Gostaria de lembrar que, segundo
seu bandcamp, Gustavo Jobim encerrou 2014
com sete trabalhos lançados. O que já é fascinante por si, mas ao analisar
vários desses trabalhos (uma pena que não consegui resenhar todos, pois merecem)
percebe-se que o compositor carioca aplica uma abordagem, sutil ou bruscamente,
distante em suas obras. Isso impressiona mais ainda, pois (creio) que os instrumentos
com o qual ele viabiliza sua música são basicamente os mesmos. Podemos começar
lembrando que o excelente Inverno, lançado no primeiro dia de 2014, tem uma estética
rigorosa e relativamente divergente de Tsunami- se em Inverno temos uma
ambientação fria e desolada, em Tsunami temos sobreposições que atingem proporções
bem ruidosas. Os momentos mais “quietos” simbolizam uma ameaça. Como uma ponte
que lentamente vai se deteriorando, até os estalidos se juntarem compreendidos
em uma massa sonora. Talvez seja um tipo de música que resida no nosso medo.
Certamente, por um desconhecido retumbante que vai se formando visualmente
enquanto ouvimos.
A criação de Jobim implica no
mistério. Uma admiração que não se fundamenta na técnica. Como se fossem formas
abandonadas que reclamam por sua existência em um mundo que não é tão nítido. É
uma música que não cria seus parâmetros em medidas regulares. Como se fosse uma
espécie de deboche, “suas medidas valem do que, hein?”. O “eletrônico
progressivo” em que seu corpo musical se insere, claramente não caminha ao lado
do “progresso” da cena musical contemporânea. Creio que Gustavo Jobim não se
importa com isso. Embora ele tenha suas preferências musicais, o que vemos ao
longo desse ano de lançamento é uma criação cada vez mais individualizada,
singular. Jobim acredita em seu trabalho e isso basta.
Todos os sons que integram as
duas faixas parecem com desencontros que “tem” de estar no mesmo bloco. É como
se os blocos sonoros ruidosos fossem simplesmente inevitáveis. Por isso a
espera antes da “junção”, os micro sons se organizam e merecem existir tanto
quanto quaisquer outros. Quase no encerramento de Atlantis, percebemos uma melodia. Uma melodia que segue certo “esquema”
e também reclama sua existência. Essa melodia seguida de uma espécie de
microfonia que vai encerrar a obra. Tudo isso é música! Os blocos sonoros, a “ambientação”
quase muda.
Gustavo Jobim manteve ao longo
desse ano um corpo sonoro sóbrio que se recusou a ir por caminhos fáceis. Uma
obra que dá espaço para diversos segmentos, obviamente dentro de uma espécie de
“ética de criação”. Percebe-se que ele tem essa necessidade imensa de criação.
Preservando uma inquietação que traduz em suas modulações, sempre sob a casta
de algum “mistério”. Se me perguntarem seu “papel” na música brasileira,
certamente não vou ter respostas. Talvez a melhor resposta seja; “entregar”,
simplesmente assim.
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