Uma das maiores injustiça dentro
do metal é a cena thrash brasileira,
especificamente nos anos 80, não ser tão reconhecida como, por exemplo, a
californiana. Que me lembre, Sarcófago e Holocausto são tão importantes para o
desenvolvimento do estilo quantos outros monstros sagrados. Tanto que o thrash brasileiro, enquanto emergia,
unia o que mais lhe satisfazia da cena norte americana e europeia, da
agressividade suja do Exodus à algo
mais destrutivo como o Possessed. A
“falta” de bandas importantes esteticamente nesse estilo talvez ocorra no mundo
inteiro. Por sua vez, o Nervosa vem
com uma sessão crua nostálgica que me dá esperanças.
Por sua vez, Victim of Yourself tende para um trhash metal em alta velocidade com vocais raivosos, como o Destruction, o que diferencia o Nervosa de outras bandas thrash atuais. O estilo de vocalista da
Fernanda Lira me lembra de muitas bandas que tinham um pé no Black metal, ou
como chamam lá fora “blackened thrash
metal”, sendo talvez hoje o melhor exemplo disso o Toxic Holocaust. Não é um disco que apresente grandes variações e
estruturas dinâmicas, até porque carrega todo o passado histórico do thrash metal tradicional; mudanças de
tempo, ótimo riffs e uma atitude “pé
na porta”. Esta atitude fica completa e definitivamente coloca um sorriso no
meu rosto com blast-beats e a guitarra
harmonizada com riffs quebrados sequenciados.
A banda fica imersa nisso, em praticamente esmurrar sua face a toda hora.
E é claro, algumas introduções
contem sim momentos mais lentos, mas nada que justifique chamá-los de
“variações”. Não que isso seja necessariamente ruim, as partes furiosas- ou
seja, todas- garantem o jogo. Hoje, em um vasto terreno musical em que às vezes
uma mistura complexa de elementos pode mostrar-se infrutífera, respirar
terrenos antigos e jogar com a tradição é algo valioso. O trabalho de bateria
da Pitchu Ferraz é incrível. Apesar
da demanda técnica exigente para acompanhar os riffs e as constantes mudanças de tempo na música, ela é
superprecisa em viradas, muito intensa. Em metal, ela realiza o que é ainda
mais importante- tem plena noção do espaço que seu instrumento ocupa, e não
toma conta da parada, embora tenha talento para isso.
A falta de variação pode
comprometer quem também está interessado em outros estilos musicais e no produto
que as combinações destes possam gerar. Mas acho que elas não ligam para isso,
sinceramente. A firmeza é onipresente aqui. A construção da mudança de tempo
pode ser a mesma em todas as músicas, o que não impede de pensarmos “caralho,
que riff foda” pelo menos doze vezes
durante o álbum. Por isso, o disco mantém a essência básica do thrash: balançar a cabeça, porra. Cantar
como fazem suas grandes influências musicais deve deixar a também baixista,
Fernanda Lira, ainda mais contente com a potência nostálgica criativa que é
esse álbum. O fato de não haver muitas variações não quer dizer absolutamente
uma falta de contrastes, por exemplo, na assinatura dos tempos; 6/4, 4/4.
Cantar e tocar -como os heróis musicais- pode parecer sonho de crianças. Cantar
e tocar como o Sodom, é pra quem
treina muito. Canta por um fogo, por capas com zumbis e reatores nucleares e
por nomes que estampam nossas camisetas.
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