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terça-feira, 8 de abril de 2014

Inquisition- Obscure Verses for the Multiverse [2013]



Se há um padrão de qualidade, o Inquisition não ousa quebrá-lo. O sabor é sempre o mesmo, mas é bem gostoso!

Expressar o que tem acontecido criativamente em três anos, desde o lançamento de Ominous[...] é um tempo bem alongado e muito fértil se usado sabiamente. Embora não se trate de uma renovação na roupagem da banda, Obscure Verses for the Multiverse(OVFTM) mantém o mesmo perfil atraente do antecessor. Os adeptos de death e Black metal, não vão estranhar nada. O que ocorre aqui é uma exata cadência entre um Black metal mais calcado no riff e melodia e a transição para os furiosos tremolos e blast beats. O que não impede de assustar um ouvinte novato na sonoridade da banda; uma canção pode começar acessível com a introdução de um grupo como o Down, para terminarmos em um Black metal caótico e satânico. Já a guitarra de Dano está mais afiada que nunca, ambientando solos com riffs. O que ocorre é que OVFTM é uma ótima porta de acesso para o universo apocalíptico do conjunto.

Vale ressaltar o quão bem a produção se encaixa na musicalidade de OVFTM. Se tratando de Black metal, esse termo- onde podemos ouvir perfeitamente a mudança de harmonia e tempo- de criação é perfeito para a atmosfera proposta. É muito legal o fato de não haver alterações drásticas no volume conforme a alternância clássica dos riffs, o que cai muito bem. O que poderia mudar no Inquisition- e isso para muitos que trabalham no Black metal ortodoxo- é o fato do, se eles fazem realmente o que se convencionou a chamar de “antimúsica”, esquema “riffs-letra-refrão” ser mantido invariavelmente ao longo da carreira da banda. Já mudando esse sistema e ampliando o horizonte criativo, o conjunto poderia fazer coisas simplesmente fantásticas. O que não muda o fato dos riffs serem incríveis, e nada menos que isso! No que se refere à repetição, é uma estratégia relativamente comum no Black metal. O disco conta com algumas variações importantes e divertidas, apesar de tudo. Pedais duplos que começam a devastar tudo ENQUANTO os riffs esmagam nossa face com blast beats fantásticos nunca caem mal.

A exibição do vocalista Dagon também não deve ser subestimada. É notável a influência do Hat, que comanda o vocal no Gorgoroth. Agora, imagine um sapo encorpado pela ‘coisa ruim’ profanando adorações satânicas, o que não é de maneira alguma algo chato para o gênero. O que diferencia Dagon de caras como o Hat, é a capacidade de maior variação. Outro mérito a favor da banda, definitivamente, é a bateria de Incubus fazer a ambientação que riffs tão intensos exigem. No fim das contas, ouça isso! Ainda que não traga nenhuma inovação para o gênero, continua realizando o que este necessita em seu mais alto nível.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Heli- Violência nunca é agradável.

As genitálias de um homem são queimadas enquanto um dos autores de tal humilhação diz a outro cativo: “fique de olhos abertos para não perder o show”. Nosso ponto de vista: um México violento de Amat Escalante onde é evidenciado o ciclo de violência que torna o protagonista, Heli, um pessimista e cético absoluto- inclusive sua irmã. Obviamente, o filme deu o que falar em Cannes, especialmente pela sua audiência que parece afirmar através de relações escandalosas que violência não pode ser arte, basta lembrar o que aconteceu com Anticristo, de Von Trier.

A bota que amassa a cabeça de Beto, para depois este ser mostrado como sinal de vergonha em ambiente público, é o que?
Difícil saber o que gera de fato a violência, se há tanta que não somos mais produtos e nem produtores, mas apenas baratas que se movem com agressividade realista que não víamos em Cannes desde Lola, em 2009. A aleatoriedade funciona em seu sentido mais cruel, quando a retirada de um corpo revela outro. Aqui, teremos uma clássica explicação, e voltamos no tempo cronológico para explicitar como os dois homens brutalmente machucados na cena inicial foram parar ali. Não há trégua.




Acontece que um desses rapazes violentados é Heli, que trabalha em uma metalúrgica, tem uma esposa e um recém-nascido, além disso, os três com seu pai e sua irmã mais nova, Estela. Esta, com os hormônios da adolescência à toda, está namorando Beto, um jovem e viril rapaz que está treinando nas Forças Armadas, tanto que em dado momento Beto simula fazer exercício de academia como se a garota fosse a barra. As cenas que envolvem Beto nas forças Armadas revelam o caráter de violência cíclica que aplica o filme, quando é obrigado por um treinador estrangeiro, provavelmente norte-americano, a rolar em cima do vomito, ou quando os “colegas” o colocam de cabeça para baixo dentro de um buraco que é o suposto lugar para defecar.

