É sempre assim. A fase mais rigorosa do inverno chega. Minha
cabeça matutando como sempre, “as coisas não vão dar certo”. Eu acordo e penso,
“que coisas chatas eu vou ter que fazer hoje?”. E eu vivo procurando desculpas
para conseguir tornar os dias mais rápidos. Caminho por três horas para não
encontrar respostas. Chutando pedras, mãos dentro do bolso, a fumaça expelida a
cada respiração.
Inclino a cabeça, só nuvens no céu. Nuvens de escárnio. Como
se o mundo inteiro zombasse de mim. Melhor, a indiferença total. Primeiro
quarteirão, segundo, terceiro. Cumprimento um senhor aparentemente bastante
entretido com seu cigarro até perceber o som dos meus passos. Ele me pergunta
como estou. E sejamos claros, se essas respostas fossem sempre sinceras...
Para o tempo passar, imagino aquele senhor nu, depois com
fraldas e chupeta. E é esse tipo de patetice que enche minha cabeça. Nunca um
pensamento nobre. Luta livre pelada, uma banda de noise formada por marcianos,
o planeta Terra como despejo de algum outro mais evoluído, onde somos meros
resíduos, uma caneta perfurando orelhas como em filmes japoneses, em jogos de
televisão japoneses onde há poetas que se não escreverem os poemas vão se
transformar, automaticamente, em empregados de uma empresa de contabilidade
(todos perdem propositalmente).
Divagando nessas coisas de vital importância, passo em
frente o bar da Dona Rose. É. Uma cerveja seria legal. Dona Rose me fala do seu
filho, da briga da última noite entre dois clientes que discutiam qual melhor
azeitona (preta ou a comum?). Eu peço uma porção de amendoins. Eles estão
duros, secos e velhos, como o senhor que cumprimentei no início da caminhada. As
patetices vão atordoando minha mente, livres como pombas nojentas. A cerveja
acaba. O frio e o tédio não.
Volto para casa depois de três cervejas, (ou cinco? Ou sete?
Tanto faz), é isso aí, outro dia, penso. O céu está igual. Sempre. Esse
imponente zombeteiro. A zelar a idiotice alheia. A zelar toda a babaquice de
horas e horas de caminhada. Para terminar na mesma cama. Olhando o velho teto.
Se o sono chegar – e Deus quer que ele chegue- algum intervalo entre as
patetices. Sonhos idiotas são permitidos.
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