Inspirado na lista da Fact. Não sei qual necessariamente o termo deles, mas eu usei todos os álbuns disponíveis inteiramente no bandcamp. Meu site de música favorito.
20 | Touché AmoréStage Four |
"Stage Four" é um disco essencialmente sobre a morte de alguém próximo, no caso a mãe do vocalista. A melodia que envolve o disco abandona qualquer senso de orgulho e expõe completamente o eu-lírico. Percebe-se a melancolia do vocalista em cada passagem e um estado perpétuo de doença que parece que o tempo não cicatriza. Há tanta paixão neste álbum que é impossível não ter uma reação frente a ele. A tristeza da presença da morte, lembrar das conversas possíveis desperdiçadas- o contexto engole o sujeito e o abandona ruminando o passado. Dito isso;há muita energia instrumental, apesar da uma perda inexpressável ser o principal eixo do disco.
19 | Aesop RockThe Impossible Kid |
Quatro anos depois de seu último lançamento, "Aesop Rock" volta com batidas "ocultas". As habilidades que o alçaram a certa notoriedade no "hip hop" independente estão ainda mais complexas. A consciência de "Aesop" está ainda mais internalizada e desenvolve assuntos íntimos como relações familiares e depressão. Há um elemento nitidamente poético na forma de "Aesop" abordar estes assuntos tão árduos e, ainda assim, tirar sutilezas que tornam o "The Impossible Kid" em também um trabalho com um lado muito bonito. A introspeção e a reclusão certamente fizeram bem para seu lado musical.
18 | LaniakeaA Pot of Powdered Nettles |
O conceito da atmosfera de "A Pot of Powdered Nettles" é bem ambicioso e felizmente faz jus à esta ambição. Como se todos os sons tivessem o mesmo fim que não é um fim propriamente dito; é um por vir eterno, uma preambulação fantasmagórica. Um recanto meditativo que insere uma outra possibilidade para a temporalidade das coisas.
17 | Rhetoric of a ShotgunSvelte Gulf (2016) |
"Rhetoric of a Shotgun" me causa espanto e uma sensação de distância do mundo dado. Este impulso isolador dá ao ouvinte a capacidade de criar simulacros. Parte-se e retorna-se ao zero, à uma zona em que a inscrição coincide com a sensação. Ao mesmo tempo que tudo parece derivado, há um início radical que absolutiza todas estas sensações. Se a música é um objeto, ele é refém do criador; mas se o objeto é passível de significado, há uma reinvenção constante de suas interpretações sonoras ainda que elas repitam a mesma coisa. Separa-se da origem para radicalizar outra inseminação, uma derivação criadora.
16 | Mare CognitumLuminiferous Aether |
https://marecognitum.bandcamp.com/
15 | Otacílio MelgaçoL'autre côté du vent |
Esse álbum de Melgaço oferece uma resistência inicial e aos poucos, por trás dessa densa camada sonora, vamos descobrindo um quarteto que impõe diversas texturas e encontros possíveis resididos nelas. O próprio título (algo como “do lado do vento”) representa uma sonoridade guardada por rumores que de maneira fragmentada se revelam, ascendem e depois retornam à obscuridade inicial. É como se houvesse um núcleo gravitacional que esses elementos rondam, penetram, dissolvem-se. Analisar possíveis coincidências talvez restrinja a abordagem poética que é imanada em todos os movimentos de L'autre côté du vent, poesia que trabalha com reconhecimento e desconhecido de forma paralela. É uma reação que desenha no espaço vazio (o silêncio) impressões de um observador (o compositor) fascinado com essa oportunidade de preencher o espaço, preencher o que não emite barulho.
https://melgacootacilio.ba...-duration-51-4214 | Lena Circus & Itaru OkiZanshin |
A peculiaridade é de criar tensões mesmo dos instantes em que tudo parece estar tranquilizado. Há uma espécie de embate entre representar historicamente a evolução do jazz elétrico e não se repetir ao cair em estratagemas datados. Em parte, é um devaneio entre um suposto débito histórico formativo e liberar, também, a intuição em cortes sonoros. De um modo ou de outro, é um precioso mergulho entre desenvolvimento/intuição.
https://lenacircus.bandcam...gs-records-201613 | MithrasOn Strange Loops |
Mais espacial do que nunca (e com a técnica de sempre), o "Mithras" sai de um hiato produtivo de nove anos para não decepcionar. A agressividade do "death metal" é elevada às fronteiras mais extremas e técnicas do gênero. Apesar de tantas abstrações, a fusão entre "besta-beats", "riffs" e explosões vocálicas estabelecem um movimento de contínuo transe. A temática existencial se aprofunda enquanto a banda reverbera alto, bem alto.
