“Algumas pessoas se afundam, elas não são ajudadas a tempo. Não são
ajudadas de forma alguma. Algumas pessoas estão mergulhadas em trevas.” Alice
Munro.
Melhorar um excelente disco de
estreia é para poucos. The Hotelier conseguiu
isso. O conjunto no auge da criatividade.
Sinceramente, não sei como
descrever todas as emoções que são transmitidas através desse álbum. Lembro-me
bem de gostar muito do primeiro disco da banda, mas esse segundo pode atingir
outros níveis. Sim, The Hotelier ainda
toca certo; quero dizer que dessa vez tem algo a mais! Um som expandido,
trabalhado, com a mesma urgência e paixão dos garotos de anos atrás.
Tenho certo receio de começar com
aquele papo clichê de “amadurecimento”, mas é certo que pelo menos dessa vez,
os garotos aprenderam a observar o mundo ao redor e exercer empatia. O que
melhorou aqui foram as letras, o instrumental continua afiado e variando muito
entre diversos tipos de rock, focando mais no que se convencionou chamar de post-hardcore. Christian Holden mostra que é o melhor frontman do emo
contemporâneo! Há de se ressaltar sua
entrega, nas canções mais gritadas e nos lados mais suaves. Home, Like NoPlace Is There exibe um
vocal em seu máximo desempenho, com uma intensidade que casa muito bem com a
dinâmica da guitarra. Há quem diga que o emo
é um gênero tipicamente (pré) adolescente, mas o que ocorre aqui é a exploração
de temas muito complexos, tênues, profundos. Para isso é misturado hardcore e emo, encorpando as longas
canções.
Aqui, os assuntos que permeiam as
canções são substanciosos, o que obviamente edifica os conceitos implícitos.
Não, Holden não aborda coisas
corriqueiras de um típico adolescente americano; seus assuntos incluem confusão
de gênero, suicídio, amadurecimento. Esta espécie de abordagem atinge seu auge
diversas vezes ao longo do disco, como quando é relatada a perda de alguém
próximo por vontade própria, referindo um bilhete que a pessoa deixou antes de
se matar, o constrangimento que isso gerou na família, o modo como “libertou
seu espírito”. Digo dessas coisas porque são de importância visceral para a
compreensão da ideia maior do disco, que passeia por vários assuntos densos e
complexos.
I called in sick from
your funeral.
The sight of your
family made me feel responsible.
and I found the notes
you left behind; little hints and helpless cries, desperate wishing to be over.
Este disco não caminha apenas
dentro de um gênero, e é isso que o faz tão sensacional. Digo isso para você
não se “acorrentar” a pré-definições de estilos e julgar o disco por si, mas
para um norte bem resumido ao mesmo tempo superficial: algo entre Brand New, o primeiro Green Day, At The Drive-In e Sunny Day
Real Estate. Lembrar-se dessas bandas, no entanto, beira o irrelevante, uma
vez que a força própria do álbum é imensa. E as canções transbordam muita
emoção por parte de Holden ampliada
pelas poderosas guitarras que exibem diversidade. Home, Like NoPlace Is There é com certeza um dos grandes
lançamentos do ano. Apesar da “dificuldade” na primeira ouvida, a alternância entre
diversos estilos e norteamento em vários assuntos, somados a certo tipo de
crueza e produção “B” (muitas vezes, muitas vezes mesmo, a guitarra sobressai
ao vocal), como um mundo muito mais complexo que o simples maniqueísmo de
bandas modernas, exibe um conjunto no seu auge. Isso, em dois discos. Não é pra
todos.
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