“Crer-se no progresso
não significa que já tenha tido lugar qualquer progresso.” Franz Kafka.
Thirlwell continua obcecado por colagens sonoras e construção
descontinua. A maneira de ouvir sua música não vem com uma pré-mistura, é tudo
decididamente muito vago ao mesmo tempo em que é rico.
A cadência épica de orquestras
operadas celebrando grandes hinos cobre todo o percurso do álbum.
Exuberantemente arranjadas, as batidas de Jeff Davidson realizam bem o papel de
fazer segundo plano ao coral, enquanto aproveita as deixas para exalar viradas
incrivelmente bem executadas e certeiras.
A soprano que aparece nas viagens
orquestradas industriais, como Pratheism,
é Natalie Galpern. Os sintetizadores
fazem a festa em contraste com instrumentos classicamente eruditos; tais como
piano, violinos, e referências populares variadas das mais diversas épocas.
Abby Fischer é outro cantor convidado. Thirlwell utiliza samplers
de filmes de horror em contraponto com vocais pós-punk. Deve-se atentar ao que Thirlwell está fazendo; repaginando
clássicos industriais minimalistas em orquestras sinfônicas, maximizando
movimentos musicais intimistas em grandes e vastas obras, revertendo o caminho
que compositoras como Rachel Elkind
estão traçando, ao eletrificar peças clássicas famosas- ele busca o velho para
reinventar o novo, em constante diálogo entre vertentes sonoras extremamente
distintas.
A vastidão dos temas líricos
também chama atenção, como em Kamikaze, onde narra histórias de suicidas
japoneses em um refrão totalmente beatleniano,
já progredindo para a invasão de cordas que nos acostumamos durante todo álbum.
Impressiona a vastidão dos temas,
como a interpretação bucólica intimista de “La Rua Madureira”, clássica música
do suicida italiano Nino Ferrer. O
estilo oscila entre ópera, progressivo e música de vanguarda, com ambientes ora
íntimos, ora interpelados por vozes sacras. A cada novo álbum o Foetus dá um aceno para possível
desperto, mesmo que no meio do ato de acordar tenhamos de enfrentar suicidas ou
antidepressivos.
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