12 | Rob Mazurek & Emmett KellyAlien Flower Sutra |
Ao invés de uma dicotomia entre humanidade e cybercriação, como o próprio Kelly canta (“We Are One”), é necessária uma tentativa de unidade; algo ainda impensado, que personifique uma nova compreensão sobre o que o progresso pode passar a ser. É uma entrega ao indeterminado.
11 | UlcerateShrines of Paralysis |
A atmosfera "filosófica" do "Ulcerate" retorna da mesma maneira progressista em "Shrines of Paralysis". Múltiplas mecânicas fundem-sem em um complexo plano sonoro. A densidade acumula uma gama de referências- mais explicitamente: "death" metal, black metal e "doom" metal. A impecável técnica e o estilo narrativo de decomposição apontam direções que ultrapassam a nomeação, apenas, de música extrema. O caos é representado multifilamentosamente e nos cruzamentos possíveis entre as nuances de luz num vasto terreno obscuro. É como se o peso inerente ao som caísse em certo padrão e como se a própria maneira de pensar dos integrantes atravessassem a instituição por eles mesmo causada.
10 | Curse ov DialectTwisted Strangers |
Os tipos de "beats" misturados em "Twisted Strangers" nos faz lembrar de como certa dose revisionista pode revigorar um modelo contemporâneo de se fazer música. Elementos que, à priori, tem certo distanciamento uns dos outros fundem-se no "hip-hop" do grupo para se fazer uns dos álbuns mais inovativos do gênero no ano.
9 | Full BlastRisc |
É muito difícil precisar necessariamente o que faz um som ser subversivo mas a bem da verdade é inevitável classificar assim, ainda que superficialmente, toda a obra do incansável "Brötzmann". A catarse sempre como elemento de anti-clímax interage com a imaginação do ouvinte materializando sonoramente, mais ou menos, a fantasia do contato músico-instrumento-som-ouvinte. Porque esta interação traz consigo um elemento mitológico, histórico e subjetivo. A subversividade aponta uma quebra do paradigma deste triangulo. A absorção nasce da desarticulação de elementos estáticos e tradicionais. Sons desaparecem, melodias são retomadas- enquanto na movimentação subversiva "Brötzmann" lidera o ouvinte a um terreno em que só a destituição é possível.
https://trostrecords.bandcamp.com/album/risc8 | OathbreakerRheia |
Os vocais mansos e melódicos do início do disco transformam-se no prelúdio na "queda-em-si" que é "Rheia". A paixão fica evidente a cada segundo do álbum. A música pesada que envolve em sua superfície melódica uma quantidade densa de fúria e introspecção. Os "blast-beats" aceleram o processo de obscurecimento. As mudanças de tempo interagem com o ouvinte, criando uma linha muito tênue entre impressão e o que efetivamente se ouve. Toda essa atmosfera paralela de dissolvimento/claustrofobia-interna é explorada das formas mais radicais. O caos sombrio de "Rheia" deixa o ouvinte completamente absorto na uma hora de duração do álbum. Mesmo as passagens acústicas e as totalmente bonitas e melódicas trilham esta espécie de apocalipse, em que é somada agressividade e evidenciação da vulnerabilidade do eu-lírico. "Rheia" se levanta de forma pesada para explorar os pontos mais extremos do ouvinte. Não se trata propriamente de um desafio- mas das mais diversas formas de abordar o que se convencionou chamar de "melancolia".
https://oathbreakerband.bandcamp.com/album/rheia7 | Tekti Kevlar1 |
Dos tantos trabalhos lançados pelo "Tekti Kevlar", esta "compilação de trabalhos aleatórios" é o meu favorito. As três peças são flagras de três momentos diferentes de composição e há uma estranha incomunicabilidade entre elas. Incomunicação talvez porque "Tekti Kevlar" é um projeto que cristaliza dissonâncias com texturas explicitamente diferentes (até em sentido estético). O trabalho de "Tekti Kevlar" aposta nestas diferentes evocações para se dar conta de algo inalienável.
