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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Obrigado, Dance Of Days ! O Melhor Tempo De Sua Vida (2014)

O melhor tempo de sua vida começa com um chamado ao grito, antecedido pelo baixo e bateria. Há tempos que Nene deixou o "lirismo" mais de lado, sendo o mais direto possível em sua mensagens, alguém que testemunhou várias reviravoltas de cenários em uma suposta cena, e que ainda persiste socando ponta de faca, entre gritos e melodias apaixonadas e furiosas, sempre passionais. A proposta é como um testemunho de quem também variou tanto quanto a movimentação faça você mesmo que eclodiu nos anos 90. As baterias noventistas, onde a produção é certamente de quem não busca correções eletrônicas. O Dance Of Days sabe muito bem sua capacidade musical. Se trata da relação de devoção pelos caminhos que já foram tomados, um salto em um terreno conhecido para revelações que ainda se fazem persistentes, principalmente quando confinados na histeria paulista e os micropoderes estabelecidos desde o lar até as ruas. É a própria contradição interna de se guiar por mapas socados em nossa mente. Por que se machucar com parâmetros internos e que são praticamente bizarros de tão sem propósito? Habita nesse EP aquela chama que não conseguimos nominar, aquela luz acesa que nunca se apaga, mas que é tão fluida e orgânica que tentamos de várias maneiras- palavras, sons, fotografias- registrar esse tipo de certeza tão fugidia. Por isso podemos encarar a primeira fase da obra do Dance Of Days (que tem seu ápice em Lírios Aos Anjos) como uma espécie de exceção ao novo caminho pavimentado pelos caras, mais estabelecido em nossas certezas.

Porque eles sabem quem são os combatentes, eles sabem dos adolescentes solitários e perdidos que abraçam na música instantes raros de transcendência. Não há vergonha de converter essas sensações em "hinos" que são musicados em esperanças, no esquema tão comum de utilizar refrão em prol não de um rompimento com meras formas musicais, eles não querem isso, mas sim utilizar de terrenos e variações já conhecidas para explicitar que há outras formas de viver fora desse espaço confinado que nos ensinaram como realidade. Recorrer ao hardcore punk é completamente justificável, talvez porque apesar de tão esculhambado, ainda é uma pedra que insiste em ir contra o fluxo da corrente. O conceito de libertação, na visão do Dance, se passa sim por formas de expressão simples que abrigam uma complexidade íntima enorme, não em forma de estética, mas do exorcismo sentimental em forma de manifesto, assim como os stages dives, os sing along e toda essa porcaria que ainda amamos depois de todos esses anos. Ao notar que tantas coisas passaram na minha vida, tantas pessoas e tantas lembranças, me pego realmente surpreso por uma banda que eu amava há dez anos atrás ainda se fazer presente, e reparo que o Dance é como a luz do Morrissey e que, embora as vezes tão fraca e pouco constante em minha vida, permanece em algum canto recôndito para voltar com toda força. Então eu aumento o volume para tudo se resumir nessas músicas, onde o diálogo com os rostos suados dos shows ressurge como memórias involuntárias. Minha impressão é que voltar nessas canções sempre vai me dizer algo essencial para o momento que esteja passando.

E agora que escuto tão pouco o que se convencionou chamar de hardcore punk, a ética ensinada por bandas como o Dance Of Days se mostra como uma das coisas mais legais de minha vida, esse amor incondicional pela expressão, uma espécie de necessidade que urge a cada final do dia, enquanto volto do trabalho idiota e as nuvens carregadas e acinzentadas sinalizam desdém. Temos nossas armas para enfrentar os covardes do cotidiano e as músicas sempre me lembram do garoto que sonhava acordado ou que ficava sem ir pra rolês por um mês para ver shows de lançamento no hangar, em troca de quatro horas de suor e voltar rouco enquanto garoava em São Paulo. O maior mérito do Dance, então, continua sendo o mesmo de anos atrás, e isso ao invés de ser sinal de estagnação, é uma marca notável de um compromisso sério com a devoção dos fãs e ao estilo de vida escolhido, e por isso essa base sólida de seguidores. A figura de Holden...

São micro influencias que podemos notar todo dia, na forma com que me relaciono com pessoas queridas, ou nas dezenas de bandas que fazem som por ai, nas mais variadas movimentações, que foram impulsionadas por álbuns como A História Não Tem Fim. Os limites são instituídos e, uma vez lançados no mundo, só nos resta quebrá-los. E na minha trilha sonora de rompimentos, o Dance Of Days sempre se fez presente.


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