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terça-feira, 5 de maio de 2015

Disasterpeace - It Follows [2015]

Podem-se adentrar diversas temporalidades na trilha sonora que o Disasterpeace criou para o filme It Follows. Talvez porque é uma trilha sonora, mas o funcionamento de ambiências instantâneas e abruptas, que nos alçam a um clímax que nem poderíamos desejar, é uma espécie de terror verdadeiro. Nossas bases são fracas e serão corroídas por instantes mínimos que destroem tudo o que tínhamos por seguro. Então é gerado um atrito entre a realidade aparente (essa objetividade demasiada que ilumina o mundo) e uma movimentação interna que se relaciona com nossos demônios independente da posição do sol. O tempo da expressão em It Follows é talvez mais fidedigno a essa realidade interna indiferente às posições astrais. Ele pode sim ser escravo de uma subjetividade, mas é a expressão que se constrói sem esperar nada alheio. Talvez isso nem seja possível para Rich (Disasterpeace é seu alter ego).

Rich Vreeland cria seus ambientes para destroçá-los. E aqui tudo pode ser usado- percussão, vento, drones, guitarra, instrumentos de sopro, áudio de bits. A representação do terror é otimizada na maior possibilidade das vertentes, desde uma composição clássica a sons residuais que podem causar distúrbio. Assim, as surpresas são maiores também. A curta duração das faixas possibilita maiores abordagens e rasgos, de modo que pouca coisa realmente perdura em It Follows. Fica então a certeza da fragilidade, da queda iminente. Como em uma estação noturna, onde os faróis altos de um automóvel irrompem o ambiente para sumir em seguida, as elipses sonoras promovidas por Vreeland seguem a lógica de se estabelecer por pouco tempo. Não somos capazes de memorizar esses sons, mas a sensação deles fica registrada nas audições. Lembramos-nos do arrepio, da intensidade- mas não lembramos propriamente como essas ambientações foram construídas.

As faces do terror então desfilam pela grande expressividade que essa única sensação pode causar. Como se fosse uma metamorfose insana, a flexibilidade com que o Caos se adapta no decorrer do disco como uma coisa anômala sem identidade única. A monstruosidade não tem uma face apenas, então é necessário que suas diversas vertentes (mesmo que sejam paradoxais em alguns pontos, como música oriental tranquila/abordagem eletrônica insana) funcionem como engrenagens distintas nesse Sistema de medo, como uma maleabilidade perpétua. Em todos os instantes de “modificação” em It Follows, somos confrontados com o desconhecido, e é nessa manifestação que o álbum adquire maior intensidade e nos centraliza no cerne dessa condição monstruosa implacável.

Uma das maiores surpresas em It Follows, é como as abordagens que nos parecem conhecida e até certo ponto amigáveis, transforma-se rapidamente em criaturas bizarras. Como uma extensão mais “grotesca” dos trabalhos antecessores do Rich Vreeland, ainda temos aqueles ambientes mais meditativos, mas os efeitos escondidos (como em Pool, onde parece que há uma goteira na música) sempre trazem uma função mais “anômala” para a audição. Esse diálogo com a música ambiente contemporânea serve tanto para o objetivo principal desta, ou seja, nos “situar” em algum lugar, assim como meios para implodi-la em terror e desdobrar suas vertentes mais sinistras. É sério, é incrível como algo tão meticuloso transforma-se sem fissuras num harsh noise pesadíssimo! E essa progressão e consequente transformação, ainda que embalada em sons agonizantes, não perde a mão em drama e construção de clímax. Rich obviamente não consegue enxergar um universo tão simplista.


Com consecutivas audições, todo esse “caos” vai se determinando em um bloco bem planejado de “diversas expressividades” do Caos. Problemas mais profundos que um “horror superficial” emerge; identidade, localização, reconhecimento. Ouçam em um quarto escuro, para que todos os signos sejam mais “essenciais” e mesmo em seu inferno, mais belos.

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