Caso vocês (ainda) não repararam, eu sou um grande fã do que se convencionou chamar de "Midwest Emo". Vocês sabem, Mineral, American Football, etc . Para quem já é introduzido no estilo, sabe que The Jazz June é uma das bandas embrionárias, que fez parte de toda aquela movimentação "faça você mesmo" nos anos 90, ainda assim desenvolvendo letras introspectivas e emotivas.
Bem, quão grande foi minha surpresa quando o guitarrista Bryan, avisou que ele e o vocalista/guitarrista Andrew, aceitavam ser entrevistados! O que talvez diferencie o The Jazz June das outras bandas daquela época (e que talvez seja ressaltado no seu recente retorno aos palcos, junto com o histórico Braid), seja as métricas "angulares" da guitarra, as constantes mudanças de tempo, com a dinâmica quieta/barulhenta tão característica daquelas bandas.
Abaixo a entrevista, mais duas fotos das recentes gravações que podem sair em um álbum novo, ou em diversos splits 7 polegadas:
1. Quais bandas são
seus remédios?
Andrew: Eu sempre
gosto de tentar diversificar as coisas que eu ouço, então no momento eu estou
ouvindo uma velha gravação do Chrome, chamada Red Exposure, a
primeira gravação do Audacity, uma canção do Groove Aamada chamada Easy And Pentagram. Quanto às bandas que influenciaram o Jazz
June, eu diria que Fugazi, Superchunk, Archers of Loaf e Jawbox são
bandas que eu sempre desejei poder participar.
Bryan: Dinossaur
Jr, The Sea And The Cake, Jawbreaker, Fugazi, Samiam e Quicksand são as
bandas da minha juventude que permaneceram próximas a mim através desses anos.
Há álbuns específicos dessas bandas que administram os remédios.
2. Vocês percebem
muitas mudanças enquanto artistas e pessoas dos garotos que gravaram They
Love Those Who Make the Music e os homens que vocês são agora? Quais?
Andrew: Sim. Eu
estava apenas dizendo ao pessoal que, apesar de re aprender as canções que
vamos tocar para os shows CMJ, eu estou tendo memórias vividas à tona no meu
cérebro daqueles tempos. Eu acho que eu era um pouco mais otimista, ainda assim
mais nervoso naquela época da minha vida. Eu gostava da raiva crescente na cena
hardcore, isso realmente me afetou na época. Também, eu cresci em Nova
Jersey, então eu tinha muito daquele tédio suburbano misturado com a ansiedade
da Costa Leste fluindo através das minhas veias.
3. Vocês vão tocar com
Braid e outras bandas incríveis no próximo dia 19 de Outubro. Como o
público está reagindo a todas essas grandes bandas emo 90 tocando de
novo?
Andrew: Nós temos recebido respostas esmagadoras aos
anúncios de que vamos tocar shows e gravar novamente. É ótimo que a música
agüentou o teste do tempo e as pessoas ainda querem ouvir nossa música e de
nossos amigos com quem fizemos turnês nos anos 90, e essas pessoas ainda estão
aprendendo sobre isso.
4. Quais são sas boas
coisas que vocês aprenderam em uma banda que só são possíveis de se aprender
estando em uma banda?
Andrew: Tocar ao vivo, definitivamente. Muitas pessoas que
nunca estiveram em bandas comentam que amariam fazer turnê, mas fazer turnês é,
na verdade, uma existência muito chata. No entanto, quando você sobe no palco e
fica cansado e canta com as pessoas que gostam de sua música, é um dos melhores
sentimentos do mundo.
5. Há muitas bandas de
apoio tocando em suas apresentações. Quais realmente te pegaram e vocês
recomendariam para nossos leitores?
Andrew: Prawn
e Enemies, é claro.
6. A progressão e os
diferentes tempos são muito constantes na sua música. Alguns músicos
particulares inspiraram ou veio naturalmente por causa de todas suas
influências musicais?
Andrew: Don
Caballero sempre foi uma enorme influência nos aspecto técnico de nossas
canções. Nós sempre todos estávamos ouvindo jazzistas, como Ornette Coleman,
John Coltrane, Dave Brubeck, Miles Davis e Charlie Parker na época da
universidade, então isso deve ter aparecido gradualmente no nosso estilo.
