CHTHE'ILIST é um trio canadense que surpreende com Le Dernier Crépuscule, primeiro álbum
cheio da banda. Há muito a se considerar nesse disco, principalmente os
multielementos que contribuem para o ambiente “contaminado” que se percebe no
decorrer da audição- um material que exala sujeira e radicalismo. O contexto
que a banda se encontra (um gênero estruturado em conservadorismo e poucas
bandas exploradoras) não apequena os iniciantes. Ouvimos a grande quantidade de
bandas genéricas de death metal brutal,
nós ouvimos muitas bandas medíocres de metal técnico e aí quando uma banda
dessas surge, eu não fico surpreso de ver tantas resenhas favoráveis. Álbuns
como Le Dernier Crépuscule merecem
serem prestigiados a cada segundo porque eles são, desde o primeiro instante,
destruidores. Sim, esse álbum merece todo o apreço que vem sendo diagnosticado.
Eu fico pensando nele como um gigante demoníaco que aos poucos nos absorve nessa
áurea de obscuridade. Em Le Dernier
Crépuscule, nós temos uma banda nova que já está no controle completo de
sua sonoridade. Pode-se ouvir influência de death
metal norte-americano e finlandês do começo dos anos 1990. Eu deveria criar
uma resenha informativa e explicar os outros projetos de metal extremo que os
membros já estiveram envolvidos, mas eu prefiro me concentrar em toda
dissipação assombrosa que é esse álbum. Meu envolvimento pessoal no metal, nos
últimos sete anos que venho acompanhando de perto, observou poucas estreias tão
gigantescas quanto essa. Ao mesmo tempo em que eu ouço faixas que veneram o
velho death metal, ao contrário de
lançamentos como o último do Naðra,
nada aqui soa catalogado ou revisionista.
Meu primeiro contato com a banda
foi com a demo inicial e as faixas
dessa demo foram revisitadas e
ganharam ainda mais força para acompanhar as novas no disco. Faixas que parecem
realmente novas e não entram no álbum apenas para encher o álbum ou a duração
dele, mas ganham peso estético e aperfeiçoam as possibilidades de Le Dernier Crépuscule. Mostrando que
criatividade para compor não foi problema algum. A banda inova nos caminhos e
cria um mundo que vai nos caçar e preencher tanto nosso imaginário com
múltiplas imagens, em suas maiorias místicas. E as letras não deixam por menos;
elas contam diversas histórias que se desenvolvem paralelamente e se entrelaçam
em alguns pontos, criando uma base conceitual para o trabalho. Eu fiquei
realmente empolgado na primeira vez que ouvi o disco. Eu era absorvido por essa
narrativa mitológica que consagrava uma espécie de escárnio, como um organismo
que vai ficando cada vez mais sujo e acumulando diversos tipos de imundices.
Cada vez que eu exploro novamente o mundo de
Le Dernier Crépuscule, ele não cessa de, felizmente, deixar-me desgastado.
Na última década, não consigo me
lembrar de tantos discos de metal que não perdia em instante algum seu caráter “bárbaro”
sem deixar de nos surpreender com uma variedade de rifes técnicos. Isso não é
para depreciar as outras bandas, mas para evidenciar que há muito para ser
feito no terreno da música extrema. Como se não bastasse seis músicas que nos
destruíssem, a última faixa é um aglomerado de execução técnica e
monstruosidade monumental. O final de cada música, aliás, é tratado de maneira
especial e normalmente é encerrado com sons cavernosos e/ou de criaturas
agonizantes, que, para falar a verdade, não se diferenciam muito da agonia
infernal que o vocalista e contrabaixista Philippe
Tougas consegue nos passar. Um pouco influenciado pelo Black metal (mais evidentemente
na hora dos blast beats), o álbum
arrasta os ouvintes, sem muita dificuldade, para sua zona negativa.
A banda evita claramente de cair
no “folclore” do metal e manipula os elementos modernos (que são vários) com
muita noção estética. Com um começo assombroso, nós vamos nos tornando “irmãos”
que acompanham essa ópera rumo a destruição. A segunda música já nos brinda com
os sentimentos ambíguos de todo o álbum, principalmente nos duetos vocais limpo-guturais
ao mesmo tempo. Que deixa tudo mais sujo e complexo. As melodias são memoráveis
e variam tanto quanto os rifes e as quebradas do contrabaixo, e é essa
estrutura contínua que vamos ter que enfrentar por mais de cinquenta minutos.
Novamente, impressiona a combinação dessa impressão “suja” com a adesão de
elementos modernos. Le Dernier Crépuscule
invoca temas comuns no metal; RPG e ficção científica para estetizar o louvor pelas
bandas antigas (especialmente as do norte europeu) e figurar com muita força
própria.
Talvez, com o passar do tempo, o CHTHE'ILIST não consiga mais criar um
disco tão vasto e imagético quanto Le
Dernier Crépuscule. De qualquer forma, a teatralidade do álbum sempre vai
ser válida. Desde a bateria de Philippe
Boucher aos vocais brutais de Tougas,
o trio expandiu seu som para pisar num extenso território próprio. Quando nos
deparamos com um disco desses, nós nos lembramos de tantas definições e ainda
assim nós não encontramos qualquer abreviação que sintetize a potência desse
álbum. Le Dernier Crépuscule é,
talvez, o que o metal precisava para mostrar seu poder esse ano. É incrível
como esse álbum carrega todo o vigor das bandas mais antigas e ainda assim
aponta sonoridades não exploradas pelo público de massa.
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