Tenho a impressão de estar
completamente isolado, em um lugar remoto, perturbador. O que está acontecendo?
São ruídos distintos, quer dizer, quando ouvi a primeira vez, pensei que os
distinguia, agora nem sei o que são; barulhos que causam desconforto, agitação
e inquietação; uma espécie de ritual do desconhecido.
Outra coisa, os instrumentos não
parecem querer dialogar- clarinete, violoncelo e bateria aparentam disputar e
impor silêncio aos outros dois, como se fosse impossível dividirem o espaço e
iniciar qualquer espécie de diálogo.
Já falei da espécie de não
dialogo que é esse registro, e a percussão é categórica nesse sentido. Mesmo
que tradicionalmente a função da bateria seja harmonizar e guiar o resto dos
instrumentos, aqui ela cria barreiras concretas que impendem negociações, como
uma porta trancada que não permite um acesso de um cômodo ao outro.
Este processo de distanciamento e
não dialogo dos instrumentos fica ainda mais estranho quando eles atingem seu
“pico”, se em 1961 Ornette Coleman
já praticava o anticlímax em Free Jazz,
Jeremiah reforça esse tipo de
trabalho, catapultando agora para uma espécie de crescendo onde os sons ficam
desconexos e sinistros.
Apesar dos trinta e oito minutos,
as duas peças somadas que compõem Pale
Horse parecem muito mais longas, depois do fim, estou quase sem respiração,
incansavelmente procurando a luz após um confinamento abafado entre tantas
rejeições, a procura de ar para respirar.
O disco que Cymerman nos presenteia é tão tenso e bizarro quanto o antecessor, Sky Burial, pode acreditar que poucos
conseguem criar um ambiente tão aflitivo e desconfortável quanto sua capacidade
de livre improviso e noise que tem nos
pulmões!
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