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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Cidadão Instigado - Fortaleza [2015]

Redescobrir e progresso na mesma conclusão podem soar como evasão; progrediu para o que, então? Essas duas vertentes podem se encontrar na técnica, métodos aplicados para remeter determinada sonoridade à algo, onde os signos que surgem causa um deslocamento temporal porque nosso raciocínio assimila e representa essas conversões para um período de ordem cronológica. Onde podemos, então, encontrar uma vazão originária, algo que pulse e cause o terremoto sísmico horizontal que acredito que a arte pode causar?

Quero tentar focar aqui nessas rememorações em fluxo que um álbum como Fortaleza pode causar, e não apenas sobre as fluídas harmonias, as guitarras e o dialogo constante com vários espectros da música popular/folclórica brasileira. Se fosse me basear nisso, creio que seria melhor apenas ouvir o disco e não tentar explorar as possibilidades que sua audição causa. O Cidadão Instigado promove avanços sonoros que se esbarram em uma espécie de tradição, e nesses encontros não há problema nenhum em ficar ali, admirar as passagens, verdadeiramente forçar explorações e retornar a veia mais progressiva com impressões modificadas, como se cada retorno também modificasse a experiência futura.

Por exemplo, antes de um determinado retorno, tínhamos a impressão “essa música parece muito aquelas garageiras dos anos 70”, e depois- seja com o sotaque que se acentua e ganha força na melodia, ou com a música em coro que poderia figurar no Pet Sounds- embora a música tenha exatamente a mesma atmosfera, nossa impressão implodiu, estamos com registros antigos, mas com novas sensações. É como se não houvesse nem um “terreno de preparo”. Não. Embora a evolução seja com certeza lenta no disco, este é muito furtivo para simples apreensões.

Pausa para um afeto:
(Eu me lembro de ter quatorze anos e querer algo a mais. Eu me lembro de ter quatorze anos e estar ligeiramente enfastiado com o punk hardcore. A internet era discada em casa e as coisas não rolavam. Foi então que ouvi de verdade Black Dog. Quero dizer, já tinha ouvido tantas vezes, mas parece que naquela época isso veio como uma espécie de prenúncio).
Voltando para meu ponto:
Cidadão Instigado era, talvez, o que eu precisasse naquela época. Mais que um Jailbreak, algo que me fizesse sentir reconhecido com esse país (reconhecimento também como sensação de exílio) nesse jogo onde baião e psicodelia figuram juntos porque não tem como ser de outra maneira.


Queria falar mais sobre a cidade, mas não conheço Fortaleza. Mas não duvido de que deve ser também, uma cidade com tanta gente que quase não conseguimos olhar para as brechas entre os transeuntes. Não há pausa para a contemplação. O ódio se adensa. E dessa tentativa de achar espaço para a contemplação, sem renegar em instante algum a balburdia oferecida pelo concreto- por isso o som balburdia também- tentando encontrar paisagens possíveis além dos shoppings. E às vezes somos os “Zé doidins” que tentam encontrar vazios na opressão da realidade (tão difícil como encontrar brecha entre os transeuntes) para tentar escapar desse mundo lacrado. Para tentar escapar da fortaleza. A narração inteira desse disco é sobre as tentativas de reconhecimentos; em vagabundos, em músicas antigas. Na tentativa vã de se controlar enquanto queremos nos libertar.

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