O melhor tempo de sua vida começa com um chamado ao grito,
antecedido pelo baixo e bateria. Há tempos que Nene deixou o "lirismo"
mais de lado, sendo o mais direto possível em sua mensagens, alguém que
testemunhou várias reviravoltas de cenários em uma suposta cena, e que ainda
persiste socando ponta de faca, entre gritos e melodias apaixonadas e furiosas,
sempre passionais. A proposta é como um testemunho de quem também variou tanto
quanto a movimentação faça você mesmo que eclodiu nos anos 90. As baterias
noventistas, onde a produção é certamente de quem não busca correções eletrônicas.
O Dance Of Days sabe muito bem sua capacidade musical. Se trata da relação de
devoção pelos caminhos que já foram tomados, um salto em um terreno conhecido
para revelações que ainda se fazem persistentes, principalmente quando
confinados na histeria paulista e os micropoderes estabelecidos desde o lar até
as ruas. É a própria contradição interna de se guiar por mapas socados em nossa
mente. Por que se machucar com parâmetros internos e que são praticamente
bizarros de tão sem propósito? Habita nesse EP aquela chama que não conseguimos
nominar, aquela luz acesa que nunca se apaga, mas que é tão fluida e orgânica
que tentamos de várias maneiras- palavras, sons, fotografias- registrar esse
tipo de certeza tão fugidia. Por isso podemos encarar a primeira fase da obra do Dance Of Days (que tem seu ápice em
Lírios Aos Anjos) como uma espécie de exceção ao novo caminho pavimentado pelos
caras, mais estabelecido em nossas certezas.
Porque eles sabem quem são os
combatentes, eles sabem dos adolescentes solitários e perdidos que abraçam na
música instantes raros de transcendência. Não há vergonha de converter essas
sensações em "hinos" que são musicados em esperanças, no esquema tão
comum de utilizar refrão em prol não de um rompimento com meras formas
musicais, eles não querem isso, mas sim utilizar de terrenos e variações já
conhecidas para explicitar que há outras formas de viver fora desse espaço confinado
que nos ensinaram como realidade. Recorrer ao hardcore punk é completamente justificável, talvez porque apesar de
tão esculhambado, ainda é uma pedra que insiste em ir contra o fluxo da
corrente. O conceito de libertação, na visão do Dance, se passa sim por formas
de expressão simples que abrigam uma complexidade íntima enorme, não em forma
de estética, mas do exorcismo sentimental em forma de manifesto, assim como os stages dives, os sing along e toda essa porcaria que ainda amamos depois de todos
esses anos. Ao notar que tantas coisas passaram na minha vida, tantas pessoas e
tantas lembranças, me pego realmente surpreso por uma banda que eu amava há dez
anos atrás ainda se fazer presente, e reparo que o Dance é como a luz do Morrissey e que, embora as vezes tão
fraca e pouco constante em minha vida, permanece em algum canto recôndito para
voltar com toda força. Então eu aumento o volume para tudo se resumir nessas músicas,
onde o diálogo com os rostos suados dos shows ressurge como memórias
involuntárias. Minha impressão é que voltar nessas canções sempre vai me dizer
algo essencial para o momento que esteja passando.
E agora que escuto tão pouco o
que se convencionou chamar de hardcore
punk, a ética ensinada por bandas como o Dance Of Days se mostra como uma das coisas mais legais de minha
vida, esse amor incondicional pela expressão, uma espécie de necessidade que
urge a cada final do dia, enquanto volto do trabalho idiota e as nuvens
carregadas e acinzentadas sinalizam desdém. Temos nossas armas para enfrentar
os covardes do cotidiano e as músicas sempre me lembram do garoto que sonhava acordado
ou que ficava sem ir pra rolês por um mês para ver shows de lançamento no
hangar, em troca de quatro horas de suor e voltar rouco enquanto garoava em São
Paulo. O maior mérito do Dance, então, continua sendo o mesmo de anos atrás, e
isso ao invés de ser sinal de estagnação, é uma marca notável de um compromisso
sério com a devoção dos fãs e ao estilo de vida escolhido, e por isso essa base
sólida de seguidores. A figura de Holden...
São micro influencias que podemos
notar todo dia, na forma com que me relaciono com pessoas queridas, ou nas
dezenas de bandas que fazem som por ai, nas mais variadas movimentações, que
foram impulsionadas por álbuns como A História Não Tem Fim. Os limites são
instituídos e, uma vez lançados no mundo, só nos resta quebrá-los. E na minha
trilha sonora de rompimentos, o Dance Of
Days sempre se fez presente.
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