Nós somos poeira cósmica. O
universo é infinito. Até ai, nada de essencialmente novo. O problema é que nós teorizamos
tudo- o gelo, a rocha, até mesmo os anéis de Saturno. As estrelas servem de
orientação para as pessoas que passam sua vida no mar, mesmo em uma época em
que a tecnologia predomina (ou assim querem garantir as pessoas do Ocidente).
Mas há uma áurea inviolável, há um laço secreto que cegamente determina a
movimentação das entidades que habitam o universo. E olha que maravilha, não
saber nada sobre isso, não saber nada sobre o universo que nos habita. “Não somos
melhores do que o universo, somos parte do universo. Estamos no universo e o
universo está em nós”, Neil deGrasse
Tyson.
Essa noção de espaço se prende
aferradamente em nosso cérebro durante a execução de Saturndust. As transições entre as canções, os riffs esticados, como a própria ideia de expansão do universo,
assim como essa atmosfera de transmissões espaciais estimulada pelas
distorções- todas essas ambiências causam um deslocamento, estabelecendo uma
estranha orientação; sabemos que estamos em determinado ponto do infinito, mas
exatamente onde?
Os solos de Hyperion refletem essa grandiloquência da banda. É tudo enorme em Saturndust, os ecos dos instrumentos, a
extensão de canções que se modificam em detalhes que transformam suas
estruturas sem que percebamos exatamente onde as coisas mudaram. Como encarar
uma paisagem que vai perdendo sua iluminação da primeira manhã até, muito
lentamente, ganhar a escuridão noturna.
Mas não se enganem com esse fenômeno
que eu tento descrever. As coisas são pesadas nesse álbum- sessões longas e
arrastadas, os riffs da guitarra que
são épicos e em certos momentos atingem níveis comoventes e as paredes sonoras
massivas, onde os sintetizadores, a bateria, o baixo e o vocal erguem certa
unidade que parece muito, muito difícil de transpor. Ao longo do disco, esse
peso que nos fascina também é capaz de nos levar ao distúrbio, à perdição. Como
eu disse, esse álbum de certa forma nos localiza, mas nos localiza em um lugar
não tão grato e não tão bem estabelecido, em um ponto de um universo infinito.
Agonizando entre a poeira cósmica. São nesses momentos que a sonoridade nos atravessa
e nos dá mesmo a impressão de que não vai sobrar absolutamente nada.
De forma brusca, podemos perceber
o que as tremuladas da guitarra junto com o vocal berrante anunciam no início
do disco; uma trilha para a poeira, uma trilha sob o espetáculo das estrelas e
através dos perigos terrestres. Em teoria, essa absolutização (estender e arrastar o som de tal forma que parece,
muitas vezes, sem fim) reivindica não uma forma monolítica, mas sim abre a
nossa subjetividade para manifestação de tais fenômenos.
Esses 45 minutos que o Saturndust nos entrega parece muito
mais. Parece a dissolução- entre toda a sonoridade decididamente suja- em um
universo cuja poeira é a principal matéria. Matéria que nos faz vivo e vai
continuar depois de nossa morte, inevitavelmente.
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