Um dos meus trabalhos favoritos de
todos os tempos na música eletrônica é o Structures From Silence, disco no qual
Steve Roach conseguia suspender toda sujeira sonora em áudios cristalinos em uma
estética sensitivamente densa. Emotions Revealed se trata de duas peças
compostas anteriormente à obra-prima de Reich e que felizmente puderam vir ao
mundo no começo de 2016. Enquanto na primeira faixa podem-se sentir as
influências de músicos notáveis e um Roach que ainda estava desenvolvendo uma
personalidade, a relaxante segunda peça revela vislumbres da genialidade que o Structures
From Silence viria a ser, com fortes influências dos primeiros lançamentos da
Escola De Berlim.
Naquela época, os experimentos
ainda estavam sendo feitos e muitos lançamentos seriam considerados anos depois
como pioneiros em vários subgêneros da música eletrônica. Os próprios primeiros
trabalhos de Roach se mostram um tanto quanto imaturos e genéricos, o que ele
perderia já na elaboração de Emotions Revealed. Aqui temos um músico
extremamente à vontade com suas ideias de repetição, em duas gigantes peças com
uma textura onírica e sintetizadores que criam um espaço digno para exploração.
Seria tolice afirmar que Roach foi um dos primeiros a trabalhar nessa linha,
mas o talento revelado nesse disco não deixa dúvidas de que sua produção se
divorciaria inevitavelmente de outras eletrônicas generalizadas. Aliás, esse disco mostra meditações menos
distorcidas do que os trabalhos posteriores de Roach e as orquestrações de
cordas são o plano de fundo para a repetição de uma simples melodia que fica
sempre em primeira instância e trabalha sentidos que conseguimos relacionar
facilmente. Esse trabalho de associação imediata é importante porque na segunda
parte do álbum Roach vai criar uma ambiente insistentemente mais obscuro e
distorcido, se aproximando muito de algumas obras de Klaus Schulze.
A segunda peça se assemelha
bastante a Structures From Silence; o tempo é devagar de forma gradativa, ou
seja, cada momento soa mais lento que o próximo, assim como os detalhes vão
ganhando mais relevância e a estética de Roach vai, aos poucos, se delineando-
como um pequeno ato do cotidiano em ultra slow
motion. A continuidade massiva de Firelight caracteriza uma instalação em
que, aos poucos, pode-se mergulhar. Lentamente, as máscaras das influências de
Roach vão se pulverizando para o movimento desgastado e repetidamente
modificado exibir um artista com conceito próprio. Os sintetizadores criam uma
estrutura etérea de eternos e lentos movimentos que se integram justamente pela
instalação criada por Roach, sendo um exemplo das primeiras produções de música
ambiente, executada por um jovem Steve que claramente ansiava não repetir suas
influências.
Toda a transformação artística
que Roach exibiu ao longo dos anos evidencia um artista ligado às novas formas
de produção, mas que ainda assim, nunca completamente se submeteu a elas. Nesse
tempo, suas abordagens tem-se mostrado cada vez mais grandiosas e que
necessitam de muitas análises para realmente compreendermos os detalhes dos álbuns;
isso tudo é compactuado dentro de Emotions Revealed que revela um Steve muito
mais acessível do que nos anos decorrentes. Esse disconão é apenas “material
para fãs”, mas é objetivamente uma revisitada a um dos artistas mais
importantes em sua área de atuação e que indica os rumos diversificados que sua
obra de vida registraria. Ainda assim, Emotions Revealed não é uma peça de
museu, é uma obra que claramente pulsa por sua vontade.
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