“De todos os lados, brotavam feridos no mato bombardeado, atraídos pela
possibilidade de se protegerem. A entrada da vala estava horrível, abarrotada
de feridos graves e moribundos. Uma figura nua até a cintura, de costas abertas
por um ferimento, apoiava-se à parede. Outro, com um naco triangular de cérebro
pendurado no crânio, não parava de berrar de forma estridente e tocante. Ali
imperava a grande dor, e pela primeira vez eu vislumbrava as profundezas de seu
reino através de uma fresta demoníaca. E as explosões não paravam.” Ernst Jünger.
Dessa vez, devaneios.
A chegada do Crash Of Rhinos na cena emo
britânica foi uma sacudida muito necessária, uma estreia notável com sonoridade
fresca que emocionava desde a primeira ouvida. Distal era uma festa em casa, um
convite aberto para erguer uma raquete, derramar bebidas, rir alegremente.
Esses rapazes gritavam suas preocupações para longe com um braço em volta dos
seus ombros, persuadindo-o a fazer o mesmo! Apesar de ser uma banda emo- eles ostentavam o mesmo alvoroço e
camaradagem como o Japandroids e Titus Andronicus, levantando os pulsos
com fervor. No entanto, seus gritos de guerra desconsideravam qualquer mensagem
definida, favorecendo a liberação pura em slogans ingênuos- “Eu tenho um futuro
no fracasso” sendo o mais memorável. Para aqueles que encontraram a deixa para
cantar junto, essa gravação se tornou muito amada e incessantemente bem-vinda.
Ao apresentar Knots, fico tentado a dizer “isso é
amadurecimento” ou outro clichê, porque essa é uma gravação muito mais
contemplativa. Crash Of Rhinos agora
rumina sobre seus problemas ao invés de lançá-los em jams catárticas. Onde a banda desce de passagens melódicas até as
mais contemplativas dando espaço para respirar, persistindo na reflexão até que
o clamor seja apenas uma memória vaga. É uma mudança arriscada para uma banda
cuja estreia fez sucesso por sua comoção, e marca Knots com o ônus de indenização. Apropriadamente, porém, eles deram
um passo à frente instrumentalmente e liricamente. O título do álbum é
indicador preciso: nós intricados, jogo de guitarra matemática que confunde a
mente, desejos e complicações, nós que amarram e quebram em relações humanas.
Apreciar esses aspectos é a chave para gostar do álbum, enquanto Distal
quebrava sua mentalidade. Essa é a melhor pista que eu posso oferecer para quem
está em cima do muro em relação à Knots.
Crash Of Rhinos deu um passo além de suas influências para moldar
um som mais estável e pessoal. Esse passo significa que foram também além da
diversão “mais básica” que Distal proporcionava, trabalhando mais na
composição, ruminando as canções com longas pontes que invertem os tempos
(ainda assim ocorrem alterações vertiginosas de rápidas), enquanto o som
matemático e angular perpassa enorme precisão. É um álbum mais gradual e que
melhora com o tempo (não tem aquele “choque” do Distal, de pensar, “caralho,
que foda” logo no começo), destacando uma banda muito jovem alçando voos demasiados
interessantes.
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