“Os mesmo bicho que come nóis, come esses filhas da puta; lá embaixo,
fio, é que se descobre que tudo mundo é igual”, Ferréz.
Ao contrário de grande corrente
das gravadoras experimentais (algumas parecem se importar mais com o “nível de
experimentação” do que a qualidade intrínseca do artista), o selo Line tem lançado coisas muito boas. Em
visita a um canto pouco explorado em sua obra, como na capa em que a cor tenta
sobressair à coloração monótona, temos a AGF. Nesse novo disco, Antye Greie-Ripatti retorna explorando
bases ainda inéditas em seus trabalhos.
Em “Source Voice”, temos a supressão dos vocais tão característicos
da artista, como em busca de uma identidade nova através de operações digitais.
Encarnada em uma percepção alheia, “The
Human Condition” abre o jogo com a voz diluída por elementos digitais, um
prefácio perfeito para todo disco. O que vez a seguir, em “Breathing In Lines”, é exatamente o que o título sugere. Resistindo
a um drone híbrido, a voz se apresenta
como outra parte naufragada em um ambiente imerso em gelo. Ressuscita o
trabalho mais intelectual da artista com uma simples e singela música ambiente.
Passando todo o “Source Voice”, é uma
luta entre a balança de teses acadêmicas e o que soa bonito e natural na
desconstrução do principal instrumento da vocalista, sua voz. “Souce Voice” é, acima de tudo, a
descaracterização de uma zona de conforto, como o noise-dub de “Voice Count”;
minimalista e quieto. Povoado de ruídos manipulados, revelando que outra
batalha também ocorre para AGF: até onde vai o limite da manipulação se ainda
quer fazer música carnal e não somente cerebral? Seres parecem habitar “Digital Yolk”, outra música que passei
pelo drone ambiente. Ou será que Anty só está tentando achar novas
fórmulas para sua bela, poética voz? “Hum
Pitch Play” fecha o disco da mesma maneira que começou, uma voz arrastada
misturada a inúmeros elementos eletrônicos, o ciclo se fecha (ou recomeça).
Já nos últimos suspiros, saímos renovados
de outro bom lançamento da Line. O
que de melhor tem o álbum é a exploração de processamento digital e de fatores
como manipulação de mecanismos do ouvinte, sem cair num elitismo acadêmico. No
caminho: cores, a condição humana, respiração, vozes, digitalização da música,
retorno. Ao final, embora seja um som denso e imerso, não é particularmente noise. O disco surpreende em seu formato
de pesquisa; seria muito difícil, sem o título esclarecedor, saber que alguns
sons na gravação são produzidos por vozes. O que torna tudo mais incrível; os
sons mais belos produzidos em Source
Voice nascem do vocal de Antye.
Nenhum comentário:
Postar um comentário