https://tektikevlar.bandcamp.com/album/1
6 | LOK 03+1Signals |
As estrelas da capa sugerem algo baseado na ficção científica e realmente o disco se trata da relação sonora do espaço.A narrativa caótica se trata de instrumentos (percussão, etc) que desestabilizam o próprio fluxo para recondicionar o ritmo. As texturas se repetem,se encontram, se desestruturam em seções de livre-improviso. 71 minutos que não são propriamente desafiadores para o ouvinte porque do próprio desafio-interativo entre os músicos tem-se uma bela sessão combinando composição e intuição.
5 | VektorTerminal Redux |
O "Vektor" sempre esboçava fazer algo inteiramente conceitual com base na ficção científica e é lógico que "Terminal Redux" foi o a conclusão óbvia disso. Muito influenciado pela onda técnica do metal nos anos 80, o maior mérito do disco é, em sua vasta duração, não soar repetitivo e sempre surpreender o ouvinte. Ainda mais complexo que seus antecessores, "Terminal Redux" é um passo a frente em um gênero que surpreendentemente não tem se estagnado. . No entanto não é apenas uma narração bobinha ou simplista, ela é surpreendente e torna necessária a consulta às letras várias vezes. O álbum conceitual liberta o Vektor das expressões derivativas (embora raras) que se podia encontrar nos trabalhos anteriores. As ideias densas e desenvolvidas sem pressão solidificam esta impressão. Um épico criativo. Sem perder o peso.
https://vektor.bandcamp.com/album/terminal-redux4 | Chippendale - Gustafsson - PupilloMelt |
A fúria caótica que a primeira peça imputa aos 7:00 minutos é uma pequena demonstração da agressividade que nasce na interação entre os três músicos. A energia que os vocais de Chippendale traz é como um autenticação menos agressiva (embora ainda assim ensandecida) da enunciação potente do trio. Gustafsson, como sempre, surge com o peso do sopro em seu saxofone oferecendo outra rota deslumbrante num caminho já rico em alternativas. É uma engrenagem de ruído que não cessa de surpreender.
3 | Cadu TenórioRimming Compilation: Liquid Sky |
Quando ao final destes dois álbuns estamos novamente em um ambiente mais calmo, percebe-se o tanto de paradoxos que Cadu Tenório estabeleceu em todo o trabalho. Estamos, no fim das contas, em um espaço confinado. Tenório sabe dos limites artísticos. O que não invalida absolutamente nenhuma experiência nesses discos – é um dos atravessamentos mais poderosos erigidos na música contemporânea.
https://cadutenorio.bandcamp.com/2 | Lost Salt Blood PurgesOnly the Youngest Grave |
Mais de cem minutos em um ambiente sombrio, nebuloso. A prolongação do tempo e a ambientação desolada evoca nostalgia e solidão. Como se as impressões de sonho se confundissem com a visão de realidade e nesta junção resultasse em uma longa caminhada em uma cidade esquecida. Os cânticos nativos, a profusão de ruídos - os elementos de "Only the Youngest Grave" perpetuam uma estação híbrida e a-dimensionável. Como a abominável capa, o ente se encontra numa caminhada rumo ao oculto, ao inexplicável.
https://lostsaltbloodpurge...-youngest-grave
1 | Boris With MerzbowGensho |
"Gensho" ser um dos trabalhos mais pesados tanto do "Boris" quanto do "Merzbow" já diz MUITA coisa. É como se o próprio peso aderisse uma carga "atmosférica" e sua continuidade cada vez mais tenebrosa destituísse tudo o que é humano. Não é como se a obscuridade do disco fosse essencialmente densa, mas como se o próprio "ente obscuro" se deformasse ainda mais frente ao ouvinte.Trata-se de viver a música enquanto fenômeno. A repetição e a distorção da repetição da repetição alçam o ouvinte à uma experiência incomum. Experimenta-se a maldade enquanto elemento fundador do fenômeno.
https://borismerzbow.bandcamp.com/
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