Não há controle possível quando
tudo parece perdido. A casa fica mais vazia, sair do quarto parece impossível e
nós ficamos horas e horas lembrando tudo. Parece que nada vai ser bom
novamente. Então, (quando a gente cria força o suficiente) ficamos andando a
toa por aí. Esse EP é para acompanhar essas caminhadas. É um companheiro de
travessia. Quando não nos reconhecemos mais em signos externos, todos
desintegrados. Canções abertas para a dor, para recolher os resquícios. E o Jovem Werther tenciona seus elementos
com uma carga dramática crua. Se você teve alguma experiência similar que a
banda aborda em suas canções (eu, com certeza, tive) vai haver um
reconhecimento instantâneo, alguma amizade para reconhecer na escuridão.
Escuridão essa que não é um
“mundo perdido” ou qualquer bizarrice do tipo. Eles tratam de um terreno em que
a insegurança somada com a saudade, coordena uma sensação de não pertecimento-
o fim está próximo. É como se esse EP existisse para revelar o subentendido, ou
estimular sensações que as letras sugerem. São lembranças destroçadas pela
memória e que teimam em surgir como assombrações, numa espécie de
“desentendimento contínuo” com o passado e a forma bizarra que sua sucessão
instiga em nossos comportamentos, em nossas andanças. Podemos concluir que essa
soma de frustrações como os gritos, os acordes (mesmo que numa produção mais
‘lo-fi’) designam um terreno obtuso, difícil.
E, abordando esses discursos
íntimos bem pesados e auto conflitantes, eles fazem um EP que não envergonharia
um I Hate Myself. Há as partes mais
“oníricas”, endossadas pelas guitarras distorcidas em uma “fragmentação” de
texturas e as partes totalmente cruas, onde a discórdia dá o tom e se imprime
na contradição entre “andamentos bonitos x letras e vocais sufocados”. É
amplificada nesse sistema, então, a sensação de inospitalidade. Veja bem, não é
que a banda não soe como uma “unidade”, mas os atritos que as músicas sugerem
apontam para o embate inevitável de quem não se sente confortável nessa terra e
é “perseguido” pelo passado, pelas confusões mentais. Como se a certeza de
unidade fosse, ela própria, desafiada pela vida real- não a toa que o termo
“desespero” caiba muito bem para esse EP. Em algum ponto, o vocal afirma, “não
que eu esteja mal/ nem que seja o fim do mundo”, mas percebemos que ele está se
enganando, percebemos sua confusão. É o fim do mundo! Aqui, o que “está dito”
subentende o “revelado no dito”. Eles não querem ampliar uma “diversidade
sonora” nessa transição de influências que se pode perceber; eles agrupam instantes
claustrofóbicos em signos onde esse terror possa se expressar. Trata-se de
confusão mesmo, perdição pura e que parece muito difícil de encontrar um
caminho de “retorno”. O que se fazer quando tudo bom “ruiu”?
Esse EP é sobre períodos
difíceis, sobre tentativas fracassadas, sobre derrotas. Períodos da existência
que todos passam (alguns sofrem mais, outros menos). Essa gravação inclui
muitas perguntas e poucas certezas, um tempo de questionamento e volta
constante do que “já se passou” e como esses momentos continuam a nos caçar,
troçando e esmagando qualquer possibilidade de expectativa futura. “Último Farol” sugere um fim bem complicado e
doloroso, um adeus a vida cujo único “paraíso” é a possibilidade de não se
viver mais. Ninguém quer forçar respostas ou algo parecido, mas todos esses
momentos que nos caçam foram impressos em uma história e caracterizam uma vida.
“Último Farol” então pode ser vista como uma possibilidade, daquelas que
pensamos quando tudo parece tão frágil. O curioso é que tudo é sim,
demasiadamente frágil, ainda assim algumas coisas são tão amplas e abstraem a ponto
de recorrermos a elas quase sempre; daí os “parques do bairro” representam uma
história e também uma tormenta. Tudo junto, sem dicotomia simples. Porque nada
é simples, os momentos se reproduzem e se dissipam, ainda assim, de alguma
forma, estão lá. E vamos voltar a eles, querendo ou não.
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