Dos confins da Grécia, em meio a divagações metafísicas inerentes a uma das civilizações mais antigas da humanidade, combinando com a crise que afeta o país há mais de sete anos consecutivos, emerge uma espécie de rito em saudação à natureza. É que a música de Viridian Green - Glaufx Garland, é muito mais uma comemoração ao esquecido, a celebração do não visto, do que construções convencionais que vem-se criando nos anos de globalização.
Elementos eletrônicos mais field recordings se misturam para tentar trazer um som sem a filtração da racionalidade. Como podem conferir na entrevista abaixo, Glaufx nos diz porque faz música dessa maneira, o que significa para ele, sobre o amor por música não convencional, a situação da Grécia nesses tempos dificeis e mais:
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1. Você realiza
apresentações ao vivo na Grécia? Como elas são?
Sim, muitas vezes desde os anos 80. Eu organizo e toco
em milhares de apresentações e algumas vezes instalações multimídia. Aqui na
Grécia você pode encontrar muitos lugares para tocar ao vivo qualquer estilo
musical. As maiores que eu realizei até agora foram para 500 pessoas e
aproximadamente 2500 pessoas apareceram em outra, que era também uma festa.
2. O que as pessoas
podem esperar quando ouvirem sua musica?
Musica- qualquer estilo musical- é criada para fazer as
pessoas pensarem, dançar ou sentir, então é o que espero dos outros. Há muitas
personalidades diferentes então qualquer pessoa pode sentir coisas que eu não
sinto com minha música. Isso é a coisa boa da música.
3. Você conhece algo
de música brasileira?
Sim. Alguns anos atrás eu estive em contato com uma nova gravadora
independente Cri Du Chat (acho que esse era o nome). No entanto, eu gosto
também de música sul americana tradicional. Não posso dizer muito porque
imagino quantos lugares eu não conheço. Eu gosto de algumas pessoas muito
estranhas das montanhas ou música das pessoas de floresta densa-eu espero que
as florestas e essas pessoas estejam a salvo. Como você posso imaginar, eu não
curto muito “dance music”, então eu olho mais para a música
desconhecida. Mas o Brasil está muito longe e eu não tenho muito mais
informação sobre o local e a música das pessoas da Amazônia.
4. Ouvindo a sua música, o ambiente me lembra muito algum
tipo de densa natureza. Como você ouve a natureza influenciando sua música?
5. Sua música varia do eletroacústico, “dark ambient”, industrial...
Como é o processo de sua criação artística?
Eu comecei com isso muitos anos atrás porque eu acredito (como outros músicos) que música é qualquer coisa. Eu imagino ficar em uma floresta na Amazônia (eu sei que não é seguro porque qualquer coisa pode te comer...) e apenas ouvir o ambiente e observar as árvores fazendo música. Há uma sinfonia de sons naturais. Ano passado em compus o VACUUM SPECIES COMMUNICATION. Eu criei essa música de sons de um pequenino inseto noturno. Eu não lembro o nome dele; é um preto. Em uma noite de lua cheia eu estava ouvindo isso e de alguma forma o som do inseto refletiu nas nuvens e voltou para baixo e se espalhou por quilômetros de distância. Aquilo foi incrível. Depois disso houve um pássaro que cantou por volta das 3-4 horas da manhã. Todos esses sons estavam além de qualquer música que nós inventamos por milhares de anos na história da humanidade. Inspirado pelos animais eu imagino como soaria se sons de golfinhos e “vozes” das folhas das árvores se misturassem e se nós misturássemos com o som da Terra e da lua e outros planetas. Além do mais, a música ambiente está muito além do que as pessoas pensam sobre música. Eu acredito que essa música é vida. O som de todas as espécies do planeta é uma sinfonia que pode ser a criação. Imagine ser uma imensa criatura com bons ouvidos e ficar por aí e ouvir todos os sons que todas as espécies fazem. Eu sei que isso é muito, mas é a maneira que eu vejo. Imagine também que além das línguas há sons. Mesmo que nós não falamos as mesmas línguas, eu posse te fazer sentir, ver e entender coisas, que às vezes a língua não pode descrever. Isso é algo que os gregos antigos diziam sobre a música ser base da comunicação e não as palavras de cada língua. Imagine que o fogo seja comum para todas as espécies. Toda língua tem uma palavra diferente para fogo. No entanto, no fim, nós usamos o fogo do mesmo jeito e o fogo nos ajuda ou nos fere da mesma forma. Então não há diferenças se é um fogo brasileiro ou um fogo ΦΩΤΙΑ FOTIA grego; ainda é o mesmo som do fogo, mesma força como amor ou liberdade ou qualquer outra força básica que nós nomearmos.
6. Você tem diversos projetos. Você pode nos dizer o
porque tantos nomes diferentes?
Eu mudo os nomes dependendo do estilo e do período. Eu
realmente não sei o porque. Eu mudo, você muda, tudo está se movendo e assim
por diante.
7. Alguns de seus trabalhos são diálogos claros com a
literatura. Como você seleciona um livro ou um autor para criar música? Quero
dizer, quais são os atributos (de algum livro em especial ou escritor) que
fazem você querer criar música sobre o mesmo tema?
Ler um livro e sentir. Então eu imagino como seria ler
um livro e ouvir sons que fazem sentir da mesma maneira.
8. De um lugar muito distante, nós vemos a Grécia em
tempos difíceis. O que está acontecendo na Grécia influencia em sua música?
A destruição da Grécia foi colaborar com estúpidos
reinos europeus e líderes totalmente fascistas, você sabe muito bem o que
acontece na América do Sul. Imagine que aqui na Europa alguns líderes alemães
ainda são da Segunda Guerra Mundial, o que você espera? Depois de dois anos do Habsburgo
morrer, todos os estúpidos húngaros e austríacos ainda choram nas ruas- eu não
podia acreditar nos meus próprios olhos- então essas pessoas pedem por
democracia. Isso é uma piada? Meu pai estava roubando caminhões da Ocupação
Nazista Búlgara para alimentar pessoas da Macedônia na Grécia. Minha mãe está
com noventa anos e escapou duas vezes de Gestapo, minha avó não foi executada
no último minuto. Nós não temos nada a ver com essas pessoas; elas precisam de
anos para mudar- muitas gerações. Eu não acredito que a maioria das pessoas muda
em um período de 70 anos. Por exemplo, o que fazer? Eu compro comida de
pequenas lojas e fazendeiros e não pago
taxa por isso. Isso é uma lei comum para muitas pessoas aqui. Eu também escrevo um livro sobre isso. Que
impor taxa sobre comidas é violação dos direitos humanos. Ninguém tem o direito
de impor taxa sobre necessidades básicas como casa, comida, etc.
Eu utilizo alguns ruídos, às vezes, em músicas como Greece
1974 Polytexneio –Eu uso alguns barulhos de tranque, vozes do povo e
barulhos de lançadores de granadas para compor um pesadelo concreto.
9. Obrigado! Por favor, deixe alguma mensagem para
nossos leitores. Realmente agradecido.
Eu vou usar o título de um dos meus álbuns “ALGUMAS
PESSOAS APRENDEM DA MANEIRA MAIS DIFICIL + LIBERDADE NÃO É DE GRAÇA”. Também,
mantenham as florestas do Amazonas a salvo, nós precisamos delas mesmo aqui na
Grécia. Eu sei que poderia dizer mais, mas é difícil porque eu também não falo
inglês muito bem e você fala português, então eu espero que não nos percamos
muito na tradução... De grego para inglês para português :- )))) Amigos, de qualquer jeito. Como eu
disse antes, um sorriso do meu coração vale mais que palavras.
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Para ouvir Glaufx no bandcamp: http://viridiangreen-glaufxgarland.bandcamp.com/
Para seu perfil no facebook : https://www.facebook.com/glaufx?fref=ts
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