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terça-feira, 25 de março de 2014

Nervosa- Victim of Yourself [2014], A nostalgia em riffs.



Uma das maiores injustiça dentro do metal é a cena thrash brasileira, especificamente nos anos 80, não ser tão reconhecida como, por exemplo, a californiana. Que me lembre, Sarcófago e Holocausto são tão importantes para o desenvolvimento do estilo quantos outros monstros sagrados. Tanto que o thrash brasileiro, enquanto emergia, unia o que mais lhe satisfazia da cena norte americana e europeia, da agressividade suja do Exodus à algo mais destrutivo como o Possessed. A “falta” de bandas importantes esteticamente nesse estilo talvez ocorra no mundo inteiro. Por sua vez, o Nervosa vem com uma sessão crua nostálgica que me dá esperanças.

Por sua vez, Victim of Yourself tende para um trhash metal em alta velocidade com vocais raivosos, como o Destruction, o que diferencia o Nervosa de outras bandas thrash atuais. O estilo de vocalista da Fernanda Lira me lembra de muitas bandas que tinham um pé no Black metal, ou como chamam lá fora “blackened thrash metal”, sendo talvez hoje o melhor exemplo disso o Toxic Holocaust. Não é um disco que apresente grandes variações e estruturas dinâmicas, até porque carrega todo o passado histórico do thrash metal tradicional; mudanças de tempo, ótimo riffs e uma atitude “pé na porta”. Esta atitude fica completa e definitivamente coloca um sorriso no meu rosto com blast-beats e a guitarra harmonizada com riffs quebrados sequenciados. A banda fica imersa nisso, em praticamente esmurrar sua face a toda hora.

E é claro, algumas introduções contem sim momentos mais lentos, mas nada que justifique chamá-los de “variações”. Não que isso seja necessariamente ruim, as partes furiosas- ou seja, todas- garantem o jogo. Hoje, em um vasto terreno musical em que às vezes uma mistura complexa de elementos pode mostrar-se infrutífera, respirar terrenos antigos e jogar com a tradição é algo valioso. O trabalho de bateria da Pitchu Ferraz é incrível. Apesar da demanda técnica exigente para acompanhar os riffs e as constantes mudanças de tempo na música, ela é superprecisa em viradas, muito intensa. Em metal, ela realiza o que é ainda mais importante- tem plena noção do espaço que seu instrumento ocupa, e não toma conta da parada, embora tenha talento para isso.

A falta de variação pode comprometer quem também está interessado em outros estilos musicais e no produto que as combinações destes possam gerar. Mas acho que elas não ligam para isso, sinceramente. A firmeza é onipresente aqui. A construção da mudança de tempo pode ser a mesma em todas as músicas, o que não impede de pensarmos “caralho, que riff foda” pelo menos doze vezes durante o álbum. Por isso, o disco mantém a essência básica do thrash: balançar a cabeça, porra. Cantar como fazem suas grandes influências musicais deve deixar a também baixista, Fernanda Lira, ainda mais contente com a potência nostálgica criativa que é esse álbum. O fato de não haver muitas variações não quer dizer absolutamente uma falta de contrastes, por exemplo, na assinatura dos tempos; 6/4, 4/4. Cantar e tocar -como os heróis musicais- pode parecer sonho de crianças. Cantar e tocar como o Sodom, é pra quem treina muito. Canta por um fogo, por capas com zumbis e reatores nucleares e por nomes que estampam nossas camisetas.

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