Cline é um desses manos que não
encontram limites nem gêneros que bloqueiam qualquer insinuação musical que lhe
passa pela mente. Em Macroscope,
novamente ele se mostra como um músico que usa o jazz como ferramenta e não
como gênero estabelecido- até porque suas abordagens invadem muitos outros
terrenos- ruídos, samples repetidos,
andamentos agitados e metais harmônicos. A sua marca é fazer de passagens tão
densas e experimentais serem ainda assim agradáveis e dançantes.
Realmente, a ideia do trio de
convidar músicos para faixas específicas, como esperado, potencializou o som do
conjunto. Sou grande fã do Cline, mas vale relatar o nome dos outros músicos:
Josh Jones e Cyro Baptista na percussão, Yuka
C. Honda nos teclados, Trevor Dunn
no contrabaixo e Scott Amendola, um
baterista já conhecido para fãs dos trabalhos anteriores.
Apelando para uma sonoridade que
irrompe em imagens, o Singers manteve
as faixas raramente ultrapassando os seis minutos, algumas com melodias mais
relaxadas, outras com influência de blues, o que caracteriza as partes
“dançáveis”, que eu citei acima. Do desenvolvimento experimental às pontes que
nos fazem querer balança, há uma camada de livre improviso enquanto as
percussões não perdem a unidade que caracteriza o álbum.
Os escapes são formados por
metais e agitação aparelhada. A repetição do som e a estrutura rítmica são
quebradas pelas partes mais “fusion”.
Fazendo jus ao nome, é a primeira vez que existe algo com vocais- claro, apenas
para acompanhar o instrumental, nada de letras. Algumas canções estreiam
“berros” digitais, árduos fuzz,
enlaçados por frases de guitarra que nos remetem ao heavy metal.
Obviamente, os ótimos solos de
guitarra merecem destaque à parte. Não são solos convencionais, como esperado
Cline assina sua singularidade incrementando múltiplas projeções em um processo
bem orgânico.
E durante todo esse percurso,
temos vários momentos que catalisam certas sensações como anarquia, a guitarra
cintilante e aflita, bateria detonando e outras anormalidades, baixo curvado.
Isso tudo fica claro na última faixa, onde tudo parece tão furioso e tenso. E
então, o fim. No máximo da loucura, um silêncio que mostra o rompimento inesperado
em nossas bases que é Macroscope. Ou
seja, um disco que nos mostra que o The
Nels Cline Singers honra o título do álbum se recusando a reduzir sua
sonoridade em um terreno com possibilidades tão múltiplas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário