Em meio ao impiedoso caminho que
o carioca nos confina em uma tensão poderosa, sinto que não há formas de se
libertar da perpetuação entre tantas sobreposições. Não se trata de um
amontoado, pelo contrário- é um artista que evita obviedades para nos imergir
em um espaço temporal completamente desconhecido.
Em Cassetes, não há propriamente
uma lógica clara, embora deva existir uma espécie de coerência artística
interna, onde Tenório transita entre diversos terrenos experimentando sempre.
Não sei bem as especificidades eleitas pelo músico, mas cada uma das quatro
faixas se manifesta evidentemente diferente das outras.
Já com quinze segundos de
Prematuro, a primeira faixa, estamos deslocados na extensão dissonante
fragmentada, onde há instrumentos de corda, vozes ao fundo e elementos
eletrônicos que tentam se comportar como unidade, em meio a disparidades.
Descobrimos-nos frente uma parede sonora, que parece sempre repetir o caminho.
Como lógica não é o ponto, as transições mais naturais são cortadas por ecos. E
tudo é parte da peça: os ruídos, vozes e elementos harmônicos crescem, diminuem
outros sons- um coletivo flutuante disseminado.
Para acalmar à sua própria
maneira a catarse que é ‘Prematuro’, as próximas duas faixas são mais simples,
ainda assim envoltas em múltiplos elementos. Ambas são injunções de barulhos
domésticos, e você vai provavelmente ter que aumentar o volume para entender
melhor respectivos mecanismos. A experiência fica baseada justamente na
modulação e manipulação de Cadu, que
interrompe o processo para nos lançar em outro ambiente. Estamos, então, em
outro tom mais harmonioso e aconchegante.
‘Ventre’ fecha o ciclo,
recuperando parte do encanto de Prematuro, embora a estrutura aqui seja mais
fragmentada pertencente a capacidade de apreensão do ouvinte. Nem as
referências claras a outros trabalhos tiram sua força própria- na imersão
abstrata hipnótica.
E o que nos liga entre os
recortes propostos por Cadu, mesmo
que as interrupções surjam a todo o momento, é um ambiente contínuo que se
estabelece por não tão claras conexões melódicas. Cassetes é um espaço vazio
para as colagens, que revelam um músico distante de uma autoconstrução racionalizada,
em meio a reflexões múltiplas que contemplam uma obra carregada e sombria.
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