Prawn / Joie de Vivre- Split [2014]
“... cercados por uma
variedade de gente de fora, essas pessoas de dentro não tinham aspectos de
pessoas normais, afinal”, Alice Munro
Tem uma distinção clara entre
essas duas bandas, embora elas mais ou menos sigam a mesma tendência que tanta
gente tem insistido em chamar de revival.
O que vemos no Joie De Vivre são
canções melancólicas, meio-tempo e as guitarras “twinkly”. O Prawn utiliza
muitos elementos de pós-rock, aliando todo um cuidado com o processo
instrumental e as habilidades líricas tipicamente emotivas. Mas apesar dessas
aparentes diferenças, ambas unem-se para criar o lançamento mais legal do emo nesse ano, por enquanto.
Por sua vez, o Joie De Vivre continua na linha de seu
último lançamento cheio, We’re All Beter
Than This: canções curtas, menores que três minutos. Apesar disso, cheias
de momentos realmente memoráveis. Diferentemente do tempo de duração de suas
músicas, a banda está interessada em instantes que realmente capturam, como no
trompete que acompanha a bateria detalhada, as dedilhadas de guitarra e as
explosões desta com a voz imbatível do Brandon.
Ora, esse segmento e imposição de certo estilo musical, ou modo de criar sua
ambientação estética, catapulta o Joie
para uma banda distintíssima, seja pro bem e pro mal. No meu caso, eu adoro.
Quando o disco atinge a parte do Prawn, o jogo já está ganho, e a banda
completa com sua deliciosa simplicidade, instrumental detalhadíssimo com pausas
dramáticas, referências às séries de TV. A banda continua brincando com as
estruturas do “gênero”, e se mostra aqui um conjunto com mais vontade e
irreverência do que nos lançamentos anteriores. Os sentimentos, claro, à flor
da pele, invocando uma bela paisagem melancólica passiva, contemplativa.
E alguém talvez possa dizer: “mas
em apenas cinco canções, esses rapazes conseguem lançar algo que é de
substância?”. A resposta: sim. Hoje, nessa moda insuportável de apelidar
qualquer banda na estética de ambas como “emo
revival”, esses conjuntos mostram algo: há sim coisas importantes
acontecendo entre pequenas gravadoras e as bandas que elas abrigam. A música
independente e o coração agradecem.
Adventures / Run Forever 7″ Split [2014]
Certa aptidão ocorre no indie internacional: aumentar o volume
dos instrumentos e abaixar o vocal, e eu amo isso! O fator “superprodução” é um
saco, limpar todo o som é uma merda, a vida não é sempre tão arrumadinha e certinha.
Aliás, a minha, quase nunca. As coisas que passam pela minha cabeça, meu deus,
tão incertas e esquisitas que pedem tipos musicais cada vez mais improváveis e
anormais. A minha vida é feita de tantas incertezas- música é uma das poucas
certezas- que é bom saber que existem pessoas do mesmo jeito, passando pelas
mesmas merdas (minha meta nesse post
é quebrar o recorde de “merdas” em uma única postagem).
Na união do Adventures com o Run Forever,
é realizado um trabalho pequeno, porém muito inteligente. A comunicação entre
ambas as bandas não poderia ser melhor, oriundas de Pittsburgh, o dialogo
musical é realizado baseado em guitarras muito altas. Apesar disso, as
diferenças são evidentes na primeira ouvida: em “Call Me At Night”, o Adventures
usa uma tonalidade extremamente distinta. Dentre a qual, um casamento de
guitarra/voz que causa um ambiente conturbado. Em 1994, isso seria muito mais
elogiado, mas não é simples retromania, e sim desenvolver baseado na mentalidade
de vinte anos atrás para conseguir soar refrescante hoje, e conseguem. O mesmo
esquema é seguido em Thin, ainda um
pouco mais lenta, com os vocais escondidos atrás do barulho instrumental.
Já o Run Forever começa com “Headlights”,
uma faixa que lembra muito Basement.
O que remete, na verdade, a muitas bandas que transitaram do hardcore melódico para um clima mais
arrastado, com texturas de guitarras. No que se refere a uma apresentação ao
vivo, essa música tem tudo para deixar algumas cabeças zunindo. Ao final, “Lost This Feeling” completa o sentido da
primeira canção, não sendo tão pesada.
Em aproximadamente dez minutos,
fãs de ambas as bandas e também de outras do gênero, sairão muito satisfeitos.
Após ouvir essas quatro faixas, é bem provável que você comece a gostar das
duas bandas- ou se era fã de uma, apreciar a outra.
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