua discografia. Entre estes, faixas como “Split Your Infinities”; um ambiente vasto de percussão intimamente
ligada ao que se convencionou chamar de IDM. Enquanto eles se destacam em criar
intimidade e desolamento, a dupla não fica tão confortável com ambientes menos
hostis e mais abrangentes. Embora o impacto inicial expanda aparentemente as
possibilidades do disco, a abordagem não tão sutil da vastidão rende fáceis
multi-interpretações e uma relativa confusão.
No entanto, essas faixas se
destacariam se fossem isoladas em um EP, por exemplo, Come To Dust. Um lento eletrônico onde o andamento da música passa
pelo núcleo da percussão. Também contêm uma melodia central apresentando sons
divergentes que “caminham” livres durante a canção. Embora Tomorrow's Harvest seja muito mais direto e até “seco” do que os
álbuns anteriores ele misteriosamente não perde a marca do duo, onde sempre nos
perguntamos em algumas passagens; “o que é isso? Que influência é essa?”.
Talvez seja monótono o BoC lançar outro lançamento bom, muito
bom- ou até mesmo eles chegaram em seu limite em termos de criação. É claro que
a dupla carrega expectativas gigantes, assim como o corpo de trabalho que será
seu legado. Talvez por isso tenham optado pela ambiguidade.
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