A vela só existe porque a
escuridão está lá. A vela é apenas um símbolo de luz para nos lembrar da
ignorância à qual nós somos arremessados. Como nossos erros pretéritos, que às
vezes vêm como vertigem e escapatória do “real”, às vezes, como elemento que
alimenta nossa angústia. Os momentos somem, as velas apagam. Uma música
definida como “noise rock” não
necessita de elementos que fujam a certa esquemática moderna. Seria besteira
falar dos rumos que a música tomou nesse inicio de século e sua plena proliferação
em vários sentidos. Mas parece ser- sinceramente- uma das poucas coisas que
quebra esse muro de concreto rígido que é a vida contemporânea- com suas
chateações, inquietações e milhares de frustrações.
Os sons do Rec On Mute (sempre acertando muito na afinação e nas microfonias)
se entrecruzam e soam às vezes como unidade específica- os vocais bem quietos,
divagando junto com as frases da guitarra. Outras, um ou outro instrumento
ganha notável destaque e nos deparamos com uma produção acertada e surpreendentemente
clara e polida para um primeiro lançamento. Como as nuvens que se movem no céu,
como peças que às vezes simplesmente completam a paisagem, e em outros momentos
estão cinzas e anunciam a tempestade.
As expressões caem para os “gêneros”
alternativos que eu mais aprendi a gostar nos últimos anos. Dynamo é um bom exemplo da transição “post-rock-grunge”, nos contando a
singela história de um garoto que deseja “apenas ir embora”. A música cai para
um interlúdio bem atmosférico e a afinação refinada dá a graça. Uma banda como notável
repertório e, mais do que isso, com noção clara do “colocar” em cada parte da
estrutura musical.
Hereafter se constrói pelas incertezas líricas. As músicas são mais
questões sobre; tempo, pertencimento e escapar. É oferecido ao ouvinte, entre
distorções e alternâncias de ritmo, um tênue universo em que as distorções e
sua potência reforçam mais a sensação de inospitalidade no lugar físico que
ocupamos.
Um ciclo- parece, entre “choros e
sorrisos” e tudo que temos entre esses opostos. Se fisicamente nosso espaço é
limitado, as possibilidades dentro da música do Rec On Mute se mostram mais audaciosas. Entre os riffs mais pesados e os versos mais
elegantes, há uma iminência. Estamos em um plano onde os afetos -assim como
esmagar o que nos afeta- são possíveis.
Obrigado.
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