Redescobrir e progresso na mesma
conclusão podem soar como evasão; progrediu para o que, então? Essas duas
vertentes podem se encontrar na técnica, métodos aplicados para remeter
determinada sonoridade à algo, onde os signos que surgem causa um deslocamento
temporal porque nosso raciocínio assimila e representa essas conversões para um
período de ordem cronológica. Onde podemos, então, encontrar uma vazão
originária, algo que pulse e cause o terremoto sísmico horizontal que acredito
que a arte pode causar?
Quero tentar focar aqui nessas
rememorações em fluxo que um álbum como Fortaleza pode causar, e não apenas sobre
as fluídas harmonias, as guitarras e o dialogo constante com vários espectros
da música popular/folclórica brasileira. Se fosse me basear nisso, creio que seria
melhor apenas ouvir o disco e não tentar explorar as possibilidades que sua
audição causa. O Cidadão Instigado promove avanços sonoros que se esbarram em uma
espécie de tradição, e nesses encontros não há problema nenhum em ficar ali,
admirar as passagens, verdadeiramente forçar explorações e retornar a veia mais
progressiva com impressões modificadas, como se cada retorno também modificasse
a experiência futura.
Por exemplo, antes de um
determinado retorno, tínhamos a impressão “essa música parece muito aquelas
garageiras dos anos 70”, e depois- seja com o sotaque que se acentua e ganha
força na melodia, ou com a música em coro que poderia figurar no Pet Sounds- embora a música tenha
exatamente a mesma atmosfera, nossa impressão implodiu, estamos com registros
antigos, mas com novas sensações. É como se não houvesse nem um “terreno de
preparo”. Não. Embora a evolução seja com certeza lenta no disco, este é muito
furtivo para simples apreensões.
Pausa para um afeto:
(Eu me lembro de ter quatorze
anos e querer algo a mais. Eu me lembro de ter quatorze anos e estar
ligeiramente enfastiado com o punk
hardcore. A internet era discada em casa e as coisas não rolavam. Foi então
que ouvi de verdade Black Dog. Quero
dizer, já tinha ouvido tantas vezes, mas parece que naquela época isso veio
como uma espécie de prenúncio).
Voltando para meu ponto:
Cidadão Instigado era, talvez, o
que eu precisasse naquela época. Mais que um Jailbreak, algo que me fizesse sentir reconhecido com esse país (reconhecimento
também como sensação de exílio) nesse jogo onde baião e psicodelia figuram
juntos porque não tem como ser de outra maneira.
Queria falar mais sobre a cidade,
mas não conheço Fortaleza. Mas não duvido de que deve ser também, uma cidade
com tanta gente que quase não conseguimos olhar para as brechas entre os
transeuntes. Não há pausa para a contemplação. O ódio se adensa. E dessa
tentativa de achar espaço para a contemplação, sem renegar em instante algum a
balburdia oferecida pelo concreto- por isso o som balburdia também- tentando
encontrar paisagens possíveis além dos shoppings. E às vezes somos os “Zé doidins”
que tentam encontrar vazios na opressão da realidade (tão difícil como
encontrar brecha entre os transeuntes) para tentar escapar desse mundo lacrado.
Para tentar escapar da fortaleza. A narração inteira desse disco é sobre as
tentativas de reconhecimentos; em vagabundos, em músicas antigas. Na tentativa
vã de se controlar enquanto queremos nos libertar.
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