“Nós considerarmos que
isso é tão surpreendente diz algo sobre nós...”.
Na frase da própria Jane, podemos
extrair o sentido na nossa (não) capacidade de ouvir barulhos considerados não
musicais, ou seja, nossa decrescente ao que se costuma chamar de médio, som de
massas, ou desajustes a certos princípios que estão fora de nossa cosmogonia
perceptiva- fomos tomados pelo monstro do subjetivo!
Dentre a nossa sensibilidade
perdida, Out of Range explora sons
que sinalizam algum tipo de perfeição dentro da nossa própria cabeça, a
impressão é de uma pesquisa autentica de alcance sonoro e perceptivo. Em 1968,
enquanto Paris fervia, Bob e Becky Vernon encenavam um drama familiar
no Vietnam, para quase cinquenta anos depois Jana transformar o mesmo ambiente
degradado da guerra em estímulo de animais irracionais potenciais catalisadores
de sonhos, capturados com equipamentos sonoros adequados, exibindo a relação
entre o silêncio, a realidade carnal, enquanto investigamos seu próprio
ambiente, e sua forma de sobreviver.
Já observado em seus trabalhos
anteriores, Jana tem uma excelente bagagem no que se refere a uma construção
espacial quase palpável. O acúmulo de frequências estridentes, cadência íntima,
sons de pássaros e uma manipulação divina atingem nossos cérebros, exprimindo
uma sensação inaugural. No decorrer de tudo, encaramos o nada em seu esplendor,
sem amarras intelectuais, com viradas sutis e aconchegantes, onde as palavras
se fazem desnecessárias; aliás, tolo erro meu tentar resenhar isso aqui. Ao
ouvir esses sussurros tão simples e profundos, que dão sensação de infinito, e
a gentileza que toda a ambientação me lembra do nada originário, nossa breve e
curta estadia na Terra, nossa insignificância.
Em Out of Range temos um notável arranjo, que deixa fãs de Field recordings com água na boca,
enquanto mostra para os iniciantes que o apuramento perceptivo-auditivo é um
longo, enorme caminho. A noção e caracterização intelectual só vêm à cabeça
depois de ouvir a gravação completa- é que nesta somos captados para outro
plano de consciência. Após a audição total, percebo que ela está me educando a
nunca mais esquecer sons que nos fascinam pela sua complexa simplicidade.
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