Era uma casa nada engraçada.
Nas pequenas cidades, os
habitantes que ali residem tem que combater diariamente a carga da honra. A
perseguição ocorre desde os tempos de criança, e se você, por alguma acaso, fez
algo errado mesmo nos primeiros momentos de consciência como pessoa, isso irá
te perseguir. Apesar de você ter mudado, apesar de você ter melhorado, parece
que a poça é muito pequena para qualquer quantidade de água não transbordar.
Dentre todas essas coisas da vida, provar quem você é, e porque merece ser
tratado bem, exige enorme esforço. O habitante nas letras do La Dispute é essa
típica pessoa, oriunda de uma pequena cidade e que ter que lidar continuamente
com o problema de reputação. O que ficou claro em Somewhere at the Bottom of the River..., onde esse típico não
estereotipado e demasiado real sobressaia-se na lírica e nos vocais explosivos.
Já em Rooms of The House, embora a
“população” ainda seja possivelmente da mesma vizinhança, há uma variação
temática muito maior para o vocalista Jordan
Dreye se debruçar.
A banda ficou muito mais interessante
quando parou de fazer poemas demasiado românticos (o que talvez explique a
baixa popularidade das letras atuais entre a galera teen). Sonoramente, Rooms of the House é uma melhora
continua do que foi o Wildlife. O
foco aqui são os pequenos momentos e como eles ficam documentados no narrador
lírico. A banda parece afirmar que a história é uma sucessão de equívocos
eternizados em nosso consciente. Se Somewhere...,
continha àqueles momentos épicos, talvez até demais, Dreyer aprendeu a centralizar também em situações aparentemente
mais tranquilas. Como pinturas cotidianas, reflete a construção diária fora do
apenas melodramático que ele desenvolvia tão bem. Ser instrumentista no La
Dispute não deve ser fácil, as letras exigem demais e sua entonação
completamente não musical não alivia em nada. Mas eles não sucumbem e criam
beleza a partir da progressão dos acordes entre versos calmos e partes pesadas.
O vocal de Dreyer, em alguns
momentos, exerce o que poderíamos chamar de cantar, é exatamente aí que a banda
foca em um tema completamente cativante. Em alguns momentos, em algumas
canções, Dreyer teria certamente
berrado até seus pulmões, aqui não, ele opta pelo mais difícil, o que talvez
cause algum estranhamento para fãs dos discos anteriores.
Em um ano que bandas emo tem optado por falar sobre “coisas
pequenas” e assuntos familiares- vale lembrar o último disco do Hotelier-
Dreyer demonstra que ele ainda lidera
quando o assunto é a capacidade de relatar dramas domésticos. Sinceramente não
entendo o problema do pessoal falando que suas canções são sempre, em última
análise, austeras, defender tanto a perspectiva de como a arte deve ser
exprimida e optar incessantemente por uma abordagem, sem deixar o nível cair
nunca, é um baita mérito. A experiência de anos em temáticas que se aproximam (não
que se repitam) deixa clara a evolução do La Dispute, álbum pós-álbum. O
problema é que já existe um ferrete cravado na pele da banda, o de ter que
fechar a janela e deixar tudo escuro pois haverá chumbo grosso. Essa reputação
pode afastar muitos ouvintes, mas com certeza alavanca a banda que nunca olha
para trás, em nome de um comprometimento com a arte sem muitas comparações por
aí.
PS: Nem preciso falar que pra mim
é o disco do ano, até agora.
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