Pesta é uma banda talentosa de Belo Horizonte que nos brinda com
seu primeiro disco cheio. No momento em que eu já ouvi os primeiros rifes eu
fiquei obcecado com a direção que eles levariam. Já nos primeiros dois minutos
de disco nós já sabemos do que a banda é capaz. Um terreno lírico místico se
instala e podemos contemplar um desfile decadente de atos santos e profanos.
Assim que nós começamos a sentir
esse mundo dinâmico do quinteto e nós vamos acostumando com as estruturas que
podem soar estranhas em primeiro momento, essa sensação de “exaustão” perdura e
é arrastada intencionalmente pelo disco todo. Essa conexão entre sensação
causada pelo instrumental e abordagem conceitual é a principal expressão de Bring Out Your Dead.
E embora não soe em nenhum
instante propriamente “agressivo”, porque o disco justamente trata da constatação
de um mundo morto. Nãoo é necessário, então, jorrar no ouvinte uma sonoridade
alta e/ou barulhenta, porque se trata justamente do diagnóstico dessa Terra
profundamente agredida. Percebem-se comportamentos suicidas porque há uma praga
que constantemente nos ronda. É sobre a contemplação do fim tão próximo que a
banda narra e tristemente observa a perda nos brilhos dos olhos alheios.
Nós já nos tornamos íntimos dessa
peste coletiva e sobrevivemos com isso todos os dias e ainda assim é
surpreendente que uma banda como o Pesta
tenha que diagnosticar isso de maneira catártica. A naturalidade da corrosão e
da grande epidemia tem que ser desvelada e é isso que os mineiros fazem.
Evidenciar uma obscuridade que as pessoas insistem em esconder ou teatralizar.
Isso não é um fenômeno apenas contemporâneo.
Tanto que as apropriações que a banda faz, desde o nome do disco que é uma
frase inglesa de 1665 e sua capa que é de uma pintura de 1348 (obrigado https://wallofyawn.wordpress.com/2016/01/21/pesta-se-inspira-na-praga-para-fazer-doom/
pelas informações). O fim está próximo desde tempos remotos e é talvez essa
constatação antiga que crie esse elo entre passado e presente. Os selos da
morte são consecutivos prelúdios para os fins dos tempos; pessoas dementes,
animais que falam e cavalos pálidos cumprindo a profecia.
É como se a banda atendesse um
chamado impossível de ignorar. A peste os escolheu para serem seus mensageiros
e é com total respeito e alguma devoção que a banda pisa no terreno do metal
para cumprir algo que lhes parece obstinado. Mais do que um abalo surpreendente,
Bring Out Your Dead evidencia uma
banda com plana noção e que aparenta anos de estrada. Apesar dessa devoção
nítida e a influência evidente de nomes como o Black Sabbath, os símbolos dessa aproximação são realmente
problemas modernos desfigurados por alguma “necessidade de esconder” contemporânea.
A banda e o vocal limpo de Thiago Cruz desejam contar o que testemunham e
aproximar coisas, inicialmente, tão distintas. Os gritos não são necessários,
pois a própria construção imagética de todo o álbum já se encarrega disso.
De maneira bem comum, as
consecutivas audições de Bring Out Your
Dead vão se transformando em constantes adesões nesse mundo criado pela
banda. Um mundo de figuras que estão extremamente próximas da deterioração
absoluta e agonizam (como os lentos andamentos instrumentais). Ou seja, já se
foi o período de ódio, o período das crianças pestilentas abandonadas pelos
pais e agora resta esse reino em que só pode-se esperar a concretização desse
caos.
Os corpos, como dito na primeira
faixa, ficam abandonados em casa porque não há ninguém para fazer um funeral.
As palavras são regidas, em vão, ao vento e ninguém testemunha mais coisa
alguma. Nós não podemos nem mais ser fracos, não há mais possibilidade e está
tudo corroído. Pesta indica que esse
medo que nos assola já não nos deixar fazer mais nada, esse medo só nós lidera
nesse mundo podre.
O Pesta revela o lado predador intrínseco na maioria das pessoas e é
esse mundo que beira a morte que ainda nos permite sentir algo. Como a noção da
proximidade do fim não suscita nada na maioria das pessoas é difícil realmente
saber, mas felizmente levou a banda a sonorizar essa constatação cruel.
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