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A tensão maníaca do "Sutcliffe Jugend" inicia logo nos primeiros segundos do vulgar "Offal". Tabus sexuais são contorcidos e extremados à medida que um processo violento de degradação irrompe.
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"Perelman" não só é um dos líderes de banda mais ativos no cenário de livre-improviso da música contemporânea como busca constantes reestruturações de diálogos com outras formas de arte. Desta tensão entre tema-objeto-criador nasce uma abstração recorrente em todos seus trabalhos mais recentes. Os instrumentos interagem e, em movimentos contínuos de ascendência/descendência revigoram este diálogo inicial transformando em outra conversa mas que ainda converge no mesmo mito originário. Muitos destes movimentos contraditórios/paralelos são revigorados pelo livre-improviso também como autêntico método de composição estética. O diálogo acústico-improviso então se mostra mutável, assimilando decomposições justamente para evitar sua derradeira morte (ou seja; tornar-se inócuo).
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A peculiaridade é de criar tensões mesmo dos instantes em que tudo parece estar tranquilizado. Há uma espécie de embate entre representar historicamente a evolução do jazz elétrico e não se repetir ao cair em estratagemas datados. Em parte, é um devaneio entre um suposto débito histórico formativo e liberar, também, a intuição em cortes sonoros. De um modo ou de outro, é um precioso mergulho entre desenvolvimento/intuição.
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Segunda aparição de "Jorma Tapio" nesta lista, "Ghartika" é uma produção ainda mais mitológica que "Matka", embora continue explorando as intersecções entre livre improviso e música tradicional. "Jorma Tapio" é, com certeza, um dos músicos mais prolíficos contemporâneos e um olhar mais atento em sua obra proporciona audições explorativas.
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"Amoa Hi" é a busca por um tipo de música originária (a indígena) que sumiu na cristalização da produção contemporânea. É essencial ouvir isso.
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Mais espacial do que nunca (e com a técnica de sempre), o "Mithras" sai de um hiato produtivo de nove anos para não decepcionar. A agressividade do "death metal" é elevada às fronteiras mais extremas e técnicas do gênero. Apesar de tantas abstrações, a fusão entre "bleast-beats", "riffs" e explosões vocálicas estabelecem um movimento de contínuo transe. A temática existencial se aprofunda enquanto a banda reverbera alto, bem alto.
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A trompetista Susana Santos Silva se une a um consagrado time da música explorativa para dar um belíssimo testemunho de sua concepção do que é a vida.
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Ao invés de uma dicotomia entre humanidade e cybercriação, como o próprio Kelly canta (“We Are One”), é necessária uma tentativa de unidade; algo ainda impensado, que personifique uma nova compreensão sobre o que o progresso pode passar a ser. É uma entrega ao indeterminado.
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"Pierre Favre" admitiu que a decisão de gravar este disco partiu apenas de si mesmo e não de qualquer necessidade alheia. E "Now" soa como um passo a frente de todos os outros projetos que ele liderava. Explica-se:são batidas que buscam algo novo na música e, consequentemente, um novo elemento comunicativo.
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A atmosfera "filosófica" do "Ulcerate" retorna da mesma maneira progressiva em "Shrines of Paralysis". Múltiplas mecânicas fundem-sem em um complexo plano sonoro. A densidade acumula uma gama de referências- mais explicitamente: "death" metal, black metal e "doom" metal. A impecável técnica e o estilo narrativo de decomposição apontam direções que ultrapassam a nomeação, apenas, de música extrema. O caos é representado multifilamentosamente e nos cruzamentos possíveis entre as nuances de luz num vasto terreno obscuro. É como se o peso inerente ao som caísse em certo padrão e como se a própria maneira de pensar dos integrantes atravessassem a instituição por eles mesmo criada.
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Essa é uma parada muito estranha e divertida que me faz dançar toda vez de tão cativante que é. Não sei mais o que dizer.
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Os tipos de "beats" misturados em "Twisted Strangers" nos faz lembrar de como certa dose revisionista pode revigorar um modelo contemporâneo de se fazer música. Elementos que, à priori, tem certo distanciamento uns dos outros fundem-se no "hip-hop" do grupo para se fazer uns dos álbuns mais inovativos do gênero no ano.
