Erosão: As estruturas estão sendo destruídas. O desgaste é nítido.
Estamos sendo transportados, vagarosamente, para um terreno desconhecido. Os
guias são essas linhas distorcidas, que promovem ecos, são tomadas por eles. A
guitarra sozinha, seus versos simples.
Sombras: Se há sombras, há uma projeção. Mas o que fazer quando as
projeções são desconhecidas também? É possível existir a sombra do que não
existe? Mas o que, então, se nossos atos passados, nossas frustrações
irreparáveis. Nós mudamos tanto e, mesmo assim, não reconhecemos nossas formas.
É como estranhar a própria mão. É como se a repetição desses sons fosse a única
orientação em um vazio enorme. Mas há espaço aqui. Isso as repetições sugerem!
Há terreno bastante para construções. Queremos tanto sair do determinismo
histórico e quando essa possibilidade surge... As sombras são companheiras de
travessias, nômades de erros distantes também. Vestígios esquecidos que se unem
ao nosso imenso desconhecimento.
Refrações: Mudanças de direções, as sombras sofrem erosões também.
Atravessa-se o espelho e de repente somos outros. Outros caminhos.
Corrente Submarina: Seriam as sombras projeções do que está
submerso? Os sintetizadores ocupam o espaço, a guitarra que já versava sozinha
na primeira faixa está envolta em repetições. A solidão é uma repetição. Um
hábito que gera mais hábitos sem os quais nos deformamos e estamos dispersos.
Engraçado como a solidão evoca nossos passos como se eles fossem uma espécie de
origem. Engraçado como não nos lembramos do fluxo, mas a água continua
correndo. A água quente, as névoas que a sobrepõem. Tudo é frágil e
consequência e acaso.
Diferente do cinema, a lentidão
na música é o próprio movimento (e a recusa/aceitação da ideia convencional de
movimentação). Em Slow Motion, somos
introduzidos a uma temporalidade formada entre forças opostas que estabelecem um
enigma. Não se pode “perceber” nada nesse EP, apenas ter impressões. O que
forma a impressão de lentidão? O que liga uma música a uma medida temporal? As
coisas se movimentam e nós percebemos de outro modo, nada é exato. Pensamos não
um passado, mas uma interpretação atual do que cremos que um dia existiu.
Nossos passos, uma borboleta voando, as ondas se quebrando. A vida é uma
formulação de quadros antigos se renovando por olhos cegos apreendendo pouco
porque insistem em ver o mundo ainda com medidas. Não quero dizer que Stereocilia aponte um mundo inaugural e
sem medidas. Mas que seu ato criativo insere uma rachadura na ideia de tempo e
pode infiltrar uma visão para olhar além das concepções básicas. Não é uma
recusa ao modo de construir as coisas, mas sim uma tentativa honesta de elaborar
uma visão menos domesticada. Sem negar em instante algum que esta é influenciada.
Mas, também, sem se aquietar em nenhum momento, porque há sempre algo fluindo.
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