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quarta-feira, 26 de março de 2014

AGF - Source Voice [Line - 2013]


Os mesmo bicho que come nóis, come esses filhas da puta; lá embaixo, fio, é que se descobre que tudo mundo é igual”, Ferréz.

Ao contrário de grande corrente das gravadoras experimentais (algumas parecem se importar mais com o “nível de experimentação” do que a qualidade intrínseca do artista), o selo Line tem lançado coisas muito boas. Em visita a um canto pouco explorado em sua obra, como na capa em que a cor tenta sobressair à coloração monótona, temos a AGF. Nesse novo disco, Antye Greie-Ripatti retorna explorando bases ainda inéditas em seus trabalhos.

Em “Source Voice”, temos a supressão dos vocais tão característicos da artista, como em busca de uma identidade nova através de operações digitais. Encarnada em uma percepção alheia, “The Human Condition” abre o jogo com a voz diluída por elementos digitais, um prefácio perfeito para todo disco. O que vez a seguir, em “Breathing In Lines”, é exatamente o que o título sugere. Resistindo a um drone híbrido, a voz se apresenta como outra parte naufragada em um ambiente imerso em gelo. Ressuscita o trabalho mais intelectual da artista com uma simples e singela música ambiente. Passando todo o “Source Voice”, é uma luta entre a balança de teses acadêmicas e o que soa bonito e natural na desconstrução do principal instrumento da vocalista, sua voz. “Souce Voice” é, acima de tudo, a descaracterização de uma zona de conforto, como o noise-dub de “Voice Count”; minimalista e quieto. Povoado de ruídos manipulados, revelando que outra batalha também ocorre para AGF: até onde vai o limite da manipulação se ainda quer fazer música carnal e não somente cerebral? Seres parecem habitar “Digital Yolk”, outra música que passei pelo drone ambiente. Ou será que Anty só está tentando achar novas fórmulas para sua bela, poética voz? “Hum Pitch Play” fecha o disco da mesma maneira que começou, uma voz arrastada misturada a inúmeros elementos eletrônicos, o ciclo se fecha (ou recomeça).

Já nos últimos suspiros, saímos renovados de outro bom lançamento da Line. O que de melhor tem o álbum é a exploração de processamento digital e de fatores como manipulação de mecanismos do ouvinte, sem cair num elitismo acadêmico. No caminho: cores, a condição humana, respiração, vozes, digitalização da música, retorno. Ao final, embora seja um som denso e imerso, não é particularmente noise. O disco surpreende em seu formato de pesquisa; seria muito difícil, sem o título esclarecedor, saber que alguns sons na gravação são produzidos por vozes. O que torna tudo mais incrível; os sons mais belos produzidos em Source Voice nascem do vocal de Antye.

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