"A realidade é o peor, nunca a phantasia, por mais exaggerada que esta
seja, para bem ou para mal.” — Glauco Mattoso.
Para sentir no mínimo alguma
coisa, mesmo que a seja indiferença.
Quando eu estou no meu trabalho e
olho pela janela, para as ruas cinzentas, eu vejo os mesmos detalhes, o mesmo
tédio, um clima metropolitano caído. Os anos passam, a vizinhança de casa
continua igual, um vizinho ou outro muda, um ou outro chega, e eu não consigo
não relacionar isso a tudo que de bom vem surgindo no midwest emo. Crescer e ver uma suposta felicidade idealizada
desmoronar é triste, e parece que a extensão dos dias só garante essa percepção
irrealizável. Essas bandas de midwest emo,
aceitam isso e recolhem em canções confessionais que às vezes chegam a doer de
tão tocantes que são. Lembremos-nos da profunda melancolia do Mineral, ou da
infelicidade latente que emerge do trompete no único disco cheio do American Football, partes barulhentas
alternadas com dedilhadas delicadas para contrabalancear esse treco que a gente
tem no peito; essas bandas definem exatamente a maneira que eu cresci.
Todas as influências ficam
desmascaradas aqui, mas de maneira fascinante o nível de qualidade é tão bom
quanto ou até superior. Não é idiotice imaginá-los em plenos anos 90, e se isso
ocorresse, estaríamos cultuando os garotos como um clássico perdido, como o
Elliott, por exemplo, (embora sonoramente a banda esteja mais próxima do Promise Ring). Talvez seja mais fácil
mesmo hoje apenas utilizar o melhor de todas aquelas bandas maravilhosas, ou
alguém poderia afirmar que é só mais uma banda “revival” que vive em nostalgia, ainda por cima revivendo um ritmo
que quase morreu, mas as músicas que embalaram tardes solitárias ainda ecoam.
Nesse nível de gravação, o Everyone
deixa claro seu público alvo, e não fica muito interessado em agradar gente de
fora desse nicho. Eu ainda consigo me relacionar ouvindo essas pedradas
enquanto vou ao trabalho, com os fones de ouvido como se só existissem essa
trilha sonora e uma paisagem desolada urbana pelo vidro do ônibus, ou seja,
ficando nostálgico pelo simples fato de existir.
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