Para se casar com a pequena Estela, Beto rouba dois consideráveis pacotes de cocaína, ele pretende vendê-los e se casar com ela em outro lugar, distante dali. Heli descobre esses pacotes e decide se livrar deles, um ato que vai ironicamente salvar sua vida física. Quando a Força Armada chegar, Heli será levado com Beto em uma sequencia de violência física que culmina em uma casa onde crianças jogavam um jogo virtual tão violento quanto às coisas que seus superiores- pais, irmãos ou simplesmente adultos que moram com elas- fazem para torturar Beto e Heli.





Todos estão expostos à crueldade, é o que parece afirmar Escalante com certa tragédia- como na cena em que um tanque encara Heli com um policial dentro, a aleatoriedade do universo é demasiada dispersa para garantirmos que nada acontecerá conosco. A cultura do narcotráfico pode ser algo batido para a estética do cinema, mas o drama além de tudo familiar que o diretor aqui joga torna tudo tão mais próximo da gente. Como já visto em seu último filme também premiado em Cannes, Os Bastardos, a brutalidade crua tomou conta de Escalante- é triste que nós precisássemos nos deparar com tamanha selvageria para lembrar que nem um cômodo da casa é um lugar seguro.

 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

La Dispute- Rooms of the House [2014]

Era uma casa nada engraçada.

Nas pequenas cidades, os habitantes que ali residem tem que combater diariamente a carga da honra. A perseguição ocorre desde os tempos de criança, e se você, por alguma acaso, fez algo errado mesmo nos primeiros momentos de consciência como pessoa, isso irá te perseguir. Apesar de você ter mudado, apesar de você ter melhorado, parece que a poça é muito pequena para qualquer quantidade de água não transbordar. Dentre todas essas coisas da vida, provar quem você é, e porque merece ser tratado bem, exige enorme esforço. O habitante nas letras do La Dispute é essa típica pessoa, oriunda de uma pequena cidade e que ter que lidar continuamente com o problema de reputação. O que ficou claro em Somewhere at the Bottom of the River..., onde esse típico não estereotipado e demasiado real sobressaia-se na lírica e nos vocais explosivos. Já em Rooms of The House, embora a “população” ainda seja possivelmente da mesma vizinhança, há uma variação temática muito maior para o vocalista Jordan Dreye se debruçar.

A banda ficou muito mais interessante quando parou de fazer poemas demasiado românticos (o que talvez explique a baixa popularidade das letras atuais entre a galera teen). Sonoramente, Rooms of the House é uma melhora continua do que foi o Wildlife. O foco aqui são os pequenos momentos e como eles ficam documentados no narrador lírico. A banda parece afirmar que a história é uma sucessão de equívocos eternizados em nosso consciente. Se Somewhere..., continha àqueles momentos épicos, talvez até demais, Dreyer aprendeu a centralizar também em situações aparentemente mais tranquilas. Como pinturas cotidianas, reflete a construção diária fora do apenas melodramático que ele desenvolvia tão bem. Ser instrumentista no La Dispute não deve ser fácil, as letras exigem demais e sua entonação completamente não musical não alivia em nada. Mas eles não sucumbem e criam beleza a partir da progressão dos acordes entre versos calmos e partes pesadas. O vocal de Dreyer, em alguns momentos, exerce o que poderíamos chamar de cantar, é exatamente aí que a banda foca em um tema completamente cativante. Em alguns momentos, em algumas canções, Dreyer teria certamente berrado até seus pulmões, aqui não, ele opta pelo mais difícil, o que talvez cause algum estranhamento para fãs dos discos anteriores.

Em um ano que bandas emo tem optado por falar sobre “coisas pequenas” e assuntos familiares- vale lembrar o último disco do Hotelier- Dreyer demonstra que ele ainda lidera quando o assunto é a capacidade de relatar dramas domésticos. Sinceramente não entendo o problema do pessoal falando que suas canções são sempre, em última análise, austeras, defender tanto a perspectiva de como a arte deve ser exprimida e optar incessantemente por uma abordagem, sem deixar o nível cair nunca, é um baita mérito. A experiência de anos em temáticas que se aproximam (não que se repitam) deixa clara a evolução do La Dispute, álbum pós-álbum. O problema é que já existe um ferrete cravado na pele da banda, o de ter que fechar a janela e deixar tudo escuro pois haverá chumbo grosso. Essa reputação pode afastar muitos ouvintes, mas com certeza alavanca a banda que nunca olha para trás, em nome de um comprometimento com a arte sem muitas comparações por aí.

PS: Nem preciso falar que pra mim é o disco do ano, até agora.