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É muito difícil precisar necessariamente o que faz um som ser subversivo mas a bem da verdade é inevitável classificar assim, ainda que superficialmente, toda a obra do incansável "Brötzmann". A catarse sempre como elemento de anti-clímax interage com a imaginação do ouvinte materializando sonoramente, mais ou menos, a fantasia do contato músico-instrumento-som-ouvinte. Porque esta interação traz consigo um elemento mitológico, histórico e subjetivo. A subversividade aponta uma quebra do paradigma deste triangulo. A absorção nasce da desarticulação de elementos estáticos e tradicionais. Sons desaparecem, melodias são retomadas- enquanto na movimentação subversiva "Brötzmann" lidera o ouvinte a um terreno em que só a destituição é possível.
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Ouvir "3001: A Laced Odyssey" dá uma sensação constante de estar sob efeito de "algo"- a batida abstrata, as tensões psicodélicas e uma linha indivisível entre a pontuação temporal possibilitam esta espécie de "paranoia". É uma odisseia urbana entre quem está preso sensorialmente em si mesmo ao testemunhar a realidade objetiva.
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As otimizações expansivas de sensações dúbias são, definitivamente, o triunfo da jornada desgastante que é "Breaking Point"- um ponto em que celebrar não é uma disposição, pois sempre há o prenúncio de algo.
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"The Healing Component" tem uma força compelativa em abstrair insinuações de uma realidade objetiva em forças oniscientes. "Mick Jenkins" relata um mundo afundado em violência para extrair forças respiratórias. O social e a força de subverter suas forças opressivas caminham muito próximos. O componente da destruição tem a mesma matéria-prima do componente que cura.
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Uma peça única de ruídos extremos e exaustivos que se sobrepõem ininterruptamente e são prolongados à medida que o ouvinte fica hipnotizado com o plano criado pela dupla japonesa.
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Um disco que tá nitidamente cagando para as apreensões que ele mesmo ameaça buscar no começo tinha tudo para dar errado. Não deu. Se há, até, uma proposta no início de "Strength & Power", ela é nitidamente trocada pelo senso que guia os músicos. Sem apontamentos, fica mais difícil criar algo mas também há a sensação de que cada movimento é originário e, portanto, ainda não-contaminado. Além dos limites de possibilidades pré-datadas, intuir significa criar repetidamente algo novo.
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Tapio & Tuomi Duo
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Um dos álbuns mais negligenciados no ano, inclusive pela "crítica especializada", "Matka" é a reunião de duas ancestralidades que entram em dissonância ao se encontraram mas sem, por isso, deixar de encontrar elementos de união e intuição.
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O paganismo do "Moonsorrow" converge mais uma vez em um épico sonoro. Desta vez a influência folclórica está ainda mais presente, na utilização de símbolos mitológicos para subverter o domínio cristão. Subversão essa que sempre parece ser o conceito principal da banda. Toda essa atmosfera mística é invocada pela utilização de instrumentos tradicionais e também do auxílio mais do que presente do metal para radicalizar a proposta.
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Dos tantos trabalhos lançados pelo "Tekti Kevlar", esta "compilação de trabalhos aleatórios" é o meu favorito. As três peças são flagras de três momentos diferentes de composição e há uma estranha incomunicabilidade entre elas. Incomunicação talvez porque "Tekti Kevlar" é um projeto que cristaliza dissonâncias com texturas explicitamente diferentes (até em sentido estético). O trabalho de "Tekti Kevlar" aposta nestas diferentes evocações para se dar conta de algo inalienável.
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LOK 03+1
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As estrelas da capa sugerem algo baseado na ficção científica e realmente o disco trata da relação sonora do espaço. A narrativa caótica trata de instrumentos (percussão, etc) que desestabilizam o próprio fluxo para recondicionar o ritmo. As texturas se repetem,se encontram, se desestruturam em seções de livre-improviso. 71 minutos que não são propriamente desafiadores para o ouvinte porque do próprio desafio-interativo entre os músicos tem-se uma bela sessão combinando composição e intuição.
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Peter Brötzmann & ICI Ensemble
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As interações deste disco é como se toda a catarse formada evidenciasse um "insight" por improvisação. São ondas sonoras individuais que se juntam neste vasto mar bagunçado que é o álbum. Enquanto vários micro fragmentos melódicos são detectados na cacofonia, também é possível notar diálogos interessantes entre os instrumentos.
