“… era preciso haver
um lugar em que você pensasse, de cuja existência soubesse e pelo qual talvez
suspirasse- mas jamais viesse a conhecer”, Alice Munro
No final de 2012, surgiram alguns
ruídos bem criativos. Dead Body
Collection oferece mais de setenta minutos de pura imersão no desconhecido,
e com uma linda arte artesanal preto-e-branca.
O disco é composto de duas longas
músicas sem nome. Eu fiquei muito admirado com as texturas da primeira faixa,
que embora seja sim difícil de “digerir”, tem ruídos prolongados e de maneira
nenhuma agressivos. Como em um lugar desconhecido, sua simbiótica -com nossos
ouvidos- é organizada por uma interessante relação de percepção. Em relação às
mudanças, a primeira ocorre ao redor dos 10 minutos, demolindo o ritmo. Aos 20
minutos, as interferências internas ficam mais intercaladas, quase sem harmonia
principal. Outra variação ocorre aos 27 minutos, voltando a ter um tom mais
harmônico- com uma textura que vacila entre rápida e lenta.
A segunda faixa- também não
nomeada- é apenas um prolongamento da primeira, ocorrendo à mudança entre as
músicas de forma orgânica. Não mais temos barulhos rápidos, ao invés disso, o
desempenho anda em circulo, a busca da fixação inexistente. Este processo é
desequilibrado e nada preciso. Você pode pensar aos 10 minutos de música, que
as coisas vão se abrandar, porque os barulhos suavizam- ledo engano, o
ressurgimento inesperado é concretizado com tanto peso como uma chuva de
granitos. E a repetição de enganos não se prova seletiva ou involuntária- no
resto de toda a faixa, as texturas vêm, voltam, ficam mais densas novamente. O
som passa por outra mudança aos 20 minutos, onde pequenos tecidos que haviam
esparramado durante os primeiros dezenove minutos de música juntam-se, ou
tentam se reconstruir “amigavelmente”. Apesar de ao decorrer da obra, pensarmos
“eu já ouvi isso”, a maneira que as fagulhas a pouco deixadas no caminho voltam
à tona e se tornam base da construção sonora evidencia que a repetição é de
fato uma arte. Ficamos trancados nesse muro sonoro, e ao nos depararmos com a
liberdade- ou quando se encerra o álbum- a sensação é de confusão.
Além de uma qualidade gritante, Psychological Mechanisms é sim um
trabalho psicológico que lida com uma questão: é possível existir liberdade
onde a repetição é cotidiana? Neste sentido, é óbvio que a única resposta
plausível é ouvir o disco e tentar compreender o processo de elaboração de
alguma possível saída. Resposta, eu não tenho. Mas quem disse que os meios têm
que justificar os fins?
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