É raro hoje em dia encontrar
algum paralelo para o corpo sonoro poderoso que Gustavo vem construindo. Estranhamente
pouco citado, eu sempre me pego surpreso com a capacidade de sua música me
“deslocar”. São tentativas muito verdadeiras de moldar sons tão densos em uma
estética que “narre” algo. De alguma maneira, A New Life in a New Planet me soa como um desbravamento- uma única
longa canção de quarenta minutos que tenta localizar espaços menos óbvios,
localidades ainda não pensadas.
É por isso que A New Life in a New Planet tem uma
sonoridade fantástica. É impressionante como uma quantidade absurda de efeitos
variados em um mesmo instante consegue estabilizar marcas. Tenho isso como
cenas na minha cabeça; cenas de dificuldade enorme, pois poucas coisas são
realmente agradáveis nesse álbum. Se em Inverno tínhamos um poderoso solo de
guitarra para nos orientar durante a passagem em um terreno nada hospitaleiro,
nesse disco tudo soa como extraterrestre. Sons alienígenas tão surpreendentes
como improváveis que invadem sem aviso algum qualquer zona de conforto. É por
isso que insisto; ouvir cada álbum de Jobim é se surpreender.
Em seu bandcamp, Gustavo informa que esse trabalho é diferente dos
anteriores, pois tem mais camadas e efeitos digitais. Eu me pergunto como foi o
processo de criação, me parece que A New
Life in a New Planet objetiva uma chegada bem obscurecida, se não inexistente. Eu
nunca precisei de temas para ouvir música. Acho que é por isso que credito
tanto a esse álbum. Há algo na música de Jobim que “só” ele consegue fazer. Não
me refiro a tecnicismos como “densidade sonora”, musicalidade ou produção. Quero
dizer que há certa “ordem” que não consigo identificar
propriamente que traz essa sensação de “transe” durante toda a audição. Cada
variação invoca uma nova imagem, de modo que temos uma justaposição bem ruidosa
de elementos que se encontram nesse clima realmente “estranho” que Gustavo
imputa ao disco.
A discografia de Gustavo está
cheia de discos “climáticos”, ou seja, álbuns que nos deslocam enquanto
ouvintes. Suas múltiplas abordagens refletem um artista interessado em não se
repetir, e embora nós encontrássemos aqui muitos elementos semelhantes ao Tsunami, por exemplo, estes soam
completamente autênticos. Repito, Jobim é um músico interessado em terrenos que
não foram totalmente explorados, por isso as consecutivas audições de sua obra
nos revela desbravamentos incessantes de diversos ângulos. Alguma força reside
oculta sobre a diversidade sonora de New
Life in a New Planet, mas ela sempre está tangível, sempre a deriva- como
uma paisagem que ainda não vemos, ou uma localidade escondida atrás das árvores
na beira da estrada.
O maior trunfo desse álbum é
também sua maior, digamos, “inconveniência”. É nitidamente um disco difícil, mas
realmente divertido à medida que vamos avançado. Ele parece que fica menos
“escandaloso”, mas aquela estranheza inicial permanece. Ora, tamanha
monstruosidade não era provocada pelo volume do barulho e pela soma dos
efeitos, mas principalmente pelos sons que estes emitiam- um contraste gritante
com o que estamos acostumados a ouvir. Algo difícil de encontrar mesmo nos recônditos
mais profundos, algo novo.
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