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O "Vektor" sempre esboçava fazer algo inteiramente conceitual com base na ficção científica e é lógico que "Terminal Redux" foi o a conclusão óbvia disso. Muito influenciado pela onda técnica do metal nos anos 80, o maior mérito do disco é, em sua vasta duração, não soar repetitivo e sempre surpreender o ouvinte. Ainda mais complexo que seus antecessores, "Terminal Redux" é um passo a frente em um gênero que surpreendentemente não tem se estagnado. O que reflete em múltiplos universos em uma narrativa futurista. No entanto não é apenas uma narração bobinha ou simplista, ela é surpreendente e torna necessária a consulta às letras várias vezes. O álbum conceitual liberta o Vektor das expressões derivativas (embora raras) que se podia encontrar nos trabalhos anteriores. As ideias densas e desenvolvidas sem pressão solidificam esta impressão. Um épico criativo. Sem perder o peso.
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A atmosfera criada pelo conjunto aborda um elemento estranho com algumas frestas em que a interação é mais convidativa- embora sempre imprevisível. Que a imprevisibilidade reine não é nada de novo, se trata de livre-improviso, mas as sessões desconexas realmente tomam a subjetividade do ouvinte. A repetição de procedimentos e barulhos "estranhos" tornam todo o livre-improviso também num processo de livre-hipnose.
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Chippendale - Gustafsson - Pupillo
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A fúria caótica que a primeira peça imputa aos 7:00 minutos é uma pequena demonstração da agressividade que nasce na interação entre os três músicos. A energia que os vocais de Chippendale trazem é como um autenticação menos agressiva (embora ainda assim ensandecida) da enunciação potente do trio. Gustafsson, como sempre, surge com o peso do sopro em seu saxofone oferecendo outra rota deslumbrante num caminho já rico em alternativas. É uma engrenagem de ruído que não cessa em surpreender.
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Quando ao final destes dois álbuns estamos novamente em um ambiente mais calmo, percebe-se o tanto de paradoxos que Cadu Tenório estabeleceu em todo o trabalho. Estamos, no fim das contas, em um espaço confinado. Tenório sabe dos limites artísticos. O que não invalida absolutamente nenhuma experiência nesses discos – é um dos atravessamentos mais poderosos erigidos na música contemporânea.
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Mais de cem minutos em um ambiente sombrio, nebuloso. A prolongação do tempo e a ambientação desolada evoca nostalgia e solidão. Como se as impressões de sonho se confundissem com a visão de realidade e nesta junção resultasse em uma longa caminhada em uma cidade esquecida. Os cânticos nativos, a profusão de ruídos - os elementos de "Only the Youngest Grave" perpetuam uma estação híbrida e a-dimensionável. Como a abominável capa, o ente se encontra numa caminhada rumo ao oculto, ao inexplicável.
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"Gensho" ser um dos trabalhos mais pesados tanto do "Boris" quanto do "Merzbow" já diz MUITA coisa. É como se o próprio peso aderisse uma carga "atmosférica" e sua continuidade cada vez mais tenebrosa destituísse tudo o que é humano. Não é como se a obscuridade do disco fosse essencialmente densa, mas como se o próprio "ente obscuro" se deformasse ainda mais frente ao ouvinte.Trata-se de viver a música enquanto fenômeno. A repetição e a distorção da repetição da repetição alçam o ouvinte à uma experiência incomum. Experimenta-se a maldade enquanto elemento fundador do fenômeno.
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"Long Ambients 1: Calm. Sleep." tem um efeito nitidamente tranquilizador no ouvinte. Embora sempre com uma influência melancólica, todo o trabalho do "Moby" quase sempre adotou uma comédia que é dispensada neste lançamento. A capa já evidencia o que você vai encontrar; um clima noturno desde os primeiros minutos que você ouve o álbum. Com aparições instrumentais e uso predominante de sintetizadores, "Moby" - como todo bom artista- cria o seu tempo usurpado. Esta atmosfera de diluição contínua prende o ouvinte em um campo meditativo capaz de atribuir outra significância imagética.
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