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sábado, 14 de fevereiro de 2015

Lupe Fiasco - Tetsuo and Youth [2015]

De volta em 2007, Lupe afirmava quão preocupado ficava com os fãs e com as gravadoras enchendo seu saco para ele reduzir suas letras, deixá-las mais “simples”. Logo elas que são os maiores trunfo da maioria dos mc’s (o trunfo de outros vai para seu tanquinho ou sua aparência “gangsta”, mas não vou entrar nesse mérito)! Pegue letras como Dots & Lines, por exemplo, onde há uma preocupação notável para não se tornar apenas outra “alma vendida”. Mas aqui me atento a um contraponto. A base, definitivamente, não é ceder aos interesses comerciais. Porém, muitas vezes, toda essa complexidade nas letras me soa forçada, imposta por um pedantismo escondido em algum lugar desse universo hiperativo que é o cérebro de Lupe.

E aqui vamos ao paradoxo do que uma mente tão sucinta pode criar. De um lado, temos algo completamente singular no hip-hop. Além de seu flow que vai do estilo livre às rimas melódicas decididamente pensadas, uma complexidade que às vezes tange a abstração (e não quero dizer que “abstrair” seja algo necessariamente ruim, mas não se encaixa com sua dinâmica e proposta de hip-hop) e músicas definitivamente de resistência, tanto em sua sonoridade que está sempre, de algum modo, conectada com a formação negra norte-americana (e aqui podemos desenhar um paralelo com D’Angelo) quanto ao apelo lírico, abordando o racismo desde suas formas primárias ao show business. Falo da complexidade das letras porque nos beats, Lupe não tem medo de simplificar a parada quando assim lhe parece necessário. Esses beats ambientam micro-histórias que, com a subjetividade obviamente implantada (Lupe não consegue não “tirar” sua versão moral sobre os fatos, ele é um observador perspicaz), constrói em nosso imaginário imagens e signos que se fundem. Como expliquei anteriormente, sua imensa amplitude e variação no tocante ao instrumental alcança a música afro-americana do século XX, imersão que realmente remete o período pós-barroco e melodias passivas, meditativas e reflexivas. No entanto, ele convida algumas participações que parecem que não têm maturidade o suficiente para acompanhar tamanha variação.

As expectativas de um hip-hop mais “tradicional” serão rebaixadas e lá pela sétima faixa (são dezesseis no total) você vai perceber que não é isso que ele quer, e não é isso que você vai ter (e aqui podemos pensar numa discussão interessante entre quebrar as “expectativas” do ouvinte e praticamente negar uma tradição cuja qual você está supostamente ligado, ainda mais uma tradição que tem suas origens na subversão). Mas como uma pessoa que pensa na abrangência e tem nela uma criação calcada vai preencher expectativas , digamos, mais “baixas”? Talvez ainda não estejamos no seu nível, talvez suas raras habilidades dentro do meio mais “mainstream” assustem um pouco as pessoas ou talvez ele esteja andando mais do que sua criação permite. Para isso, nós precisaríamos de uma visita mais calma na sua discografia, mas vamos tentar nos focar na imanência e importância desse álbum, nesse ano e em seu terreno. O álbum é longo e desobedece (outras expectativas quebradas!) uma sequência lógica ou linha narrativa. Isso não teria problema algum se ele não estivesse, justamente, envolto em histórias e se valendo delas para sua expressividade. E num ponto onde as bifurcações parecem tão confusas (porém intencionalmente complexas) temos outra grande falha- dicotomias relativamente simplistas entre as melodias que antecedem os gêneros (onde ele passeia entre o popular, as ênfases pesadas e os vocais gospels) e o flow típico do hip-hop contemporâneo. Digamos assim, é excelente essa abrangência e uma mente que tente subverter expectativas só que, se analisadas com alguma cautela, essas subversões não discursam suficientemente para o tamanho que Lupe almeja.


Obviamente Lupe não quer ser purista e eu (acho que a variedade de temas no blog implica isso) não estou pedindo isso, pelo amor de deus, não. Mas parece que ele se lançou numa missão apenas tecnicista e se esqueceu de que deveria ter elaborado algo antes. Não podemos contar só com a ambição e com a técnica. Ao ponto que alguns ouvintes vão se sentir traídos, outros aparecerão por tamanho apelo ao “universal”, eu creio que ambos os tipos (e tudo entre esses dois polos) vão se sentir perdidos. E parece que Lupe está um pouco perdido, também.

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