Bryan: Da minha
perspectiva, eu adicionaria Fugazi e Boys Life na lista do
Andrew. Mais o Don Cab que ainda explode minha mente em pedaços.
7. Quais são os planos
da banda, agora?
Andrew: Nós
gravamos sete canções com o pessoal na Headroom Studios, na Filadélfia.
Andy do Hot Rod Circuit e Sloss Minor está as mixando
exatamente agora. Nós talvez vamos lançá-las como uma série de singles e
splits de 7 polegadas, ou gravar mais algumas e lançá-las como um álbum.
Esperançosamente nós vamos fazer mais algumas apresentações em 2014, mas é
difícil porque eu moro em Londres e Bryan está em Charlotte e Justin e
Dan estão na Filadélfia.
Bryan: Definitivamente lançar essas novas canções e
relançar adequadamente o The Medicine em vinil. Além disso, trabalhar em
nossos trabalhos de rotina, ser homens de família, tocar ao vivo em Nova Iorque
e no mostruário da Topshelf Records, então voltar a gravar mais canções
e colaborações através da internet.
Jazz June nas recentes sessões de gravação.
8. Eu imagino que
vocês leram a carta que o Albini escreveu para o Nirvana. Vocês
concordam quando ele diz que “se uma gravação leva mais de uma semana para ser
criada, alguém esta ferrando tudo?” E quais são as maiores diferenças entre
gravar nos anos 90 e hoje em dia?
Andrew: Eu não sei
se concordo com isso. Eu realmente aprecio gravar uma canção e então desconstrui-la, adicionar camadas e ajustar as coisas no período pós-produção.
Eu acho que a maior diferença para nós é poder conseguir gravar em casa. Por
exemplo, para essas canções recentes, nós gravamos as faixas básicas no estúdio
para uma fita análoga na Filadélfia. Eu voltei para Londres e gravei todos
vocais digitalmente e enviei por e-mail
para o Andy adicionar ao mix final. Eu consegui fazer no meu tempo e
gravar múltiplas tomadas sem pagar taxas de estúdio por hora. Nos anos 90 nós
só tínhamos quatro dias para fazer uma gravação completa então muitas coisas
eram feitas à pressa ou deixadas de fora porque nós simplesmente não tínhamos
dinheiro.
Bryan: Eu concordo com a afirmação de Albini e
compreendo que essa crença é realizável quando a banda opera em período
integral, ensaiada, e preparada para entrar no estúdio para gravar um álbum.
Sobre as diferenças dos anos 90 e agora, naquela época nós saiamos do estúdio
com gravações originais em fita, agora tudo é realizado inteiramente no
computador e a maioria das gravações são feitas em casa. Suficientemente
interessante, nós usamos fitas e computador nas nossas últimas gravações, então
estamos construindo pontes entre as épocas.
9. As cicatrizes lhe
provaram algo?
Andrew: Essa canção surgiu quando fazíamos muita turnê e
cedíamos muita de nossa energia e vida à banda. Não era sempre divertido estar
longe da família e dos amigos na estrada, nós nunca fizemos muito dinheiro
então poderia ser uma batalha. Não estou reclamando, mas não era sempre festa e
toneladas de cerveja. Foi daí que o nome da canção surgiu, cedendo tudo a uma
banda e ter as cicatrizes para provar isso. Esse conceito se tornou relevante
novamente quando nosso roadie, Andy, teve uma cirurgia para remover um
tumor cerebral, então foi por isso que escolhemos esse nome para um álbum
beneficente.
10. Pensando em todo
movimento emo 90, eu só posso lembrar do Appleseed Cast não
terminando. Vocês têm alguma idéia de porque isso ter acontecido com
praticamente toda cena emo dos anos 90?
