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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Heli- Violência nunca é agradável.

As genitálias de um homem são queimadas enquanto um dos autores de tal humilhação diz a outro cativo: “fique de olhos abertos para não perder o show”. Nosso ponto de vista: um México violento de Amat Escalante onde é evidenciado o ciclo de violência que torna o protagonista, Heli, um pessimista e cético absoluto- inclusive sua irmã. Obviamente, o filme deu o que falar em Cannes, especialmente pela sua audiência que parece afirmar através de relações escandalosas que violência não pode ser arte, basta lembrar o que aconteceu com Anticristo, de Von Trier.

A bota que amassa a cabeça de Beto, para depois este ser mostrado como sinal de vergonha em ambiente público, é o que?
Difícil saber o que gera de fato a violência, se há tanta que não somos mais produtos e nem produtores, mas apenas baratas que se movem com agressividade realista que não víamos em Cannes desde Lola, em 2009. A aleatoriedade funciona em seu sentido mais cruel, quando a retirada de um corpo revela outro. Aqui, teremos uma clássica explicação, e voltamos no tempo cronológico para explicitar como os dois homens brutalmente machucados na cena inicial foram parar ali. Não há trégua.




Acontece que um desses rapazes violentados é Heli, que trabalha em uma metalúrgica, tem uma esposa e um recém-nascido, além disso, os três com seu pai e sua irmã mais nova, Estela. Esta, com os hormônios da adolescência à toda, está namorando Beto, um jovem e viril rapaz que está treinando nas Forças Armadas, tanto que em dado momento Beto simula fazer exercício de academia como se a garota fosse a barra. As cenas que envolvem Beto nas forças Armadas revelam o caráter de violência cíclica que aplica o filme, quando é obrigado por um treinador estrangeiro, provavelmente norte-americano, a rolar em cima do vomito, ou quando os “colegas” o colocam de cabeça para baixo dentro de um buraco que é o suposto lugar para defecar.

Para se casar com a pequena Estela, Beto rouba dois consideráveis pacotes de cocaína, ele pretende vendê-los e se casar com ela em outro lugar, distante dali. Heli descobre esses pacotes e decide se livrar deles, um ato que vai ironicamente salvar sua vida física. Quando a Força Armada chegar, Heli será levado com Beto em uma sequencia de violência física que culmina em uma casa onde crianças jogavam um jogo virtual tão violento quanto às coisas que seus superiores- pais, irmãos ou simplesmente adultos que moram com elas- fazem para torturar Beto e Heli.





Todos estão expostos à crueldade, é o que parece afirmar Escalante com certa tragédia- como na cena em que um tanque encara Heli com um policial dentro, a aleatoriedade do universo é demasiada dispersa para garantirmos que nada acontecerá conosco. A cultura do narcotráfico pode ser algo batido para a estética do cinema, mas o drama além de tudo familiar que o diretor aqui joga torna tudo tão mais próximo da gente. Como já visto em seu último filme também premiado em Cannes, Os Bastardos, a brutalidade crua tomou conta de Escalante- é triste que nós precisássemos nos deparar com tamanha selvageria para lembrar que nem um cômodo da casa é um lugar seguro.

 

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