Andrew: Para nós,
realmente nunca terminamos, mas nós paramos de tocar regularmente e fazer turnê
porque nós tínhamos família e obrigações pessoais que tornava complicado estar
na estrada com a banda. Ao mesmo tempo grandes gravadoras estavam mergulhando e
assinando com bandas emo na esperança de que elas poderiam monopolizar o
sucesso comercial crescente do gênero. Isso deixou o negócio um pouco mais
brutal e nós fomos desligados disso tudo. Apenas não era tão divertido, eu
suponho. Eu ouvi histórias similares com outras bandas daquela época.
Bryan: Eu acho que
muitas bandas começaram na faculdade e uma vez que aqueles anos de universidade
acabavam, era época de arrumar um emprego e pagar por sua educação. Nos anos 90
você precisava estar na estrada para encontrar um novo público e vender
gravações. Muitas bandas dissolveram porque fazer turnê todo o tempo era
exaustivo ou os membros da banda afastaram-se depois da universidade ter
acabado, tornando impossível fisicamente manter a banda junta. E ainda ficou um
pouco esquisito aquele período delineador do rock-pop-punk-emo.
11. Os membros da
banda tiveram outros projetos desde que o Jazz June parou de tocar.
Vocês podem nos contar o que aconteceu musicalmente entre esses anos?
Andrew: Dan
e eu estivemos no Snakes and Music por alguns poucos anos. Bryan
costumava tocar conosco de tempos em tempos no nosso último álbum, Isabelle. Justin
e Bryan estiveram numa banda juntos, chamada Ready to Rip. Há outros
projetos que também nós todos fomos envolvidos, como as gravações solo do Bryan
que todos nós tocamos e Wake up Dead que eu comecei por volta de 2005 e
tocamos juntos até hoje.
Bryan: Eu tenho escrito música, no mínimo umas 100 canções
que nunca ninguém vai ouvir. Eu costumo apenas fazer uma “jam” com meus
amigos músicos durante todos esses anos, nunca mirando em algo sério porque eu
estava focado em apoiar minha família. Recentemente, realmente esse ano, eu
tenho estado motivado em transformar meus anos de composição em canções
plenamente realizadas para o Jazz June e outros projetos.
12. Aqui, no
Brasil, muitas pessoas estão descobrindo as bandas de 90 só agora. Há um número
razoável de pessoas ouvindo seus álbuns, os álbuns do Mineral, American
Football, etc. E sobre as novas bandas, quais do tão chamado “emo
revival” vocês acham que se tornarão grandes? (musicalmente falando, é
claro).
Andrew: É legal ver
que este pequeno subgênero do indie rock está rompendo a um público mais
amplo. Houve muitos comentários sobre o aspecto “revival” nas últimas
semanas, então vou manter minha opinião sobre isso curta... Boa música
permanece contra o teste do tempo, vamos ver quem dessa Era “revival”
vai permanecer daqui há 5 ou 10 anos.
13. O que me fez amar
sua banda por volta de 2007 (quando um bom amigo me mostrou suas canções) eram
as letras introspectivas combinadas com as ótimas mudanças sonoras durante
todos os álbuns. Quais bandas vocês gostam que tem esse tipo de característica?
Andrew: Liricamente, eu sempre achei que o Blake
Schwarzenbach sempre colocou muita idéia e esforço em escrever muitas
letras poéticas. Eu também admiro as letras do Stephen Malkmus para os
álbuns do Pavement. Eric Bachmann também é um gênio lírico.
Musicalmente há muitas bandas que eu admiro para mencionar. Enquanto há alguém
tentando fazer coisas fora do molde tradicional popular eu terei tempo para
isso.
14. É a última.
Realmente agradecido. Vocês podem dizer qualquer coisa, salvar o mundo, fazer
piadas. Por favor, se de algum modo um de vocês vier para o Brasil, me falem e
vamos beber algo.
Andrew: Eu não sei
se você leu meu posto no blog do Washed
Up Emo, mas aquelas provavelmente são as coisas mais bizarras e engraçadas
que aconteceram com o Jazz June.
Nós adoraríamos
sair com você e beber junto. Diga a qualquer promoter que você conheça que nós
adoraríamos tocar no Brasil para o pessoal. Obrigado pela entrevista.
Facebook: The Jazz June Facebook
twitter: @thejazzjune
bandcam: thejazzjune.bandcamp.com
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